O presente artigo tem como objetivo descrever as consequências econômicas e sociais da pandemia causada pela COVID-19 sobre o setor turístico cubano, relacionando-as com o projeto de unificação monetária iniciado em 2021 e com os protestos que eclodiram no dia 11 de julho de 2021 em Cuba. Em 1990, devido ao fim da União Soviética e ao acirramento do bloqueio econômico norte-americano, Cuba atravessou a pior crise econômica da sua história pós-revolução. Neste contexto, a economia cubana foi reorientada para setores que exigiam poucos recursos enérgicos e insumos importados, tal como o setor turístico, especificamente o turismo de sol e praia. Apesar dos esforços do governo em manter o setor turístico isolado espacialmente e socialmente do restante da sociedade, a sua abertura para visitantes internacionais passou a atrair um público curioso em conhecer a história e as paisagens cubanas e como consequência desenvolveu-se um segmento de turismo urbano, principalmente na cidade de La Habana. A qualidade da medicina nacional também se tornou uma atração turística, criando-se um segmento de turismo médico. A expansão e a segmentação dos produtos turísticos passaram a fazer parte das estratégias para evitar a sazonalidade e as crises do setor. Ainda assim, desde o início de 2020, a pandemia de Sars-Cov-19 reduziu drasticamente o número de turistas na ilha e os rendimentos do setor. Sendo está uma das atividades mais dinâmicas do país e sua principal fonte de moedas estrangeiras, os resultados da baixa atividade foram a redução da capacidade de importar produtos essenciais para a população, a inflação no preço dos produtos importados e uma queda generalizada da renda. Para contornar estes problemas, o governo cubano decidiu por iniciar no princípio de 2021 o seu plano de reunificação monetária, unindo a moeda nacional com a moeda conversível em dólar utilizada no setor turístico. O objetivo da reunificação é reduzir a inflação encoberta, no entanto, ela teve como consequência a perda do poder de compra da população. Desta forma, quando eclodiram as manifestações em 11 de julho de 2021, embora sejam produto da interferência norte-americana em Cuba, nela ecoaram as críticas sociais internas ao modelo de desenvolvimento baseado no turismo, aos investimentos estatais em hotelaria nos momentos de crise econômica e à perda de poder de compra da população devido à unificação monetária. Para explorar todos estes elementos este artigo conta com uma seção histórica que aborda as condições em que o turismo foi escolhido como setor estratégico para a economia cubana; uma segunda seção em que se explica como funciona o setor turístico atualmente; uma seção para discutir as consequências econômicas e sociais da queda no turismo causada pela pandemia de COVID-19 e uma última seção de considerações finais.
Introducción:
No dia 11 de julho de 2021 eclodiu nas ruas de Havana uma manifestação sem precedentes na história da Revolução Cubana. As transmissões ao vivo feitas pelos cubanos em suas redes sociais revelaram que as ruas estavam tomadas por diversos movimentos e diversas pautas políticas, desde pedidos para restauração capitalista até dizeres contra o bloqueio norte-americano imposto à ilha. A primeira característica que chamada atenção nas manifestações é “fator EUA”, ou seja, a presença maciça de camisetas, banners e mastros estampando a bandeira dos EUA. De fato, os EUA estiveram diretamente envolvidos nas manifestações do dia 11 de julho, incentivando, promovendo e financiando a ação de cubanos e cubanos-americanos contrários ao governo da ilha. Hoje em dia ainda se desconhece ainda a extensão do envolvimento norte-americano, mas é certo que a interferência do país conseguiu criar um cenário de caos e insatisfação, embalados pelos ritmos e letra do reggeaton “Pátria o Vida”, que conformaram o cenário específico para os EUA suscitar a ideia de uma nova ocupação na ilha, desta vez disfarçada de ajuda humanitária e com o claro propósito de desmantelar a Revolução.
No entanto, para além da interferência norte-americana, pôde-se ver durante os eventos do dia 11 de julho, que a redes sociais ocupam um novo espaço na política cubana. Por um lado, elas revelam um novo contato dos cubanos com o mundo. Até recentemente a internet era extremamente limitada e precária em Cuba, de forma que o contato com o estrangeiro só acontecia sob duas circunstâncias: através dos turistas que chegam a Cuba todos os anos ou pelas viagens dos cubanos ao redor do mundo. Por outro lado, a rede social também se tornou uma alternativa ao jornalismo oficial, promovido e regulado pelo governo, cedendo mais espaço interno para as dissidências. Não por acaso, as manifestações foram organizadas, propagadas e transmitidas pelo Facebook.
