Resumen de la Ponencia:
Em pesquisas realizadas nos anos 1990 junto aos quilombolas do Baixo Tocantins, região da Amazônia brasileira, no Pará, Véronique Boyer verificou que a conversão ao pentecostalismo implicava no afastamento da militância no movimento social quilombola. Três décadas depois, nas quais o percentual de quilombolas evangélicos aumentou expressivamente, o comportamento dos quilombolas pentecostais em relação à militância mudou e cada vez mais os evangélicos interagem nas arenas da militância e disputam, inclusive, o controle das associações quilombolas. Nesse cenário, venho realizando minha pesquisa de doutorado na intenção de compreender a interação de evangélicos pentecostais na arena política de quilombos amazônicos. Dentre os dados gerados até o momento, nesta comunicação reúno uma parcela relativa à Comunidade Quilombola São Pedro, no Pará, cuja maioria da população (51,1 %) integra a Igreja Assembleia de Deus, maior igreja pentecostal do Brasil. Meu objetivo é fazer uma descrição dos discursos e das práticas dos quilombolas pentecostais em uma das principais arenas de São Pedro, a saber, a Associação Quilombola. Para tanto, os métodos utilizados foram a observação participante em reuniões e pleitos eleitorais da Associação e realização de entrevistas semiestruturadas com quilombolas evangélicos e não evangélicos atuantes na associação comunitária. Verifiquei que há três eleições consecutivas os pentecostais, que são a maioria da população, se articularam com sucesso para interagir no processo eleitoral da comunidade através das “chapas da igreja”, essas chapas venceram os pleitos e vêm presidindo a associação desde o ano de 2013. As práticas dos evangélicos pentecostais, em parte, encontra a sua plausibilidade em diversos discursos e crenças religiosas acionadas e adaptadas para a disputa política e, no processo de mobilização, a igreja se torna um grande grupo político organizado que desafia certos pressupostos de laicidade dentro de instituições públicas em contexto quilombola. Por outro lado, as demandas situacionais desalinham as práticas dos discursos, e fraudes e
fake news são forjadas pelos quilombolas evangélicos que, enquanto religiosos, censuram esse tipo de conduta. O controle da associação tem um motivo práticos: as vantagens materiais, pois ao controlar essa instituição, a igreja passa a reger o gerenciamento do território, decidir como algumas políticas públicas são aplicadas e distribuídas entre os moradores, além de instituir as lideranças eclesiásticas como representantes dos quilombolas diante do Estado e organizações afins.