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Educação antirracista nas escolas públicas em Curitiba (PR): estratégias de combateMe. Aparecido Vasconcelos de SouzaMeª. Tânia Mara Pacífico. Resumen: Este artículo tine como objetivo demonstrar la importância de reflexionar sobre la representacioón del negro em la ciudade de Curitiba, como estratégia de combate al racismo. Para lograr este propósito, haremos um análises del discurso, tomando como referencia la Hermenéutica de la Profundidad, desarrollada por J. Thompson (1995), la tesis de Maria Aparecida Silva Bento (2002) la investigación de Nilma Lino Gomes (2018) y de Silvio Almeida (2019) sobre el racismo estructural em Brasil, y el libro Racismo em em Libro Didático, de Paulo Vinicius da Silva (2015). Dichos investigadores argumentan que el racismo es uma forma violenta de producción y mantenimiento de relaciones de poder entre negros y blancos. A partir de relatos de la historia de vida de personas negras que se destacan em el espacio de la política local, se pretende señalar las consecuencias, y especialmente los aportes de las políticas afirmativas para la reducción paulatina de las desigualdades étnico-raciales y la superación del racismo em la sociedade. Em Brasil, a través de las reivindicaciones del movimento negro y de los investigafores (es), fue aprobada em 2003 la Ley 10.639/03, que modifico el art. 26 – A de la LDB, determinando la enseñanza de la Historia y Cultura Africana y Afrobrasileña; posteriormente modificado por la ley 11.645/08, que añadió História y Cultura Indígena. Encontramos que com base em este conjunto de leyes y las acciones del movimento negro, el número de investigadociones dirigidas a denunciar el racismo y la educación antirracista em la vida escolar cotidiana há aumentado, em consecuencia, los estudiantes comienzan a ver possibilidades de cambio em la estrutura curricular y sociedade.

Introducción:

INTRODUÇÃO: IGREJA DO ROSÁRIO DE SÃO BENEDITOS DOS PRETOS – CURITIBA – EU TENHO UM SONHO!!

No dia 05/02/2022, uma representação do Movimento Negro de Curitiba, denominada Núcleo Periférico, fez um convite para um, entre tantos atos realizados em território nacional para protestar contra a morte do congolês Moïse, brutalmente assassinado em um quiosque localizado Barra da Tijuca, cidade do Rio de Janeiro. A família afirma que ele foi cobrar duas diárias (duzentos reais) referente ao seu trabalho. O outro crime que motivou a manifestação, foi o assassinato sumário com três tiros de Durval. Ele voltava do trabalho quando foi executado por um sargento da marinha. Ambos crimes foram filmados; registrando assim: a violência vivida cotidianamente por homens, mulheres adolescentes e crianças negras no Brasil. Contra fatos não existe argumentos. No primeiro caso, um homem trabalhando em condições análogas a escravização e no outro o cumprimento de um protocolo das forças armadas que exclui a população negra dos espaços socialmente criados para brancos. Esses crimes demonstram que o racismo em nosso país é estrutural e estruturante das relações raciais. 

O ato teve início às 17h. Vários relatos emocionantes foram feitos, representantes do Congo discursaram e um jovem da Guiné Bissau, pediu a palavra contando que seu irmão Quintino, ia para o trabalho quando foi abordado pela polícia e levou dois tiros. A abordagem aconteceu em Curitiba no dia 23/12/2021. O mais tocante, é que mesmo se recuperando ele estava lá no ato de denúncia contra a violência racista. Infelizmente no dia 25/02 ele veio a falecer, em decorrência de complicações causadas pelo ataque policial. 

Nesse dia, logo após o encerramento da missa, um casal de pessoas brancas saiu da igreja (construída por pessoas negras) e chamou os manifestantes antirracistas de comunistas. Naquele momento, o padre começou a fechar a porta e um homem negro oriundo da periferia, que ocupa um cargo público, como vereador, sugeriu a entrada de forma pacífica na Igreja do Rosário de São Benedito dos Pretos. Ele foi acompanhado pelas/os manifestantes que entraram na igreja de forma respeitosa, porém com muita indignação, pelo questionamento da legitimidade da realização do ato em frente a referida igreja. Esse ato teve como objetivo afirmar que, vidas negras importam. Nos dias que se seguiram, o vereador sofreu perseguição política, que culminou no processo de cassação, o que foi revertido por instancias superiores.