O terceiro elemento que nos interessa destacar nos atos do dia 11 de julho é que, apesar da interferência norte-americana, o clima de contestação resvalou e respondeu às críticas e demandas da sociedade civil cubana que não se opõe à Revolução, mas que encontrou no clima de contestação um espaço para pautar suas demandas. Diversas destas pautas podem ser encontradas em blogs ou redes sociais e algumas delas foram reunidas em dois dossiês escritos por proeminentes acadêmicos cubanos pelo periódico “Sin Permiso” (Delgado et. al, 2021; Santana et. al, 2021). Os autores expressam em seus textos os elementos que eles puderam identificar como correspondentes legítimos da demanda popular entre os cubanos, dentre elas destaca-se as dificuldades econômicas sofridas pela ilha durante a pandemia por COVID-19, o aumento relativo de casos por COVID-19 no segundo semestre; a dificuldade de aquisição de alimentos, a unificação monetária levada à cabo desde janeiro do mesmo ano, a insatisfação com a escassez de recursos frente a construção maciça de hotéis pelo Estado no mesmo período e a demanda por liberalização da regulamentação sob o trabalho privado autônomo.
Muitas destas pautas têm como pano de fundo o sentimento de exaustão dos cubanos frente às dificuldades de inserção do país no mercado internacional e aos limites impostos pelos EUA ao país na forma de um bloqueio econômico. No entanto, de diferentes maneiras, todas estas pautas relacionam-se também com os limites e com as contradições da especialização turística de Cuba, principalmente frente à crise do setor durante a pandemia e à dependência do Estado cubano destes recursos. Nas próximas seções, nós vamos descrever o setor turístico em Cuba – sua evolução histórica recente e suas características atuais – para poder refletir sobre as consequências econômicas e sociais da queda do turismo durante a pandemia por COVID-19.
Desarrollo:
Turismo em Cuba.
A reinserção de Cuba na rota do turismo internacional remonta ao início da década de 2000, no entanto, a história da ilha com este setor alcança períodos mais remotos de sua história republicana. Desde o começo do século XX, frente à crise econômica causada pela queda brusca do preço do açúcar, o turismo apresentou-se como uma fonte de rendimento para financiar a nascente república cubana. Neste contexto histórico, não eram somente as praias paradisíacas que atestavam à Cuba o status de destino de lazer, mas sua proximidade com os EUA, a dominação política dos EUA no país, a restrição ao uso de consumo alcoólico nos EUA durante a lei seca, a leniência do governo com relação às atividades predatórias dos cassinos, a exploração sexual e a privatização das praias tornaram o país o destino favorito da elite norte-americana e hollywoodiana (Chávez et al., 2019).
O modelo de turismo realizado em Cuba enriquecia as cadeias norte-americanas de hotel, explorava os trabalhadores urbanos, privatizava as praias e degradava ainda mais a condição social do país. Por isso, o fim da exploração turística era uma das pautas do movimento revolucionário que chegou ao poder em 1959. Como prometido, o novo governo revolucionário de 1959 tão logo assumiu o poder, estatizou os hotéis, nacionalizou as praias e interrompeu o fluxo de turistas internacionais.
A retomada do setor turístico em Cuba ocorreu sob outras circunstâncias do que aquelas do começo do século e assumiu outra forma de organização. Em 1976, elaborou-se o primeiro plano turístico do país que, além de fomentar políticas para o turismo nacional, estabeleceu locais e tipos de atividades que poderiam ser empregados para desenvolvimento do turismo internacional. A atividade então, passou a receber estímulo do governo em pequenas proporções, com o intuito de atrair visitantes do bloco europeu.
A mudança radical no setor deu-se em 1990, quando Cuba passava pelo Período Especial, uma crise econômica causada pelo fim da URSS e pelo agravamento das condições de bloqueio econômico impostas pelo EUA. Neste sentido, é importante assinalar que o fim da União Soviética significou para Cuba o fim dos empréstimos em rublo conversível, a extinção do mercado consumidor do açúcar cubano e a revogação das condições especiais de compra do petróleo soviético que garantiam à Cuba subsistência energética e divisas com a revenda da produção excedente. A mudança nas condições econômicas impôs à Cuba a urgente tarefa de reposicionamento no mercado internacional e reestruturação produtiva e o posicionamento em setores que, por um lado, não fossem intensivos em capital e tampouco em energia e, por outro lado, pudessem garantir à Cuba um fluxo de divisas que lhe permitisse garantir a compra de produtos importados para alimentar e satisfazer a população. Dentro desta chave, entre os setores encontrados para especialização da atividade cubana, encontra-se o turismo ao lado da biomedicina, medicina e química. No que tange ao turismo, para a escolha deste setor como uma solução para a saída da crise foram levados em conta tanto as paisagens naturais e praias da ilha como o contexto internacional de fluxo de investimentos estrangeiros em turismo para os países do Caribe (Cabrera, 2014).
