Resumen de la Ponencia:
O presente trabalho trata de questões relacionadas aos estudos das relações raciais brasileiras e à teoria psicanalítica.
Dialogamos com temas da filosofia, história, sociologia e psicologia. Consideramos aspectos históricos da escravização e da colonização brasileira e realizamos uma análise psicanaliticamente dirigida sobre os efeitos dessa experiência. Numa perspectiva epistemológica decolonial, questiona-se o discurso social que reputa como recheio imaginário as condições materiais e subjetivas da população negra. Aponta-se a fantasia ideológica euro-centrada, como produtora deste tipo de pensamento ainda presente em setores do campo psicanalítico brasileiro que têm
olhos para ver, mas
não enxergam; têm
ouvidos para ouvir, mas se negam a escutar. O afastamento entre a psicanálise e a questão racial não é, entretanto, perene ou incontroversa. Para Gonzáles, cujo suporte epistemológico se dá a partir Psicanálise, as condições de existência material da comunidade negra remetem a condicionamentos psicológicos que têm que ser atacados e desmascarados pois o racismo constitui-se como a sintomática que caracteriza a neurose cultural brasileira. A demanda de analistas negros para analisantes negros, apressadamente acusada de identitarismo, foi historicamente construída. Os impasses desta relação entre movimento negro e instituições de psicanálise não dizem respeito a insuficiências teóricas da psicanálise, mas a equívocos políticos e institucionais do campo. Diferente das concepções históricas de caráter místico, biológico ou culturalmente evolucionista centradas na consciência, a psicanálise desde Freud e Lacan, apontam para um modo de subjetividade que se dá pela entrada do sujeito na linguagem e na cultura que o precedem e estruturam. A linguagem, para Lacan, define, por si só, a subjetividade. Retomar os aspectos históricos dos processos de segregação e racismo iniciados a partir do século XV possibilita estabelecer uma relação entre memória, história e subjetividade na constituição presente de sujeitos engendrados em uma formação social racializada. Sustenta-se, a convergência entre a epistemologia africana e a psicanálise no que estas produzem um discurso crítico à racionalidade moderna fundada por Descartes. Se para Lacan a história é o passado enquanto ele é historicizado no presente porque ele foi vivido no passado, para epistemologia africana, diferente da sociedade moderna que pretende garantir-se pelo sujeito abstrato a-histórico, o simbolismo da liturgia e dos mitos permanece como uma porta de acesso a imagens originárias e transcendentes. Para Sodré, na ritualística, que condensa a experiência histórica da comunidade negra não apresenta mera repetição, mas sim um processo de atualização da origem no tempo presente, uma mutação acelerada da história. Neste universo, não há contradição entre história e mito, trata-se de uma temporalidade onde importa muito pouco a data, muito pouco o realismo obsessivo dos fatos, e sim a narrativa de uma experiência existencial veiculada por famílias, vizinhos, conhecidos, toda a gente afim a uma comunidade.