Resumen de la Ponencia:
Este trabalho tem como objetivo pesquisar sobre como a subjetividade punitiva nos atravessa a todos a ponto de ainda compreendermos enquanto sociedade que o cárcere pode ser uma solução possível para os problemas cotidianos da humanidade. Scheinvar (2020) afirma que o direito como disciplina se torna importante no século XVIII, contribuindo com um pensamento penal que mais tarde foi naturalizado como algo imprescindível para a vivência em sociedade. Quando questiono a prisão, questiono a justiça criminal e também os modos subjetivos a que somos sujeitados, as práticas cotidianas que parecem não ter outra forma de funcionar a não ser pela lógica punitivo-penal. Mathiessen (2003) e Hulsman e Celis (1993), autores clássicos do abolicionismo penal já descreveram de inúmeras formas como as prisões são fétidas, inabitáveis, sem sentido utilitarista ou coerência em si mesma. Isto não é novidade, Angela Davis (2020) destacou como os cárceres fazem parte do imaginário comum de nosso tempo, visto os inúmeros filmes, seriados, documentários, estudos sobre as populações prisionais nos mais diversos lugares do planeta. Porque, então, as mantemos? Quem são os corpos que habitam os cárceres? Foucault (2020) já afirmou que as leis são feitas de uns para que outros a cumpram. E as prisões não são para todos. Hulsman e Celis (1993) ressaltam também que quando o que chamam de discurso oficial (político, jurídico, científico) faz referência ao sistema penal, é como se ele funcionasse de forma conjunta, racional e controlada, já que foi concebida pela humanidade e isso é entendido como uma característica positiva. Quando na prática o que ocorre entre polícias, parlamento, administração penitenciária e outros órgãos envolvidos no sistema é disperso e com pouco ou nenhum diálogo. Os autores propõem o fim do sistema penal e por isso buscam suas brechas, suas fragilidades. E isso não é difícil de encontrar. É como dizer que o capitalismo é o sistema que mais dá certo dentro dos sistemas de produção que já existiram até agora. A pergunta é: funciona para quem? Milhares de desempregados e mortos de fome, para dizer apenas duas características, e ainda se acredita que “funciona”. Pensando dessa forma, me pergunto para quem a prisão está funcionando e a resposta triste é que para todos nós que estamos fora dela, ela funciona. Nos alivia pensar que ela existe e que não fazemos parte dela. E para os que estão dentro, funciona com um assujeitamento mais específico, porque mais diretamente produzido no corpo, no controle do tempo, nas privações e violências que são parte intrínseca desse modo de punir. Acredito que podemos ir além como sociedade e há outras possibilidades de produção autônoma de resolução de conflitos que não seja esta colonizadora e produtora de tortura e sofrimento.