Resumen de la Ponencia:
Na contemporaneidade, uma qualificação em comum parece estar dominando os eixos da análise política que se volta para a conjuntura atual. Ocupando pontos distantes, tanto geográfica quanto ideologicamente, candidatos e governantes passaram a ser chamados de “populistas”, para caracterizar a “onda” de descrédito com relação às instituições representativas e o descompasso da política com relação às expectativas das sociedades. O objetivo deste trabalho é problematizar esse resgate do conceito de populismo e as características que ele tem assumido no contexto contemporâneo. Para isso, além de retornar à fundamentação do conceito, desde sua gênese no movimento Narodnik, daremos especial atenção à sua utilização para caracterizar a emergência de lideranças com perfis autocráticos e/ou antissistema, em meio à prática crescentemente digitalizada da política, qualificada a partir da ideia de “populismo digital”. Controverso e multifacetado, o uso do conceito de “populismo” constitui-se como um tema recorrente nas Ciências Sociais do século XX . Em toda parte, não foram poucos os esforços intelectuais que buscaram reconfigurá-lo para compreender dimensões novas da atividade política. No seu resgate contemporâneo por analistas, jornalistas, cidadãos e inclusive por políticos, a mobilização do conceito parece evocar a ideia de que determinadas ações ou discursos políticos realizados em nome do povo, em realidade, são pautados pela tentativa de conquistar a aprovação popular de forma exclusivista, direta e despida de limites racionais, institucionais ou de origem externa à sua comunidade de domínio, valendo-se dessa legitimidade soberana para ultrapassar esses constrangimentos. Por essa ótica, políticos como Jair Bolsonaro, Donald Trump, Hugo Chávez e Lula têm sido recorrentemente classificados como políticos populistas. As ações e o tipo de comunicação adotado por esses personagens evidenciariam esta conduta, especialmente por se beneficiarem do ambiente digital, no qual é possível explorar o contato mais mediada pelos
gatekeepers tradicionais do jornalismo e ocupar por outros caminhos a atenção de seguidores e eleitores. A retórica direta, emotiva, povo-centrada, performática e binarista, própria das redes sociais digitais, seria associada assim à estruturação de uma nova gramática populista. Em conjunto, a categorização paradigmática de
outsiders políticos e a ascensão da comunicação digital na cena pública, de certo modo, reforçaram a hipótese de que o populismo é uma categoria teórica válida para enquadrar os casos mencionados e outros tantos. A partir da premissa de que esta linha interpretativa não foi ainda suficientemente verificada, podendo gerar o esvaziamento simultâneo tanto do conceito quanto da análise predominante sobre os processos políticos contemporâneos, nos propomos a apresentar uma perspectiva de que o conceito de populismo pode ser muito mais controverso e equívoco do que a tipologia adotada por muitos analistas pretende afirmar.