Resumen de la Ponencia:
A proposta do artigo é refletir sobre o papel político da comunicação de massa na atual configuração pós-democrática. No ideário liberal, a mídia em geral e a imprensa em particular deveriam garantir a efetivação dos ideais democráticos, por meio do fornecimento de informações verídicas sobre os acontecimentos da vida pública, para que os cidadãos exercessem seus direitos com plena consciência. Porém, examinado à luz dos acontecimentos políticos recentes do país, as instituições midiáticas de fato funcionaram com o intuito de promover a derrocada da democracia brasileira. O entendimento dos processos que permitiram a mudança de regime em curso deve considerar o papel fundamental desempenhado pelas instituições da democracia liberal e o protagonismo da grande imprensa (aliada ao poder judiciário) na promoção e sustentação do novo regime. O artigo parte de um exame crítico de quatro termos que têm sido utilizados nas tentativas de caracterização do atual cenário político: neofascismo, neoliberalismo, neoconservadorismo e neocolonialismo; e propõe também uma discussão sobre os neologismos
pós-democracia,
pós-verdade e
fake news. A discussão sobre as noções de
pós-verdade e
fake news emerge em um contexto que se caracteriza pelo declínio dos padrões de cobertura do jornalismo profissional, pela perda do controle da narrativa sobre os acontecimentos da vida pública diante da emergência da internet - que possibilitou a produção e circulação de interpretações alternativas dos eventos - pela ausência de marcos regulatórios ou qualquer forma de controle social das grandes plataformas ou da grande imprensa, e pela alta concentração da propriedade dos meios tradicionais. As agências brasileiras de checagem de informações falsas são dedicadas principalmente a verificar falas de políticos e de personalidades públicas, mas não costumam checar a veracidade de informações veiculadas na imprensa corporativa. Diante deste cenário, o intuito é analisar a disseminação de informações falsas na narrativa noticiosa da grande imprensa, tendo como exemplo a conspiração midiático-judicial conhecida como
Operação Lavajato. A ideia é entender como instituições basilares da democracia liberal conspiraram pelo seu fim. A análise se concentra na configuração narrativa da
Operação Lavajato na cobertura da imprensa tradicional, em confronto com as informações reveladas pela série de reportagens
Vazajato (Intercept Brasil) e pela chamada
Operação Spoofing. O objetivo é avaliar a capacidade explicativa das noções hegemônicas de democracia sobre o papel político dos meios de comunicação, diante das questões colocadas pela ruptura institucional no ordenamento democrático em 2016, e o aprofundamento do regime de exceção na eleição fraudada de 2018. O debate será desenvolvido por meio de um exame crítico de algumas correntes da teoria política (e da teoria da comunicação) que têm contribuído para fundamentar diferentes compreensões de democracia, de pesquisas sobre mídia e política no Brasil, bem como das discussões recentes sobre
lawfare como ferramenta de guerra híbrida.