A entrada de Cuba na indústria de turismo internacional foi feita de maneira a preservar a soberania do país sob seu território e a submissão dos interesses da indústria hoteleira aos interesses nacionais. Para tanto, foi elaborado um plano de longo prazo que permitisse às operadoras turísticas nacionais aprenderem com as empresas estrangeiras, a partir da conformação de empresas mistas compostas pelo capital estrangeiro e capital nacional estatal, este último sendo o sócio majoritário. A cooperação entre capital internacional e Cuba deu-se principalmente no setor de hotelaria, em que o Estado cubano é proprietário dos hotéis e os arrenda para - ou contrata os serviços - as hoteleiras internacionais.
Tal estratégia garantiu o sucesso da inserção de Cuba no circuito do turismo internacional através do prestígio que as grandes hotelarias internacionais possuem sob o principal mercado consumidor do turismo cubano: o público canadense e europeu (Gráfico 1) (Castro, 2020). Como consequência, desde princípios da década de 1990, Cuba tem atraído visitantes para ilha (Gráfico 2), o que auxiliou o país a resolver seu problema de déficits de moeda estrangeira, as divisas, garantindo-lhe possibilidades de superar o período mais duro da crise dos anos 1990.
Gráfico 1 – Procedência dos turistas internacionais em Cuba.
Fonte: ONEI, 2020.
Gráfico 2 - Ingressos de turistas em Cuba em milhões de visitantes por ano: 1985 – 2018.
Fonte: ONEI, 2020.
O turismo protagonizado pelos visitantes internacionais à princípios dos anos 1990 era principalmente do tipo “sol e praia”, ou seja, direcionado para desfrutar as praias cubanas contando com o visual do mar do Caribe e com a comodidade dos resorts all inclusive. No entanto, com o passar dos anos, foi ganhando força em Cuba um novo segmento do turismo internacional baseado no turismo urbano. Diferentemente do conceito de “sol e praia”, o turista do “turismo urbano” está mais interessado em conhecer a vida dos cubanos, seu cotidiano, sua história e arquitetura.
Para o desenvolvimento deste outro tipo de indústria do turismo foi preciso avançar em outras infraestruturas para além dos resorts lastreados no nome das hoteleiras internacionais. Para garantir a hospedagem dos turistas nas grandes cidades cubanas foi primordial o envolvimento da categoria de trabalhadores autônomos privados. Esta categoria surgiu também nos anos 1990 como resposta à crise do Período Especial. Levando-se em conta que neste momento, o Estado não possuía as capacidades orçamentárias – e nem a eficiência – para prestar todos os serviços requeridos pela população, em 1993 foi autorizada a execução de uma lista de atividades econômicas por trabalhadores privados autônomos, que em Cuba levam o nome de cuentapropistas (IZQUIERDO et al., 2003).
Os cuentapropistas originalmente eram compostos por trabalhadores autônomos de serviços pessoais e individuais, tais como alfaiates, restaurantes, manicures, cabelereiros etc. No entanto, ao longo do tempo, a categoria foi ganhando maior protagonismo e as atividades realizadas por ela maior complexidade, de forma que o leque de atividades permitidas ao setor aumentou e foi permitida a contratação de trabalhadores terceiros, também trabalhadores cuentapropistas. Estas mudanças não foram lineares e nem consensuais, pois muito tardou para o governo reconhecer a importância da categoria, deixar de considera-la um mal necessário e incluí-la como agente social da Revolução (Oliveira, 2014).
Para o desenvolvimento do setor turístico, os cuentapropistas tiveram um papel fundamental no aluguel de cômodos ou casas para os turistas, as casas particulares, e na provisão de almoços, cafés e lanches através dos paladares, ou seja, pequenos restaurantes montados nas garagens ou salas dos cuentapropistas. O fortalecimento desta categoria de trabalho, tanto em número de trabalhadores como em volume gerado pelo setor, pode ser considerado como uma das principais consequências da especialização do turismo em Cuba, que, assim como a participação de empresas internacionais, marca uma diferença profunda com os princípios econômicos da Revolução Cubana antes do Período Especial (Figueiras, 2013). Em uma primeira análise, pode-se dizer que, se por um lado o turismo possibilitou uma recuperação econômica considerável para a economia cubana (Gráfico 2), por outro lado, introduziu novos atores para a economia cubana e, portanto, ensejou uma reorganização da economia.
