Resumen de la Ponencia:
Dentre o grande volume de conteúdos e repercussões após o assassinato da vereadora carioca, a
Agenda Marielle Franco (2020) desperta essa tese. É um material a indicar o “modo de fazer política” da parlamentar, bem como um guia e também um convite às candidatas a aderirem os feitos de sua breve “mandata”. O objetivo é analisar sociologicamente a existência ou não de um legado Marielle Franco no Estado do Rio de Janeiro. A partir da identificação desse “outro” modo de fazer política torna-se possível a constatação de sua oposição: uma prática hegemônica, limitada e excludente. A hipótese é de que “mulheres-políticas-negras” se opõe à conduta típica de um grupo de homens brancos, herdeiros de postos de poder desde os processos do empreendimento colonial no Brasil, ousando assim perturbar, desestabilizar, abalar, o que Maria Aparecida Silva Bento denomina de pacto narcísico (BENTO, 2002). Pretende-se dessa maneira, de um lado, apontar as violências e, de outro, as resistências. A pesquisa focaliza nas atuações de Dani Monteiro, Mônica Francisco e Renata Souza, que foram assessoras de Marielle Franco, eleitas deputadas estaduais em suas primeiras candidaturas (POSL-RJ/2018), praticamente seis meses após a execução. Marielle Franco, nascida em 27 de julho de 1979, foi assassinada em 14 de março de 2018, no centro da cidade do Rio de Janeiro. De origem da Zona Norte da capital carioca, se autodenominava “mulher, negra, mãe, filha, irmã, esposa e cria da favela da Maré”. Socióloga (PUC-Rio/2007), mestra em Administração Pública (UFF/2014), foi eleita em 2017 com 46.502 votos, sendo a quinta candidata mais votada no Estado, e a segunda mulher mais votada ao cargo de vereadora do país, em sua primeira (e única) candidatura. O crime ainda não foi solucionado. A metodologia utilizada é a Análise Crítica do Discurso (ACD) das falas registradas em plenário, disponibilizadas no
site da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), nomeados como “ordem do dia” e “discursos” (ordinários e extraordinários). Foram filtrados 70 documentos, de um total de 179, a partir da palavra-chave “Marielle Franco”, do ano de 2019, para serem analisados. Tensões sobre gênero e raça, que adentram aos cargos públicos e à política institucionalizada, são experienciadas pelas crias das favelas que, em mandato coletivo e diversificado “eu sou porque nós somos” -lema da campanha de Marielle Franco- insistem em descentralizar o poder que perpetua na Alerj, a ecoar a colonialidade na democracia atual formalizada. A base teórica-epistemológica é elaborada a partir do
lugar de fala da intelectual Djamila Ribeiro (2019), a desenvolver os lugares das falas: das mulheres-políticas-negras marcadas pela
escrevivência (EVARISTO, 2007, 2017), dos homens brancos no poder à manutenção da
branquitude (Bento, 2002), e da ciência, enquanto uma pesquisa sociológica.