Resumen de la Ponencia:
Entre 1930 e 1980, a economia brasileira foi conduzida por um modelo sócio-econômico tradicionalmente denominado de desenvolvimentismo. A lógica central deste modelo foi a destacada liderança do Estado nacional nos processos agregados de acumulação de capital ou, mais precisamente, no papel desempenhado pela atuação estatal na criação de um ambiente macroeconômico favorável a investimentos do setor privado orientados para a industrialização, o crescimento acelerado e a modernização tecnológica.A partir de 1980, com a consolidação de um novo padrão monetário e financeiro internacional e com a consequente ascensão das políticas neoliberais, o modelo desenvolvimentista brasileiro vivenciou um longo desmonte, com a ascensão de um modelo liberal-periférico.No governo Lula, em 2003, o fundamental da política macroeconômica neoliberal foi mantido, tendo por contraposição a política de aumento sistemático do salário mínimo real e maiores investimentos em políticas sociais. As circunstâncias internacionais permitiram que esta contradição programática não se destacasse, e o segundo governo Lula pudesse ser concluído com relativo êxito, sobretudo em função da redução dos índices de desemprego e da tendência geral de aumento dos salários. Tais contradições se fortalecem com os governos de Dilma, e o quadro geral é transformado em 2016.O propósito do artigo é investigar transformações estruturais profundas (“placas tectônicas” do modelo sócio-econômico) decorrentes deste processo histórico. De uma ampla gama de processos sociais, políticos e econômicos, busca-se investigar especificamente o papel da financeirização, da desnacionalização da economia, da desindustrialização, da reprimarização comercial e do aumento da desigualdade social na construção deste modelo liberal-periférico e de suas principais consequências, em especial, da ascensão do pensamento político fascista.Partindo das considerações de Kalecki sobre “os aspectos políticos do pleno emprego” e a associação que autores brasileiros fazem desta perspectiva com o Impeachment de Dilma, acata-se a ideia central de que a classe capitalista reagiu ao fortalecimento do poder de barganha da classe trabalhadora, mas se acrescenta outra dimensão, mais complexa e menos aparente, que é o conflito não em torno dos salários, mas sim em torno do conjunto do modelo sócio-econômico. Explora-se aqui a ideia que a compreensão que sob o modelo liberal-periférico não é viável o aumento de salários e de direitos coloca-se enquanto risco histórico, para a classe capitalista, ameaçando com a ascensão do apoio a um modelo sócio-econômico alternativo ao modelo vigente. Para explorar esta ideia, busca-se no artigo explorar as contribuições de Ellen Wood, em sua obra “O Império do Capital”, e as polêmicas históricas sobre a natureza da classe capitalista brasileira, em especial, resgatando considerações de Octávio Ianni e de Caio Prado Júnior sobre o tema. O Impeachment de Dilma e a eleição de Bolsonaro, portanto, corresponderiam também a uma estratégia preventiva de defesa do modelo vigente de capitalismo brasileiro.