Gráfico 3 - Rendimentos do setor turístico em Cuba, em milhões de dólares: 1992 – 2018.
Fonte: ONEI, 2020.
A entrada de moedas estrangeiras em Cuba em um período de escassez, tal qual ocorria á princípios da década de 1990, impôs ao governo cubano a necessidade de uma política monetária que garantisse a estabilidade dos preços e evitasse a dolarização completa da economia. Em 2003, como uma resposta à medida do governo Bush que penalizava Cuba pela dolarização parcial da economia, o país adotou uma política inédita para converter a situação: criou uma nova moeda, o CUC, lastrada ao dólar. Por esta feita, Cuba passou a possuir duas moedas: o CUP – ou moeda nacional – passou a ser restrito às compras de produtos nacionais e pagamento de salários por empresas integralmente estatais, enquanto o CUC passou a ser a moeda exclusiva das lojas que vendiam produtos importados, a moeda utilizada pelos turistas e o meio de pagamento dos salários das empresas mistas em operação em Cuba. Como apenas o CUC era conversível (e valia exatamente U$$1,00), adotou-se uma estratégia de taxas variadas de câmbio entre as duas moedas. Por um lado, para desestimular a compra de produtos importados, a taxa de câmbio para a população foi definida à 26CUP para cada 1 CUC, enquanto para as empresas dos setores estratégicos (turismo, biomedicina, química, etc.), a taxa de câmbio era de 1 CUC por 1 CUP (Pavel, 2008).
Ou seja, para os setores estimulados pelo governo, o preço dos produtos importados era extremamente barato em comparação com o preço para as empresas nacionais tradicionais ou para a população local. Isto significa que se criou uma relação de preços artificiais que causava diversas assimetrias. Vejamos um exemplo: em Havana tanto o Hotel Habana Libre quanto uma casa particular, hospedam turistas e para recebê-los precisam comprar lençóis importados. O preço do lençol importado é de U$6,00. Para o hotel do setor emergente, isto significa um preço em moeda nacional de CUP6,00, enquanto para o cuentapropista da casa particular isto significa um preço de CUP156. Este tipo de promoção artificial foi criticado pelos economistas cubanos pelo fato de ele gerar uma competitividade considerada desleal, que por um lado, inflava o orçamento das empresas mistas, por outro lado, desfavorecia o trabalhador privado autônomo.
Em suma, podemos afirmar que o desenvolvimento do turismo em Cuba deu-se de maneira distinta, com forte protagonismo estatal na regulamentação e promoção do turismo internacional. Se por um lado isto significa controle sobre a atividade turística de forma a evitar a expressão do seu traço depredatório, por outro lado também significa o alto comprometimento do orçamento estatal para construção de mais hotéis e promoção de atividades turísticas.
Covid-19: o turismo e os estalidos sociais.
Em 2020 a Comissão Económica para América Latina e Caribe estimava que o setor turístico havia sido um dos mais afetados pela pandemia por COVID-19. De fato, ainda em maio de 2020, apenas alguns meses após se constatar o caráter pandêmico da nova enfermidade, 100% dos destinos turísticos internacionais haviam imposto algum tipo de restrição para entrada de turistas e 75% haviam fechado completamente suas fronteiras (Sánchez, 2021). Em Cuba, as fronteiras internacionais mantiveram-se fechadas desde março a outubro de 2020 e a restrição para entrada de turistas durou até 2021 como uma forma de evitar a propagação do coronavírus e suas variantes pelo território cubano.
As medidas restritivas impostas pelo governo em 2020 garantiram um relativo controle da pandemia no país. Observando os gráficos 4 e 5 percebe-se um relativo controle sobre o número de casos e de mortes no país. Até janeiro de 2023 foram registrados 1.112.291 casos e 8.530 mortes pela doença.
Gráfico 4 – Número de novos casos por COVID-19 em Cuba: 2020 até 2023.
Fonte: John Hopkins University and Medicine, 2023.
Gráfico 5 – Número de mortes por COVID-19 em Cuba: 2020 até 2023.
Fonte: John Hopkins University and Medicine, 2023.
