Resumen de la Ponencia:
No Brasil, o impacto do intenso movimento, impresso pelo capital consubstanciado na reestruturação produtiva, foi sendo sentido com mais força a partir da década de 1990, momento em que as políticas neoliberais avançaram sob forte pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD), através de um amplo programa de abertura, liberalização e internacionalização da economia, levando o governo brasileiro “(...) a adotar medidas restritivas que submetiam o Estado nacional aos ditames do capital estrangeiro. Esse movimento foi intensificado nos governos subsequentes” (DIAS, 2010, p. 23-24). No bojo desse movimento do capitalismo, as mulheres, impulsionadas por necessidades econômicas e pessoais, viram-se obrigadas a adaptar-se ao mercado de trabalho emergente, num primeiro momento com intuito de complementar a renda familiar. A produção flexível acabou reforçando a noção de "complementaridade da renda familiar" por parte das mulheres, pois a exploração de trabalho feminino no contexto da acumulação flexível reforçou as contradições das relações de gênero (relações sociais de sexo). A divisão sexual do trabalho passou a se expressar de diferentes formas no contexto da reestruturação produtiva, e a exploração da força de trabalho das mulheres ganhou amplitude. A venda da força de trabalho tomou proporções de fragilidade e instabilidade. Fora isso, evidenciou-se no contexto da acumulação flexível o retorno do trabalho doméstico desenvolvido em outros padrões de produção (para reprodução da força de trabalho e do capital). Só que esse retorno ocorreu de forma ainda mais contundente, para benefício do mercado e do capital. As mulheres passaram para a condição de terceirizadas, substituindo trabalhadores homens, que seriam menos facilmente demissíveis. O retorno da força de trabalho feminino aos sistemas de trabalho doméstico aconteceu ao mesmo tempo em que o capital multinacional foi expandindo suas fronteiras e ocupando espaços antes não explorados, o que facilitou ainda mais a exploração dessa força de trabalho, com o acréscimo da vulnerabilidade de condições que se avolumaram. Hirata (2012) pondera que é difícil explicar a flexibilidade de mão de obra somente pelos mecanismos do mercado de trabalho, sem incluir a dimensão familiar, e, ao mesmo tempo, a lógica do salário complementar, bem como a "preeminência da condição de mães de família sobre a condição de trabalhadoras" (HIRATA, 2012, p. 229). Assim, Hirata (2012) considera que "as teses sobre o surgimento de uma mão de obra qualificada e flexível, 'adaptada' às novas tecnologias, baseiam-se, assim, em ocultar a relação diferencial dos homens e mulheres com a qualificação e as novas tecnologias" (HIRATA, 2012, p. 229). As trabalhadoras brasileiras continuam sofrendo os impactos do sistema de acumulação produtiva no cotidiano, tão marcado pela desigualdade social e econômicas vigente.