Resumen de la Ponencia:
A pandemia do Covid-19 provocou mudanças no funcionamento dos sistemas educacionais e, mais especificamente, na vida pessoal e profissional dos docentes. Assim, o objetivo deste trabalho foi identificar e compreender os efeitos da pandemia em suas condições de vida e de docência. Nosso intento foi delinear o significado da pandemia na racionalidade docente, em sua subjetividade, como recebeu os desafios e os obstáculos colocados a seu trabalho, o que mudou (ou não) em suas práticas, seus sentimentos, suas frustrações, suas conquistas, suas interpretações sobre a situação dos estudantes e suas famílias. Como um estudo de caso, esta pesquisa foi desenvolvida em uma escola municipal localizada em bairro popular da cidade de Alvorada, periferia da grande Porto Alegre/RS. Para a captura das reações das docentes aos imperativos da pandemia utilizou-se de análise documental (planos de aula, informativos da escola e orientações da Secretaria de Educação), questionário, entrevistas e conversas informais. Para efeito da análise recorre-se ao conceito de experiência e de linguagem da experiência. Nos termos colocados por Jorge Larrosa (2019), a experiência é o que se sofre, é como reagimos ao que somos expostos. Sua linguagem, em resultado, é o que figura, paradoxalmente, no que ainda não foi dito, lido ou escrito, é o que reside na busca que se faz para compreender o que nos afetou, de conferir sentido (ou não) ao que nos sucede. Com efeito, métodos humanistas e princípios democráticos, tanto quanto as condições ambientais, possibilitam melhor qualidade da experiência e incidem sobre a qualidade das experiências que virão (DEWEY, 2010). Para François Dubet, (1994) a noção de experiência evoca situações e interações que possibilitam nutrir a experiência com maior ou menor sentido educativo. Assim, na tensão entre currículo escolar e experiência social dos atores, destaca-se o conteúdo das palavras faladas, o tom de voz e os silêncios, as relações de poder, as imposições normativas, o perfil dos atores (notadamente a qualidade dos saberes docentes), bem como os materiais e os recursos (internet, celulares, computadores, livros, brinquedos, jogos) à disposição. Os resultados indicam que o ensino remoto revelou um maior diálogo entre pais e professoras, e destas entre si suprindo, pontualmente, necessidades de formação profissional e experiência democrática. No que toca ao trabalho docente, expôs também carências de formação, intensificação e sobrecarga de trabalho docente, bem como a diminuição de seu tempo livre. As professoras se viram obrigadas a realizar uma adaptação brusca ao novo contexto que, na maioria das vezes, implicou em comprometimento da saúde física e mental das mesmas.