O controle dos casos de COVID-19 se deu por duas vias: antes do desenvolvimento das vacinas nacionais, foi elaborado um rígido controle das infecções através dos agentes comunitários de saúde deste país. Neste processo, o isolamento dos casos confirmados foi a principal estratégia de contenção do vírus, para o qual chegou-se inclusive a utilizar os hotéis desocupados como espaços improvisados para quarentena (Miglioli, 2020). Logo em maio de 2021 Cuba já possuía suas vacinas nacionais contra o vírus e dava início a campanha de imunização, o que facilitou o controle e contenção das infecções (Leite, 2021) e levou o governo à flexibilizar as regras sanitárias impostas ao setor turístico (Vasconcelos, 2021).
Em suma, o controle da pandemia por COVID-19 somente foi possível em detrimento da atividade turística, inclusive pois neste momento, tampouco existia uma demanda aquecida por turismo nos principais emissores de viajantes do mundo. Como consequência imediata da interrupção do turismo, Cuba testemunhou a queda abrupta no volume de viajantes e de recursos provenientes do setor. O Gráfico 6 mostra a queda dos rendimentos recebidos pelo setor turístico entre os anos 2020 e 2021 com relação ao período anterior.
Gráfico 6 – Total de receitas associadas ao turismo internacional em Cuba: 1991 – 2021.
Fonte: ONEI, 2020.
Como pode ser visto pelo gráfico, as consequências da redução da atividade turísticas foram sentidas por todos os agentes envolvidos na execução das atividades do setor: desde o setor estatal e seus trabalhadores, até os trabalhadores autônomos privados, que, diferentemente dos estatais não possuíam nenhuma garantia de salário durante o fechamento das fronteiras.
Apesar da redução nas receitas do turismo internacional, em primeiro de janeiro de 2021 entrou em curso a chamada “Tarea Ordenamiento”, que representa o conjunto de medidas para unificação monetária e responde às críticas à dualidade monetária que se avolumaram desde 1990 (Mesa-Lago, 2021). Desta feita, desde a presente data a moeda conversível (CUC) deixou de ser aceita nas lojas oficiais, casas de câmbio etc. O saldo em dólares daqueles que possuíam CUC passou a ser digital e disponível em contas no banco nacional sobre o nome de MLC (moeda livremente conversível) e aceita através de cartão digital nas lojas de produtos importados.
A unificação monetária impôs a dificuldade de unificação das taxas de câmbio do CUC com o CUP. Á principio a taxa de câmbio do dólar foi de 24 CUP, mas a pressão por moedas estrangeiras e a escassez de produtos fez subir o valor desta moeda internamente, de forma que atualmente esta taxa já ultrapassou 110CUPs (CADECA, 2023) na cotação oficial e no mercado informal chega à 163 CUPs (EL TOQUE, 2023). Para compensar a desvalorização dos salários frente ao preço dos produtos também foi realizado um reajuste salarial e das pensões, no entanto, o aumento dos preços avançou mais do que o reajuste salarial, reduzindo seu poder de compra.
Desde o princípio sabia-se que o ordenamento monetário seria um processo complexo, devido às adversidades que a unificação monetária impõe. No entanto, sua realização durante um período de instabilidade econômica consequente da queda da atividade turística trouxe ainda mais instabilidade ao acesso de mercadorias para os cubanos e um processo inflacionário resultado da crescente taxa de câmbio no mercado informal.
A deterioração da situação econômica que resulta da queda da atividade do turismo internacional na ilha, assim como das dificuldades financeiras advindas da reunificação monetária são uma das pautas levantadas nos dois dossiês elaborados por um conjunto de intelectuais cubanos logo após os acontecimentos do dia 11 de julho de 2021. Entre os textos publicados, vamos nos basear em Delgado (2021) para demonstrar como quase a totalidade de demandas suscitadas pelos cubanos durante as manifestações se relaciona com o setor turístico diretamente ou indiretamente. Antes de avançar para esta análise é importante reforçar o assunto já suscitado na introdução deste trabalho com relação às interferências estrangeiras e norte-americanas nos eventos de manifestação popular. Nos parece que, apesar de comprovada a interferência estrangeira com o propósito de desestabilização do governo cubano, ainda assim, o momento de reivindicação popular suscitou pautas importantes e populares. É sobre estas pautas que iremos versar.
As manifestações do dia 11 de julho começaram na província de Matanzas. Não por acaso está era a província com maiores dificuldades para conter o contágio pelo novo coronavírus. De acordo com Delgado (2021)
“Hasta el 12 de abril de 2021, a poco más de un año de pandemia en el país, habían fallecido 467 personas y se habían diagnosticado 87 385 casos. Solo tres meses después, el 12 de julio, la cifra alcanza los 1 579 fallecidos y 224 914 casos positivos (2.5)”
O aumento dos casos em uma província onde encontra-se o principal destino do turismo internacional, Varadero, suscitou a reflexão de que o aumento das contaminações estivesse relacionado com a precoce liberação de viagens para o país, que atraiu um grande volume de visitantes russos para Cuba. Desta forma, uma das demandas levadas ao protesto, é de que as fronteiras fossem novamente fechadas.