Desarrollo:

Conceitos para pensar o combate ao racismo no cotidiano escolar: Vidas Negras Importam: 

De acordo com Taylor (2020) o Movimento Vidas Negras Importam, pode ser entendido como o resultado da luta cultural, política e econômica do povo negro norte-americano pela liberdade e contra a violência racista. Esse movimento, dialoga com as lutas históricas do movimento Black – Power e da luta de Martin Luther king (1929-1968) pela promoção da igualdade racial. No entanto, esse movimento se atualiza diariamente. O povo negro se inspira nos antepassados para lutar contra problemas estruturais do racismo contemporâneo.   

Taylor (2020) explica que o debate sobre os direitos civis se ampliou com o governo de Barak Obama entre os anos de 2009 e 2017 nos Estado Unidos da América. Momento em que houve maior articulação para denunciar a violência policial, combater o racismo institucional e garantir melhores condições de habitação, trabalho, educação dentro do atual sistema capitalista no contexto norte americano.

Além disso, a autora destaca, os grandes protestos que aconteceram em 2014 na cidade Ferguson com o assassinato de Michel Brown, mobilizando nacionalmente vários estados americanos na luta contra a violência policial e o racismo. Nesse sentido, vale lembrar da grande mobilização mundial contra a morte do afro-americano George Floyd em 25 de maio de 2020.

Em território brasileiro Almeida (2019) explica que o racismo é estrutural e vem afetando violenta e psicologicamente a vida das pessoas negras desde o processo de escravização até os dias atuais. Nessa acepção, Bento (2000) demonstra que a população negra é criminalizada, porque houve um acordo político e econômico da elite branca que controla a sociedade brasileira para manter os privilégios após a abolição da escravatura. Esta pesquisadora compreende que a política brasileira tentou eliminar a população negra da história do país com as campanhas de branqueamento que foram implantadas violentamente no final do século XIX e ao longo do século XX.

Bento (2000) explica que após a abolição da escravatura até a década de 1940, os governantes brasileiros importaram mão de obra remunerada dos imigrantes europeus na mesma proporção de povos negros escravizados por mais de trezentos anos. Naquele momento vieram mais ou menos 4 milhões de imigrantes de várias regiões do continente europeu e do oriente para substituir a mão de obra escravizada. Além disso, a autora destaca que após a abolição os negros foram jogados a própria sorte nas ruas das grandes cidades enquanto que a população branca veio com terra para plantação, moradia, escola básica e universidade garantidos pelos governos. 

Baseados na política de branqueamento da nação e no mito da superioridade racial, as lideranças políticas e intelectuais criaram no imaginário brasileiro a ideia de que a população negra é inferior, agressiva e desiquilibrada. Nesse contexto, a violência policial, o encarceramento em massa e a criação dos manicômios aparecem como instrumentos do estado para excluir e silenciar o povo negro. Bento (2000) reitera que a discriminação racial e o silenciamento, acontecem pela defesa dos interesses da branquitude.

Nesse caso, é importante focalizar uma dimensão importante da exclusão: a moral, que ocorre quando indivíduos ou grupos são vistos e colocados fora do limite em que estão vigindo regras e valores morais. Os agentes da exclusão moral compartilham de características fundamentais, como a ausência de compromisso moral e o distanciamento psicológico em relação aos excluídos (BENTO, 2000, p.5).

É interessante destacar que o Movimento Negro Brasileiro, não se silenciou diante dessa política de branqueamento e vem constantemente reivindicando a implementação de políticas públicas de combate ao racismo e promoção da igualdade racial em todo o país. Dentre elas, destacamos as leis 10.639/2003, 11.645/2008 que vem mudando de modo positivo as práticas pedagógicas e os debates sobre as relações raciais entre negros, indígenas e brancos nos espaços das escolas e das universidades. Entretanto, a violência colonial é tanta que ainda sofremos as consequências do racismo estrutural no país.

