Resumen de la Ponencia:
A pandemia de COVID-19, vivenciada pelo mundo desde 2020, acumula, no Brasil, dados preocupantes. O país registrou mais de 660 mil mortes, além de mais de 30 milhões de casos confirmados da doença. Esses números, como afirmam partidos políticos, movimentos sociais, lideranças e pesquisadores, são consequência da política adotada pelo governo brasileiro como forma de gerir a crise decorrente da pandemia. Ao analisarmos mais de perto os dados da cOVID-19 no Brasil, fica demonstrado que as desigualdades de raça, gênero e classe foram evidenciadas pela crise: negras e negros foram a maioria dentre os trabalhadores dos serviços considerados essenciais, a maioria dentre os mortos e o setor populacional com maior dificuldade de acesso a vacinas. Também foram aprofundados problemas sociais graves como o aumento da fome e da insegurança alimentar, do desemprego, do acesso pleno à saúde e à moradia. Pode-se afirmar, portanto, que as condições de vida da população negra, em especial, foram profundamente alteradas pela pandemia. Se por um lado estes dados revelam um cenário de precarização da vida, por outro, a crise serviu como catalisadora para os processos de resistência nas comunidades, universidades e redes sociais, tendo a rua como palco de reivindicações. Dentre os diversos casos de resistência ativa, destaco aqui dois processos importantes para a compreensão do ativismo negro brasileiro durante a pandemia: primeiro, os processos de resistência e mobilização de rua, em especial os protestos que ganharam força após o assassinato de João Alberto Freitas pelo segurança da rede de supermercados Carrefour, em 2020. Os protestos no Brasil entraram na rota de mobilizações globais antirracistas iniciada pela luta por justiça por George Floyd nos Estados Unidos; em segundo lugar, destaco as campanhas de solidariedade ativa coordenadas pelos movimentos sociais negros e periféricos com foco especial no combate à fome. Foram registradas inúmeras campanhas do tipo, tanto em nível local, com movimentos de bairro, associações familiares e igrejas, por exemplo, quanto em nível nacional, que é o caso particular da campanha Tem Gente com Fome!, coordenada pela Coalizão Negra por Direitos, uma frente de organizações da sociedade civil e do Movimento Negro. O conceito da dialética opressão-ativismo, trabalhado pela socióloga Patricia Hill Collins, é bastante útil para compreendermos como as condições precárias de vida da população negra no Brasil serviram de estímulo ao fortalecimento de iniciativas próprias de ativismo e resistência, a despeito da ineficácia do Estado brasileiro em garantir condições de vida adequadas para a população. Com este trabalho, busco explorar a condição negra durante a pandemia, bem como as formas de resistência que, acredito, podem ser, alinhadas com as lutas dos povos originários brasileiros, o ponto de partida para a organização da resistência antirracista mais ampla no Brasil.