Resumen de la Ponencia:
Os esquemas de seguridade social dos países da América Latina, embora incompletos, têm passado por diversas transformações importantes desde o final do século XX. A literatura crítica tem enfatizado o caráter neoliberal dessas mudanças, em que se individualiza crescentemente o risco e se mercantiliza serviços públicos como de previdência e saúde. Nesse artigo, argumentamos que, ao lado da cosmovisão e das políticas econômicas neoliberais, é necessário conceber a
financeirização da economia como categoria analítica para compreender as transformações da proteção social. Assim, o artigo pretende contribuir para o campo de estudo oferecendo um marco teórico e interpretativo da relação entre financeirização e proteção social na periferia do capitalismo contemporâneo considerando, por um lado, a manifestação da financeirização em economias periféricas, apreendida pela noção de
financeirização subordinada e, por outro, a relação entre financeirização e neoliberalismo em três instâncias interconectadas: Estado, empresas e indivíduo. Propomos que a financeirização representa, para o capital, a “realização de seu conceito”, em que os setores mais avançados na acumulação se encontram no estágio mais maduro do ponto de vista do controle da propriedade, da alocação da riqueza e da apropriação do valor. Esse processo de financeirização guarda uma relação simbiótica com a cosmovisão neoliberal, o que implica perceber o movimento das “finanças” em desmontar os esquemas de proteção social do Estado para reconstruí-los à sua imagem e semelhança. Assim, destacamos que a mercantilização da proteção social no capitalismo financeirizado se dá pelos parâmetros do capital financeiro (a lógica financeira-neoliberal), tendo o
mercado e suas institucionalidades como espaço de veridição que se colocam na posição de validar a forma em que deve ser reconfigurado o Estado e a proteção social. A literatura que trata de financeirização subordinada, por sua vez, argumenta que a financeirização na periferia do capitalismo, como é o caso da América Latina, não se trata de um fenômeno incompleto ou um epifenômeno em relação ao que ocorre em países centrais. Ao contrário, ela deve ser entendida em seu caráter
funcional em relação à financeirização dos países centrais, o que lhe confere uma posição subordinada no sistema monetário e financeiro internacional. Essa posição traz restrições para a capacidade de realização de políticas econômicas e da própria gestão dos Estados nacionais periféricos, com implicações, entre outras áreas, na seguridade social. Portanto, a articulação entre a
dupla manifestação da financeirização na periferia – no sentido mais geral da acumulação do capital e em seu caráter subordinado – e a cosmovisão neoliberal pode oferecer, argumentamos, um marco teórico interpretativo relevante das reconfigurações da proteção social na América Latina e do avanço das formas mercantilizadas-financeirizadas de oferta de serviços de previdência, saúde e educação, por exemplo.