O racismo e a linguagem colonial

Retomando a reflexão sobre os protestos de luta contra o racismo, gostaríamos de destacar os apontamentos do filosofo Frantz Fanon (2008) o qual demonstra o racismo e o colonialismo devem ser entendidos como uma política opressora de controle. Para esse pensador, o racismo força um grupo social a perder seus elementos de alteridade. Um exemplo dessa forma subjetiva de controle, é a linguagem usada pelos europeus para inventar a superioridade branca e a inferioridade. 

Dentro do processo colonial, a linguagem é usada como um dos instrumentos para silenciar, subalternizar e estereotipar a identidade do negro. O filosofo martinicano explica que o paradigma de conhecimento europeu apresenta o negro a partir de duas dimensões. A saber: a de igual com o seu semelhante e a de subalterno diante do branco colonizador. O colonizador usa a linguagem para criminalizar, desqualificar e infantilizar o negro. Na contramão do colonialismo, Fanon (2008) sugere que o negro deve se transformar em um sujeito de ação, assumir sua cultura e reagir ao projeto de civilização colonial. 

Aqui em Curitiba, durante os meses de maio e junho de 2022, podemos notar esse processo de criminalização e exclusão do negro acontecerem após o ato de protesto nacional contra a violência policial. Os vereadores da Câmara Municipal da cidade abriram um processo ilegal para cassação de um Vereador negro. Nas mídias locais e nas redes sociais, encontramos vários discursos de ódio e a criação da imagem do jovem negro como uma pessoa violenta e desordeira. Mesmo no momento em que estava coletivamente denunciando a violência policial.

As consequências foram desastrosas e a cassação do vereador foi orquestrada com notícias falsas. A justificativa utilizada era o crime de vandalismo, infantilidade e desrespeito ao espaço religioso. Em oposição a essa pratica racista, George Breitam (2021) organizou um livro em que, em 1964 Malcom X nos lembra que:

Eu cresci no meio de gente branca. Fui integrado antes mesmo de eles terem inventado a palavra, mas nunca conheci brancos - quando você fica entre eles por tempo suficiente – que não se referissem a você como uma “garota” ou uma “garota”, não importa quantos anos você tenha ou de qual escola você tenha saído, não importa qual seu nível intelectual ou profissional. Nesta sociedade, permanecemos “garotos” (BREITAM, 2021, p.77).

Em frente à Igreja do Nossa Rosário dos Pretos de Curitiba, no dia do ato estavam presentes mulheres negras, homens negros, crianças e adolescentes negras/os e mulheres brancas, homens brancos, crianças e adolescentes brancas/os. Muitas/os se sentiram compelidos pela simbologia de serem acolhidas/os por um lugar sagrado, construído pelas/os pretas/os para a população preta. O padre permitiu a entrada de todos e ficou ao lado das pessoas que discursaram e cantaram naquele templo sagrado. As palavras ecoaram como bálsamos para tanta dor e lágrimas causadas por mortes de vidas negras diariamente.

A repercussão negativa da elite Curitibana, nos remete a análise de dois líderes estadunidenses com personalidades tidas como diferentes. Martin Luther King Júnior, pastor negro, que também atuava politicamente e fez um discurso que ficou conhecido como – I have a dream (Eu tenho um sonho), no qual expressa o sonho de que um dia todas/os terão o direito de viver em condições de igualdade, com os mesmos direitos e deveres, independente do pertencimento étnico-racial.  Segue parte do discurso:

...Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais. Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta. Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado. “Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, de qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!” E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York. Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania. Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado. Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia. Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee. Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade. E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós o deixarmos soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos celebrar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro: Livre afinal, livre afinal. (LUTER KING,1963, s.p.)

