Resumen de la Ponencia:
Estudos acerca da transição para a vida adulta vêm recebendo maior atenção desde os anos 1970, sobretudo diante do adiamento do
status de adulto percebido nas juventudes de diversos países e das mudanças estruturais que ocorreram na sociedade e nas formas de ser jovem. Considerando aspectos biopsicossociais que envolvem critérios socialmente construídos, para além dos biológicos, destaca-se a relevância de considerar os jovens em suas interseccionalidades e possíveis implicações destas nas experiências e transições juvenis. Assim, o objetivo deste estudo consistiu em analisar as percepções de jovens egressos de um Programa de Aprendizagem Profissional brasileiro (política pública inclusiva) sobre suas transições para a vida adulta. Para tal, foi realizada uma pesquisa qualitativa descritiva, por meio de 26 entrevistas, cujos dados foram submetidos à análise de conteúdo temática. Foram abordados jovens de diferentes regiões do Brasil, egressos de um programa de aprendizagem intermediado por uma instituição socioeducativa. Tais jovens encontram-se em situação de vulnerabilidade social, compondo um grupo que tende a ser mais frontalmente atingido pelos efeitos da desigualdade e das relações laborais precárias e instáveis que se tornaram comuns na atualidade. Com idades entre 19 e 27 anos, a maioria dos entrevistados se identifica com pensamentos e ações tipificadas como de um adulto. As vivências laborais foram citadas como determinantes para a percepção que possuem de si mesmos, de forma que o trabalho constitui aspecto fundamental e forma uma base sobre a qual as transições são construídas. Destaca-se que a visão do que é ser jovem e ser adulto transcende critérios biológicos e etários e vincula-se, especialmente, às responsabilidades, ao trabalho e à percepção de independência. Os relatos dos jovens indicaram, de forma geral, a percepção de uma transição processual, desvinculada de marcadores específicos que possam ser generalizados, apontando a independência financeira como um dos principais eixos associados à adultez. A concepção de adulto se encontra intimamente ligada ao papel de provedor, aquele que é capaz de se sustentar e sustentar seus familiares, sonhando com condições que possibilitem um futuro melhor em relação àquele vivenciado no contexto familiar. Ademais, para alguns dos entrevistados, a vida adulta foi alcançada mediante um processo de transição associado à gradual assunção de responsabilidades; para outros, a juventude nem mesmo ocorreu, frente a um processo de adultização precoce, que restringe a possibilidade de adiar certas responsabilidades da vida adulta e reflete a influência de marcadores de diferença, como a classe social e a cor de pele. Diante dos resultados, ousa-se afirmar que a transição para a vida adulta é um processo no qual não cabe usar como referência fronteiras, marcos ou eventos generalizáveis de um sequenciamento de etapas, e sim lançar luz às trajetórias juvenis, que seguem itinerários, ritmos e movimentos particulares.