Resumen de la Ponencia:
Diakânga Kalunga é uma expressão Bakongo que pode significar “codificado por Kalunga”. Tal sentença pode ser vista refletida em muitos aspectos da vida em uma comunidade de terreiro bantu no Brasil. Ao expressar o que seria uma agência africana produtora de sentido e significado, podemos perceber a síntese da operacionalidade do mundo na perspectiva do candomblé Angola-Congo. Codificar, amarrar, kangar faz parte da potência criadora bantu que assimila todos os elementos do mundo e os organiza de modo a possibilitar a continuidade de uma forma de ser. Ou seja, em uma perspectiva bantu, não é possível deixar de levar em consideração os fluxos étnicos, as conjunturas políticas institucionais, o racismo, as histórias das pessoas e das coisas e, sobretudo, o tempo e a espacialidade. Nossa pesquisa visa demonstrar se a codificação é o elemento vivo que impulsiona e mantém a ontologia dos povos de tradição bantu na diáspora brasileira. Aqui, não estamos a falar de um processo puramente substantivo, mas performático que põe tudo em movimento etéreo. Como se costuma dizer, a festa tem hora para começar, não para terminar. Nesse sentido, nunca ouse mandar um caboclo embora. Ou, como diz o mestre quilombola Antônio Bispo, a vida é “princípio-meio-princípio”. Tanto no dikenga diakongo (também chamado cosmograma Bakongo), quanto no kodya (ou espiral da vida), podemos notar o movimento (sempre circular) que conduz o ser bantu seja nas rodas de capoeira, nas pescarias quilombolas ou, sobretudo, na vida em uma comunidade de terreiro Angola-Congo. Seja quando se canta “canguei, ta cangado. Marrei, ta marrado”, ou quando se invoca o provérbio futu dia n’Kisi Diakânga Kalûnga mu diâmbu dia môyo o processo de criação, em uma perspectiva bantu, é sempre um entrelaçar das coisas e um transbordar as contingências aparentes. Isso não significa, de maneira nenhuma, descompromisso com determinados hábitos, ritos ou instituições.Se a forma bantu de ser é codificar a vida e as relações, trazemos a seguinte questão: quais são os elementos do código produzido pela vivência em uma tradição, mais especificamente, em uma comunidade de terreiro Angola-Congo? Ao ouvir o que meus interlocutores informaram, penso que não são apenas os elementos cosmológicos/cosmogônicos tipicamente bantu, mas todas as disposições do mundo, dispersos no passado, no presente e no porvir. Não são apenas as línguas bantu – notadamente o kimbundu e o kikongo, o culto aos nKisi, a reverência aos ancestrais e a intimidade com a natureza que compõe o candomblé Angola-Congo. Os elementos do código são representados, sobretudo, (a) na Milonga (mistura) - fruto das relações entre os grupos étnicos que vieram no tráfico transatlântico,(b) nas demandas do mundo contemporâneo, (c) na resistência histórica ao racismo religioso, (d) no apagamento epistemológico, (e) no retorno às filosofias africanas bantu.