Resumen de la Ponencia:
Propomos desenvolver uma reflexão sobre processos de humilhação social e as lutas pelo reconhecimento a partir das trajetórias de vida de mulheres em situação de pobreza no Brasil. Para tanto, estabelecemos uma interlocução entre uma sociologia da humilhação, as teorias do reconhecimento e a abordagem interseccional. Parte das construções teóricas sociológicas sobre a humilhação social apontam para este fenômeno como categoria central de análise, compreendendo-o como práticas de rebaixamento social, segregador e violador de direitos humanos básicos. As teorias do reconhecimento, em que pese sua diversidade e especificidades analíticas, proporcionam uma leitura política de efetivação da cidadania, da justiça social e dos direitos humanos, possibilitando a construção de análises sobre os processos de agenciamento, autonomia e capacidades das mulheres em situação de pobreza. Nosso percurso analítico será construído a partir da conexão entre duas pesquisas matriciais desenvolvidas no Brasil: “A humilhação como fenômeno social: bases teóricas, epistemológicas e empíricas” (FAPEMIG, 2021), em andamento, e “Gênero e Interseccionalidades na questão do desenvolvimento: os desafios do Programa Bolsa Família para a quebra do ciclo intergeracional da pobreza” (CNPq/Fundação Araucária, 2018), já concluída. As trajetórias das mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família, em sua maioria negras, conforme os dados empíricos da segunda pesquisa citada, levantados por meio de entrevistas narrativas, revelam situações de humilhação social a partir de discriminações de gênero, de raça e de classe. São episódios de racismo, de violência, de sofrimentos e silenciamentos sofridos, mas ao mesmo tempo essas mulheres deixam transparecer suas lutas pelo reconhecimento e autonomia por meio de estratégias de agenciamentos e atuações. Abordaremos, por fim, o cenário de extinção do Programa Bolsa Família (PBF), considerado o principal programa social do Brasil, com a transição Presidencial a partir de 2019 e o contexto da Pandemia do Coronavírus, a partir de 2020. Temos por finalidade, neste sentido, de levantar algumas questões sobre os impactos do fim do PBF para as famílias em situação de vulnerabilidade.