Resumen de la Ponencia:
O objetivo desta comunicação é refletir sobre os agenciamentos coletivos e os processos de identificação engendrados na última década em Serra Talhada, cidade localizada na mesorregião do Sertão de Pernambuco - Brasil.O recorte dos últimos dez anos compreende desde a criação do
Cangaço Rock Fest em 2011 até a emergência de agrupamentos alicerçados em pautas notadamente progressistas, antirracistas, contra a LGBTfobia e de combate ao machismo (2015-2021). O Coletivo FUÁH, o Movimento Diverso e o Coletivo Berro
estruturaram sentimentos que, sistematicamente, passaram a reivindicar espaços de representação e reconhecimento.Essas ações coletivas regulares coincidem com o recrudescimento de projetos conservadores e autoritários no Brasil. As articulações dos coletivos surgiram como propostas de enfrentamento dessas lógicas no âmbito local e provocaram mudanças significativas nas dinâmicas socioculturais. As intervenções que apresentamos sinalizam uma estreita relação com as políticas de interiorização do ensino público superior erguidas no país a partir de meados dos anos 2000. Em 2006, a cidade inaugurou a Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE) e todos os coletivos mencionados construíram suas histórias numa imersiva interlocução com a universidade. A UAST/UFRPE foi parte do
Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), criado no governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Avaliamos, portanto, uma tessitura complexa que envolve tanto a macropolítica quanto as micropolíticas do cotidiano.Para além desta contextualização necessária, percebemos com mais rigor os agenciamentos coletivos de artes integradas na região. Eles permitiram: a criação de espaços públicos de divulgação, promoção, fomento e interação entre artistas locais; o cultivo e a valorização da criação musical alternativa local; a formação de um público e de processos de identificação; o preparo de pessoal de apoio, produtores e infraestrutura favorável à realização dos eventos; a experiência democrática e participativa de deliberação coletiva; a estruturação de um fórum permanente de debate sobre produção cultural local; debates regulares sobre questões sociais; a promoção de ações direcionadas principalmente às juventudes desses lugares.É possível notar que muitas das pessoas que conceberam inicialmente as estratégias de resistência coletivas continuam atuantes. Esse tempo longevo de trabalho provocou a recategorização do grupo, ou seja, observamos a transição para a vida adulta.A manutenção do interesse pela produção cultural implicou a profissionalização e novas formas de pensar os eventos. O “faça você mesmo” continua sendo fundamental para a realização das atividades e os agentes passaram a concorrer aos editais públicos. Essas novas empreitadas renderam o mini-documentário
Pra Derrubar a Serra (2022), dirigido por Mannoel Lima. A concepção é do
Coletivo Berro, assim como o projeto que captou os recursos da Lei Aldir Blanc no Estado. Acreditamos que o documentário é uma transfiguração criativa e polifônica daquilo que também buscamos compreender-reverberar.