Resumen de la Ponencia:
O cenário atual do Brasil (e não só), tem sido marcado por um movimento reacionário que utiliza a alcunha “ideologia de gênero” para atacar os Estudos de Gênero e as conquistas dos movimentos feministas e LGBTQI+ (Alinne Bonneti, 2016). Neste cenário, reforçar a cientificidade das nossas pesquisas, em perspectiva internacional, é uma forma de nos fortalecer dentro e fora das universidades. (Re)pensando a Ciência Feminista, voltei a questionar sobre os avanços metodológicos dos Estudos de Gênero – ou a insuficiência deles. Essa questão me preocupa desde minha Tese de Doutorado (Mariana Gomes, 2013). A partir da minha própria experiência, de meu Conhecimento Situado (Donna Haraway, 1995), tenho percebido que somos conduzidas para escolher metodologias que se encaixem nas áreas disciplinares. A partir desta percepção, elaborei um Projeto de Pesquisa que contou com um grupo de oito alunas (bolsistas e voluntárias), para que pudéssemos investigar esta hipótese de que as metodologias utilizadas nas principais revistas dos Estudos de Gênero seguem padrões disciplinares, advindos da ciência eurocêntrica e patriarcal, que dividem as pesquisas em estrutura
versus sujeito. Durante o ano de 2018, realizamos um estudo bibliométrico sobre as metodologias utilizadas por artigos publicados nos principais periódicos dos Estudos de Gênero, do Brasil, da América Latina e do mundo, entre os anos de 2014 a 2018 (Estudos Feministas, Cadernos Pagu, Gender Society, International Feminist Journal of Politics, Politics & Gender, e Gender, Place, and Culture). Na Revista Cadernos Pagu, 43% dos artigos utilizam métodos com foco estrutural, 42% dos artigos utilizam métodos com foco subjetivo, 10% são artigos bibliográficos e, apenas, 5% utilizam métodos mistos. Na Revista Estudos Feministas 45% dos artigos utilizam métodos com foco estrutural, 34% dos artigos utilizam métodos com foco subjetivo, 16% são artigos bibliográficos e, apenas, 5% utilizam métodos mistos. As revistas internacionais analisadas (Gender Society, International Feminist Journal of Politics, Politics & Gender, e Gender, Place, and Culture) seguem o mesmo padrão. Os dados ainda estão sendo analisados e pretendo discuti-los no Congresso da ALAS. A princípio, nossa hipótese está sendo confirmada. Ou seja, desde a publicação "Le Deuxième Sexe" (1949), de Simone de Beauvoir, iniciou-se o reconhecimento dos estudos de ciências sociais sobre “ser mulher” nas universidades; o artigo “Gênero: uma categoria útil de análise histórica” (1986), de Joan Scott, os consolidou; a publicação "Mulheres, Raça e Classe" (1982), de Angela Davis, trouxe a discussão da sobreposição entre raça, classe e gênero; hoje, alcançamos uma pluralidade de feminismos e conquistamos representação em universidades, eventos e periódicos; no entanto, a prática de pesquisa continua, em grande parte, focada em metodologias tradicionais, com origem na ciência eurocêntrica e patriarcal, submetidas às áreas disciplinares.