O segundo conjunto de demandas identificada por Delgado e replicada nos outros textos do Dossier (Delgado et al., 2021) diz respeito à condição de precariedade econômica, expressa na redução dos produtos disponíveis nas lojas, no aumento crescente do preço dos produtos. Esta precariedade que por sua vez é consequência da queda dos rendimentos provenientes do setor turístico, da revogação dos contratos de exportação de serviços médicos para o mundo e do acirramento do bloqueio norte-americano contra Cuba, o qual impôs a suspensão da comercialização de empresas norte-americanas com o grupo GAESA (operadora de turismo de propriedade das Forças Armadas Revolucionárias em Cuba), as sanções ao envio de remessas e a interrupção de relações diplomáticas e comerciais em resposta a um suposto ataque super sônico na embaixada norte-americana. Novamente, a redução da atividade turística apresenta-se como causa das insatisfações sociais.
Como desdobramento da piora da condição econômica das famílias e do país, Delgado (2021) também ecoa outras duas pautas sensíveis para a população: a crítica a Tarea Ordenamento e ao estabelecimento de lojas em MLC e a crítica aos apagões energéticos que periodicamente são realizados em diversas cidades de Cuba como uma forma de economizar energia. Os apagões revelam em última instância o fato de que Cuba está com problemas para adquirir energia, o que também é consequência da crise econômica na qual o país está imerso.
Sanatana (2021) também destaca uma crítica ressoante entre os manifestantes e a imprensa não oficial: a construção maciça de hotéis durante o período de acirramento da crise econômica. Frente as dificuldades econômicas enfrentadas pelos cubanos e a redução drástica da atividade turística, a manutenção dos planos de construção de hotéis internacionais foi alvo também de críticas, no sentido de que os recursos mobilizados para estes empreendimentos são custosos e dependem de muita energia elétrica. Pode se entender que este questionamento sobre a importância e utilidade da construção de hotéis de luxo durante a crise econômica coloca em interrogação a validação social deste modelo de desenvolvimento baseado no turismo.
Conclusiones:
Ao longo deste trabalho, buscou-se demonstrar a relação entre as manifestações que eclodiram em Cuba no dia 11 de julho e a queda da atividade turística pelo COVID-19 nos dois anos que as antecederam. Neste sentido, por mais que as manifestações tenham sido parte da estratégia de deslegitimar o governo cubano pelos EUA, elas ecoam pautas que remetem às condições de vida causadas pela redução da atividade do turismo internacional em um país, cujo setor representa em média 20% do PIB.
Colocado sob esta ótica, podemos dizer que são nos períodos de crise que as sazonalidade e insegurança do setor turístico se expressam. No caso cubano, apesar de todos os instrumentos jurídicos e institucionais aplicados para regulamentação do setor e sua subordinação aos interesses nacionais, a crise do turismo internacional causada pela pandemia por COVID-19 apresentou-se inevitavelmente e teve consequência a piora da situação econômica da ilha, as quais, ecoaram durante os eventos do dia 11 de julho.
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https://coronavirus.jhu.edu/map.html
Palabras clave:
turismo,
Cuba,
Crise econômica,
Manifestações populares
#01006 |
Los efectos de la pandemia del Covid-19 en el turismo cultural y su relación con el crecimiento económico en el estado de Zacatecas y las regiones de México.
Claudia Guadalupe Escobedo Valadez
1
;
Aldo Alejandro Pérez Escatel
2
;
Edith del Carmen Escobedo Valadez3
1 - Universidad Autónoma de San Luis Potosí.2 - Universidad Autónoma de Zacatecas.3 - Universidad Autónoma de San Luis.
