Resumen de la Ponencia:
Tratamos, neste estudo, do problema da naturalização da técnica e da patologização do sensível, a partir da radicalidade da experiência do nascer humano, para pensar, em última instância, a experiência humana – os sentidos do ser – no mundo organizado. Desenhamos, sob a luz da Fenomenologia da Percepção, nossa argumentação subsidiada pela análise de 144 relatos maternos do nascimento humano em suas múltiplas formas contemporâneas – do procedimento cirúrgico-hospitalar ao evento natural-domiciliar. Trata-se de um processo de força estruturante produtor de um universo (não de mundo) sob referência de uma forma (não da figura), configurada por princípios tecnocráticos de produção e consumo da existência, que prescreve a seres-entes uma condição restrita de existência sistematicamente ordenada. Redefinindo aspectos menos desejáveis da condição humana ao apartar/libertar o sujeito do corpo próprio, condenado pela precariedade da carne – viciosa, indigna, profana, maculada, frágil, falha, rudimentar, limitada e perecível – ao conferir permanência, precisão, controle e previsão, a técnica impõe ordem ao caos (e risco) sensível. Em outros termos: a
techne serve à contenção da revelação da
physis. É justamente, no entanto, o processo de
poíesis fundado na
physis capaz de impor limites à técnica que interpela a realidade e invoca o esquecimento do homem de seu próprio enraizamento no mundo. Se a técnica submete o curso da história à ordem (usura, disciplina, gerenciamento), superpõe-se por contra-presenças e impera sobre o componente poético/criativo, a
physis a subverte. O sensível “reanima” o ser, devolve humanidade ao homem. A
physis interpela-nos na origem e em totalidade sob uma presença que cria e revela o mundo e o homem. Por meio dos sentidos (sensível), o ser mundaniza e alcança o sentido (significação) da existência. Ocupamo-nos em evidenciar a passagem ou subordinação da
physis à
techne – do orgânico à organização, logos à lógica, da arte ao artifício, (auto)criação ao fabricável – para acusarmos o encobrimento do solo sensível por sobreposição de camadas técnicas na ânsia de ascensão de degraus “civilizatórios”. Buscamos na experiência primeira do homem no mundo e na fenomenologia o caminho necessário de descida à existência e seus sentidos no contexto contemporâneo. Contexto este, que institucionalizou o modelo biomédico, interventor e iatrogênico, pelo processo de mercantilização, e transformou o nascimento humano: atribuiu-lhe utilidade, impôs-lhe eficiência, agregou-lhe valor (não moral). Transmutou o processo fisiológico (íntimo, afetivo) em procedimento técnico, mapeado em entradas e saídas, e cujo corpo materno figurou paciente (passiva e disfuncional) – objeto processado em maca, transportado em rodinhas, coberto uniformemente, vendado e sedado. Na esteira da hegemonia tecnocrata mítica (contrariando evidências científicas de assistência à saúde), naturalizou-se o não-sentir, formou-se um novo (parto) normal – uma fôrma de nascer: presságio e consequência de uma forma de existência.