Resumen de la Ponencia:
A fome é uma deficiência nutricional individual causada, principalmente, pela condição de desigualdade social extrema. A fome é, em grande parte, consequência de um processo histórico de colonização que insiste em se conservar (CASTRO, 1984). No Brasil, essa condição atinge atualmente cerca de 19 milhões de pessoas (Rede Penssa, 2021).Em 2014, depois de deixar de integrar o Mapa da Fome-FAO- pela primeira vez na história (MDS, 2010), escolhas políticas e econômicas do Governo Bolsonaro levaram o país a retornar ao estado de insegurança alimentar, condição que já tinge 55,2% dos brasileiros. Só no estado de Alagoas, 60,8% da população está em situação de carestia. Nesse contexto, o Movimento Sem Terra (MST) reassume o protagonismo da luta popular em favor da alimentação digna. Desde a sua fundação, em 1984, são objetivos do MST: o acesso democrático à terra e aos bens da natureza e a prática da agroecologia como modo de produção agrícola. Trata-se de uma articulação social e política, que se contrapõe às questões estruturais da realidade brasileira, caracterizadas pelo modo de produção, exploração e concentração de terra e renda, e assentadas nas relações de dominação de classe, raça e gênero. O projeto “Marmitas Solidárias” é uma iniciativa do MST que objetiva o preparo de refeições e a distribuição à população em situação de vulnerabilidade. Ao todo, o programa alcança 221.869 brasileiros(as) em diversas capitais brasileiras. Em 2021, o coletivo “Marmitas Solidárias da Terra”, em cooperação com o “Congresso do Povo”, brigada urbana do MST, iniciou as atividades de preparo e distribuição das refeições na cidade de Maceió. Os colaboradores do coletivo além de preparem as refeições, com produtos provenientes dos assentamentos (98) e acampamentos do MST em Alagoas, também distribuem os preparados no Centro da cidade, área mais atingida pelo descaso do Poder Público. São cerca de 100 marmitas entregues periodicamente à população local.Esse ensaio tem como objetivo descrever a prática do Coletivo Marmitas Solidárias/MST em Alagoas, caracterizada pela defesa da melhoria das condições materiais de vida, enquanto acesso à alimentação digna, abrangendo vertente da chamada “luta [de classes] socioambiental”, desde a perspectiva do ecologismo popular (ALIER, 2007; ALIMONDA, 2018). Essa abordagem também pressupõe os estudos de PRADO JÚNIOR (2000) e FERNDANDES (2008) sobre a condição de profunda desigualdade na estrutura fundiária brasileira e sua relação com a acumulação originária do capital.Para tanto, utilizou-se a metodologia dos “sentidos da colonização” (PRADO JÚNIOR, 2000) junto à prática da “ação coletiva”, a partir do método quantitativo: no acompanhamento da realização das atividades na sede do Coletivo, e do método qualitativo: nos diálogos formais e informais, colhidos por entrevistas semiestruturadas com integrantes e colaboradores do Movimento.