El turismo cultural en las últimas décadas ha tenido un desarrollo positivo en la economía nacional y mundial, sin embargo, la pandemia generó grandes estragos, en cuestión de pérdidas humanas y económicas, con ello los gobiernos han tomado medidas en protección a la sociedad, limitando los viajes, para la no propagación del virus SARS- COV-2, afectando de manera abrupta el turismo cultural y diversos establecimientos relacionados a la industria turística. De manera que la variable casos covid-19 es muy importante en cuestión de turismo y turismo cultural para el periodo 2020-2021, la cual tuvo una afección macroeconómicamente en las divisas nacionales y extranjeras. El objetivo de la investigación, es analizar los efectos de la pandemia del covid-19 en el turismo cultural, y observar el comportamiento de esta actividad económica respecto al crecimiento y desarrollo económico en el estado de Zacatecas y las regiones de México, con respecto al periodo 2020-2021. Mediante la utilización de un modelo econométrico de panel de datos, se estudiará varias unidades muéstrales, en este caso son los estados que conforman la república mexicana, facilitando el análisis temporal. El trabajo se sustenta en el enfoque de crecimiento, con la finalidad de analizar el impacto de la pandemia en la actividad turística cultural con relación al crecimiento económico del estado de Zacatecas y las regiones de México para el periodo 2020-2021. Para poder estimar esta relación, las variables independientes son: los servicios de esparcimiento cultural y deportivo, y otros servicios recreativos; los servicios alojamiento temporal y de preparación de alimentos y bebidas; y casos covid-19 sobre la variable dependiente, la cual es el crecimiento económico estatal representado por el PIBE, la utilización de estas variables independientes es aproximada, representa al sector turístico con un enfoque cultural para cada entidad federativa, estas variables se toman en cuenta en otras investigaciones revisadas para poder representar el concepto del sector turístico con un enfoque cultural. De acuerdo a los datos obtenidos de las regresiones se encuentra que la actividad turística con enfoque cultural, ha sido fuertemente afectada a partir del año 2020-2021 coincidiendo con el inicio de las políticas de aislamiento para no propagar el virus. Palabras clave: turismo cultural, pandemia, crecimiento económico, panel de datos.
#03012 |
Mudanças Climáticas, Turismo e Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais do Pantanal (Brasil)
Manuela Areias Costa1
1 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS.
A presente pesquisa propõe reflexões acerca dos impactos das mudanças climáticas sobre o patrimônio cultural de povos indígenas e comunidades tradicionais no Brasil, especificamente no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – sítio do Patrimônio Natural da Humanidade (UNESCO, 2002). Os efeitos da crise socioambiental incidem no patrimônio cultural de pescadores, ribeirinhos, indígenas e quilombolas, ameaçando a salvaguarda de seus bens culturais e o turismo de base comunitária. No cenário do Pantanal incide uma crise ambiental, que assola e se agrava devido às mudanças climáticas, resultando em incêndios, secas e cheias de rios, ocasionando inundações. Além disso, ações antrópicas, sobretudo decorrentes do uso da terra e da água por meio do desmatamento, destruição de nascentes, assoreamento dos rios, construção de hidrelétricas e o uso indiscriminado de agrotóxicos, contribuem para a devastação ambiental no Pantanal, e aceleram as alterações climáticas e seus efeitos a níveis, não só regionais ou nacionais, como também globais. As assimetrias identificadas na geopolítica do Pantanal, mostram-se condicionadas por fatores econômicos, alinhados às perspectivas das diretrizes desenvolvimentistas, que promovem a destruição e degradação ambiental. O conjunto de crises – ambiental, hídrica e climática – compromete o próprio patrimônio natural, flora e fauna, como também a reprodução cultural entre povos indígenas e comunidades tradicionais, tornando o cenário mais complexo. Colocam em risco o patrimônio cultural das comunidades – como a viola de cocho, a canoa de um pau só ou canoa pantaneira, a celebração do banho de São João e a cerâmica do povo terena, bens registrados como patrimônio imaterial – que dependem desse território e bioma para a reprodução cultural. Nesse processo, o turismo de base comunitária, realizado na forma de associativismo e desenvolvimento sustentável, igualmente é prejudicado. Nota-se atualmente uma preocupação em minimizar o impacto ambiental e fortalecer ações de conservação da natureza por setores não governamentais e a comunidade em geral. O Pantanal e o patrimônio cultural de comunidades tradicionais que o habitam e que dependem desse bioma, apresentam significativa vulnerabilidade aos riscos, provenientes e intensificados pelas alterações climáticas. Sob todas as adversidades descritas, geradas pela crise socioambiental, ainda pesa a crise sanitária imposta pela pandemia do coronavírus, que recrudesceu o cenário das comunidades que habitam o Pantanal. Quanto ao procedimento metodológico adotado na pesquisa, este consistiu na análise de documentos escritos, como relatórios do IPHAN, da UNESCO e da "Comissão de Registro de Saberes Imateriais dos Pescadores e das Pescadoras Tradicionais no Município de Cáceres", e de entrevistas realizadas com indígenas da etnia Terena e comunidades tradicionais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, como pescadores e pescadoras, que pescam em sua maior parte do rio Paraguai, e quilombolas.
