Resumen de la Ponencia:
O desastre ocasionado pelo rompimento de uma barragem das mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton em Minas Gerais, que afetou toda a bacia do Rio Doce, expandiu a presença da mineração para territórios que não se percebiam inseridos na área de influência destes empreendimentos. Neste contexto, atores muito diversos se viram, inesperadamente, na condição de atingidos e participam da construção de enquadramentos e narrativas para dar respostas sobre 'o que é isso que está acontecendo aqui', parafraseando a definição sintetizada por Goffman (1986) para o ato de enquadrar e para a definição da situação. As primeiras notícias sobre o caso, e as reações delas advindas, se inserem nas muitas disputas discursivas e argumentativas que vieram a seguir: não foi acidente, foi crime; o rio está morto; quanto vale o rio, quanto vale a vida, quanto vale a Vale? Novas e velhas palavras de ordem passaram a compor repertórios e performances, por meio de interações diretas e indiretas entre movimentos sociais que já tinham como foco os problemas da mineração e estes novos atores, agora afetados em seus modos de vida. A partir da perspectiva do interacionismo simbólico (BLUMER, 1984) proponho apresentar os enquadramentos construídos sobre o desastre e sobre a mineração, em relação às questões socioambientais envolvidas neste processo. Serão analisadas narrativas e imagens em vídeo coletadas pela autora desta pesquisa na comunidade de Regência, na foz do Rio Doce, na semana em que os rejeitos deste desastre chegaram ao mar, e também vídeos produzidos pelos movimentos sociais de enfrentamento e resistência à mineração. Em Regência, a comunidade, em passeata em direção ao rio, mistura palavras de ordem que já animam as performances de protesto com histórias locais, em seguida rezam pela morte do rio e das andorinhas. No final do dia, a Banda de Congo, forte componente da cultura local, entoa um novo verso criado para a ocasião: "Tô vendo o que eu não queria ver, com essa água amarela, não temos peixe pra comer"; e terminam gritando: "Queremos a vida no rio!". Os movimentos sociais, que interagem com estes e outros atores que se manifestam ao longo do rio, trazem um histórico de enfrentamento e problematização da atividade mineradora. De um modo geral, estas organizações sociais não têm as questões ambientais como pauta central, mas o tema em si os coloca diante diante dos danos ambientais e esta temática faz parte da agenda dos movimentos. Ao olhar a configuração destes problemas e a reação social aos desastre da mineração, é possível perceber fortes características do 'ecologismo dos pobres', conceituado por Martinez Alier (2005;2011) e do giro ecoterritorial, teorizado por Svampa (2012; 2016). A partir destes referenciais, proponho explorar características, conexões de sentido e intertextualidades presentes no material analisado.