Resumen de la Ponencia:
Um dos aspectos centrais da revolução digital em curso é a conversão de inúmeros fenômenos do dia a dia à linguagem binária, de 0 e 1, dos computadores, que com isso ganham um poder analítico e preditivo colossal, capaz de apreender padrões e relações entre as coisas do mundo que por vezes se mostram estranhos ao senso comum. Na nova ambientação cultural que surge desse processo, não só a cadência da mudança de nossos hábitos se subordina à dinâmica da inovação digital, como também, a partir do embaralhamento das esferas do trabalho e do tempo livre, nossos hábitos e comportamentos cotidianos passam a operar, em seus arranjos técnicos, financeiros, operacionais e legais, dentro de um universo digital hierarquizado, dominado por um conjunto de atores técnicos que não conhecemos e cuja lógica de funcionamento nos é opaca, com consequências para nossa subjetividade que mal começamos a tomar consciência. Atualmente, quando a infraestrutura desse ecossistema digital é dominada e operada pelas grandes
big techs (Google, Amazon, Facebook, entre outras), cujos principais ativos são os dados fornecidos pelos usuários, identifica-se uma revolução nas estratégias de marketing. Aliando computação avançada e Big Data com os conhecimentos da
behavioral economics e das ciências cognitivo-comportamentais, essas empresas conseguem, através de suas técnicas de gestão algorítmica, não só produzir conhecimento valioso sobre nós, mas também transformar quem somos, incidindo sobre nossa personalidade. Ao moldar nosso comportamento, esses dispositivos algorítmicos se convertem em verdadeiros mecanismos de vício, que se associam às patologias psíquicas típicas do período neoliberal, como o cansaço, a síndrome de
burnout, etc. O objetivo dessa apresentação é refletir sobre o tema da repressão política nesse contexto em que cultura, economia e técnica se entrecruzam. Um desdobramento da datificação
da sociedade e da cultura digital que a acompanha é que governos e corporações estão ficando muito mais poderosos do que nós, colocando em risco os princípios que balizam as democracias liberais na América Latina e no mundo. Utilizando as aplicações de inteligência artificial, eles conseguirão criar sistemas de vigilância muito mais eficazes, tornando mais difusas e imperceptíveis suas formas de repressão e dominação. Assim, qual é a consequência disso para nossas sociedades? Será que mecanismos legais de limitação e transparência serão capazes de produzir uma guinada das plataformas em direção à democracia, tendo em vista que o modelo de vigilância e extração de dados é o núcleo e razão de ser de seus negócios?