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Análisis crítico de las transformaciones ambientales recientes en ciudades turísticas de la Patagonia Andina Argentina.
Las ciudades turísticas altamente dependientes de atractivos naturales se encuentran en una posición de vulnerabilidad en un contexto de transformaciones ambientales y readecuación del modo de producción capitalista. Las modificaciones en las formas de producir desde la década de 1970 trajeron como resultado una alteración en la manera de llevar adelante la actividad turística y los espacios desarrollados en torno a ella. Concebidas como destinos turísticos donde se privilegia el consumo de experiencias y la autenticidad escenificada, el presente panorama nos obliga a cuestionar la manera histórica en que las ciudades construyeron sus imágenes y la posibilidad de diversificar sus opciones. A partir del análisis comparativo de los casos de Bariloche, Calafate y Ushuaia con sus respectivos Parques Nacionales asociados, la ponencia busca presentar y problematizar las formas de llevar a cabo el turismo y sus consecuencias en la región periférica de la Patagonia Argentina. Partiendo de un marco teórico crítico, autores posicionados en la ecología política y la geografía crítica, se fueron desplegando herramientas metodológicas de recolección y análisis cualitativo. En este sentido, se llevaron a cabo relevamientos documentales de fuentes secundarias y bibliografía especializada para comprender la configuración histórica de los casos de estudio y los diversos impactos que desencadena el circuito espacial del turismo en el área. A modo de reflexión, podríamos indicar que esta actividad se construye como una promesa y una amenaza para los propios espacios protegidos de la región, promocionados tanto a nivel nacional como internacional. Estos destinos atraen grandes contingentes turísticos que utilizan principalmente el transporte aéreo, el cual contribuye a la emisión de gases de efecto invernadero y los procesos de calentamiento global. No solo la utilización de estas condiciones de producción repercute en el mismo circuito intensificando la degradación de sus productos -como la retracción de los glaciares, el desecamiento de las turberas, etc.-, sino también genera otras problemáticas, como la contaminación de los cursos y espejos de agua, el déficit habitacional, la competencia y disminución de servicios y equipamientos disponibles para la población local, entre otros. En definitiva, se ha construido una imagen de destino que se ve amenazada por la misma actividad que lo promociona.
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Ontologías turísticas en competencia en San Blas (Nayarit), México. Tierras móviles, la política y los públicos.
Francisca López Regalado1
1 - Universidad Autónoma de Nayarit/Universidad de Wageningen.
Este documento explora la emergencia y constitución de lo público en torno a la disputa por los terrenos frente al mar en en Playa Las Islitas (San Blas, Nayarit). Al poner la atención en la emergencia de lo público, se enfoca en las acciones conjuntas y duraderas para dirimir los conflictos emprendidas por actores disímiles en torno a la controversia sostenida entre la Unión de prestadores de servicios turísticos Playa las Islitas (UPST) y una organización comunal denominada la Nueva Villa de San Blas (NVSB). Se argumenta que la incipiente constitución de lo público ocurre en un marco paradójico de diferencia, oposición y articulación entre proyectos turísticos de gran y pequeña escala y formas de existencia campesina. Esta condición resulta de la potencial conexión de la segunda organización con el mercado inmobiliario y desarrollo turístico en gran escala. Asimismo, la disputa reseñada involucra legislaciones y políticas encontradas (la tenencia de la tierra campesina y las concesiones de la zona federal marítimo-terrestre), planes de desarrollo y acciones institucionales en un marco de relanzamiento de la actividad turística en medio de una tendencia a procesos conocidos como “turistificación” y “gentrificación”. Al conectar estas múltiples relaciones con una trayectoria histórica alejada de las narrativas lineales fue también manifiesta una materialidad de la disputa profundamente móvil (debido a la acción intermareal). Estas condiciones condujeron a considerar el papel de lo no humano en la constitución de lo público y consecuentemente a recurrir teóricamente a los enfoques relacionales como la teoría del ensamblaje, a la noción de Tourismscape (Actor Network theory) y la ontología política. Se concluye que la emergencia de lo público resulta de los encuentros entre diferencias ontológicas en tanto las partes en conflicto enactúan diversas formas de existencia asociadas a su vez, con diferentes supuestos acerca del desarrollo turístico. Diferencias ontológicas que involucran diversas negociaciones entre actores humanos y no humanos, resultando en una multiplicidad co-constitutiva de la espacialidad y vida costera.