Resumen de la Ponencia:
Essa apresentação traz reflexões sobre a pandemia analisando-a como fenômeno coerente com um contexto de desfronteirização e enredamentos entre humanos e não humanos e o cuidado ampliado. Partindo das contribuições de Bruno Latour é profícuo considerar sua visão de ambiente e as relações em fluxo e em rede para compreender a emergência, a difusão/disseminação, a persistência (cronificada) e os enfrentamentos à pandemia da Covid-19 na qual interagem elementos heterogêneos (vírus, tecnologias, pessoas, instituições, instrumentos, insumos, produtos, políticas etc.), isto é, humanos e não-humanos conectados, em contínua mobilidade performando a realidade e tensionando supostas fronteiras do comum/singular com Walter Mignolo. Defende-se, assim, o cuidado democrático não relegado ao âmbito privado, mas assumido coletivamente que requer co-esponsabilidade pelo Estado-mercado-família-comunidade. A emergência sanitária do novo coronavirus com a Covid-19 transformada em pandemia foi possível num mundo de circulações transfronteiriças de humanos e não humanos (mercadorias, tecnologias, serviços, pessoas, informações e vírus). Sua disseminação rápida foi possível neste mundo veloz, globalizado em que a Web 2.0 (ambos operadores sem fronteiras) possibilitou circularem, também, rapidamente verdades com lastro real, material ou emotivo podendo originar as
fake news e desdobramentos – viabilizado pelas tecnologias e hiperconectividade. No ambiente latourniano estes elementos integram-se em redes sociotécnicas complexas, ao mesmo tempo, técnicas, semióticas e sociais; econômicas, políticas; científicas, tecnológicas e naturais. Contudo, as conexões que se dão nas redes sociotécnicas são híbridas, virtualizadas, sendo necessários olhares e saberes trans e interespistêmicos, desfronteirizados (ou nas fronteiras, se é que existem), não reducionistas para compreender e agir no cuidado diante do quadro complexo, com rupturas, continuidades e descontinuidades (nem tudo é inovação, novidade). A ciência contribui e como produto humano não tem valor absoluto, sendo atravessada pelos elementos políticos (não humanos) tendo que conviver com a pseudociência e a anticiência no campo minado de conflitos e contradições próprio do seu fazer. E o olhar abrangente em rede permite entendemos a cronicidade da Covid-19 no coletivo e não individualizadamente, ou seja, embora com ciclo curto e agudização nos indivíduos, coletivamente/na população ela perdura, é de longa duração, se cronifica, é pandemia e mesmo como endemia, surto e qualquer que seja sua abrangência, iremos coexistir com o vírus (e outros mais que virão). Importante aqui não incorrer no universal do coletivo, haja vista as diferentes condições de vida e trabalho dos diferentes grupos sociais que singularizam e intermediam a experiência protegendo ou expondo mais ou menos ao vírus e às suas consequências. Conclui-se que o enredamento dos elementos humanos e não humanos ganharam relevo pela pandemia do novo coronavírus em que vírus, humanos, tecnologias, política e ciência mostraram sua indissociabilidade e, da mesma forma, o cuidado ético e democrático (técnico, ético, político) diante dela requer olhares, pensares e fazeres ampliados inter e transfronteiriços.