Resumen de la Ponencia:
O texto propõe algumas reflexões sobre o lugar da cidade na produção da vida social, tomando o sofrimento como fenômeno urbano de contraponto a esse processo. O sofrimento é, à primeira vista, a percepção humana da dor, mas pode ser compreendido também, como um instrumento social de poder, assimilado pelas esferas de ação política, cuja intervenção institucionalizada atua atribuindo à experiência de sofrimento uma "finalidade pedagógica" na experiência coletiva. Alia-se a isso, a existência de regimes de desumanização, sobretudo, em cidades latinoamericanas, por meio da divisão social como projeto de sociedade e, com isso, pela definição dos corpos extermináveis na cidade, como também, da sujeição social de indivíduos, tomados como sujeitos destituídos de narrativa, história e lugar. Em geral, esse processo é atravessado por questões de gênero, raça e classe, sendo estes, grupos fadados a se constituir como um problema público a ser combatido. Portanto, a lógica urbana de governabilidade, pautada num padrão de mal estar, esclarece não apenas a tradição de perpetuação do latifúndio escravista, no caso brasileiro, mas também, elucida outros esforços de modelos neoliberais de gestão pública que comunicam o mal estar na cidade, como um problema inerente à conquista da integração social. Nesse sentido, o argumento assumido neste texto é de que a finalidade pedagógica do sofrimento no espaço público, fruto do processo de urbanização colonial portuguesa e espanhola na América Latina, tende a afetar a constituição de novas urbanidades. Ora, considerando a urbanidade como o processo comunicativo entre espacialidade e sociabilidade, enquanto tecido material de experiência comum e, portanto, de coexistência na diferença, a segregação, por outro lado, impede que o impulso à diferenciação dos indivíduos se produza na afirmação das diferenças, continuamente em transformação. Assim, o aparato urbano e o estoque de edificações de uma cidade representam um importante indicador de permeabilidade das interações sociais, podendo a cidade ser o elemento material facilitador da manutenção de práticas sociais de "ser-com-outro". Ora, se o espaço se constitui, então, para além da superfície, trata-se de concebê-lo com um encontro entre histórias, de modo coetâneo, ou ainda, a admissão de que há uma multiplicidade de trajetórias (não restrita a uma cosmologia) e, por fim, a necessidade de repensar o padrão arraigado sobre distinção entre lugar e espaço, ou seja, entre o concreto vivido (geografia) e o externo abstrato (história), respectivamente. Lugar, Espaço, Cidade, Urbe, Urbanidade(s). Dentre diferentes prismas e acepções materiais do social, o que se coloca como fundamental é: as cidades admitem a efervescência de novas urbanidades e, sobretudo, num contexto pós-pandêmico, acolhe a disposição de reapropriação de ruas, calçadas, praças, botecos, shoppings, igrejas, como contraposição à lógica urbana estruturada na violência. É preciso, pois, discutir o acolhimento de pessoas pela cidade como cultura urbana efervescente.