Em 2022, a luta continua e cada pessoa negra, adota uma postura frente as injustiças raciais cotidianamente. A população negra brasileira sofre o racismo de marca, termo cunhado por Oracy Nogueira em 2006:

Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico para que sofra as consequências do preconceito, diz-se que é de origem (NOGUEIRA, 2006, p. 292).

Notamos que existem diferentes formas de atuação em busca de justiça e na ânsia de denunciar os atos racistas vivenciados. Algumas pessoas de acordo com a personalidade e de como o racismo impacta sobre sua vida e saúde mental, optam pelo silêncio e a naturalização (SILVA,2015).  

As estratégias de naturalização e invisibilização do racismo na política curitibana

Thompson (1995) explica que nas sociedades contemporâneas os meios de comunicação de massa, apresentam formas simbólicas mediadas por narrativas e imagens muito sutis que são usadas para mascarar as relações assimétricas de poder e de opressão. O autor reitera que devemos analisar a natureza das formas simbólicas e suas relações com os contextos sociais dentro dos quais elas são produzidas, transmitidas e recebidas, pois está interessado em entender de que modo a ideologia dominante impacta na vida social e política do mundo contemporâneo. Thompson (1995) organizou um quadro, com os modos de operação da ideologia, assim dispostos: legitimação, dissimulação, unificação, fragmentação e reificação, conforme apresentado no quadro que se segue. 

Estratégias de dominação e manutenção do poder

Fonte: Adaptado de Thompson, 1995, p. 81.

Thompson (1995) compreende que o discurso dominante se mantém por meio do controle dos meios de comunicação de massa e principalmente pela articulação de narrativas e imagens que justifiquem a existência de formas desiguais de distribuição do poder e de representatividade.

Diante desse cenário, é importante destacar outro grande líder antirracista dos Estados Unidos da Unidos da América, Malcom X, com uma ação mais combativa e aguerrida. Ambos mortos violentamente, em decorrência da segregação racial da sociedade norte-americana. Malcom X, teve seis filhas e defendia uma Revolução Negra, em certo período da sua trajetória, para defender os direitos civis do povo negro. Malcom X defendia que:

No passado as revoluções eram sangrentas.  Em toda a história, simplesmente nunca houve uma revolução pacífica. As revoluções são violentas, as revoluções causam derramamento de sangue, e a morte segue seus passos. A América é o único país na história em posição de realizar uma revolução sem violência e derramamento de sangue. Mas a América não está moralmente preparada para isso (BREITMAN, 2021 p. 84).

Esses líderes foram citados para dialogar com a educação antirracista e com o ato do dia 05/02/2022, em protesto pelas mortes violentas do povo negro em solo brasileiro. No ano de 2019, ao participar de uma Live do Pó de Giz pelo Núcleo Sindical Curitiba Sul, sobre “O Negro no Poder”, realizada com o Luís, professor de matemática, líder sindical, liderança do Movimento Negro Paranaense e brasileiro e o vereador, perseguido pela Câmara Municipal de Curitiba. Em um relato emocionante, o vereador descreveu como foi cruel a sentença de bandido, que recebeu de um professor da escola estadual em que estudava.

Ao ouvir o vereador surgiu o questionamento: Qual o papel da educação e do processo ensino aprendizagem para a promoção da igualdade racial? Como alguém pode ter o destino de glória e ou de sucesso negado, por ser negra/o? Tomada as devidas proporções, pois certamente o vereador já era questionador e combativo antes mesmo de ocupar tal posto. A sentença, todavia, foi cruel causa indignação.  Cotidianamente, crianças, adolescentes e adultas/os negras/os são sentenciadas ao fracasso como estudantes, como profissionais e como pessoas, pelo racismo estrutural vigente na sociedade brasileira. 

Gomes (2008) compreende que a sociedade brasileira se estruturou com base no racismo. No entanto, Feres Junior 2018, demonstra que desde o período colonial, o povo negro desenvolve ações de combate ao racismo e promoção da igualdade racial, mais recentemente está desenvolvendo políticas antirracistas e de ações afirmativas.

Portanto, parece-nos razoável considerar ação afirmativa todo programa, público ou privado, que tem por objetivo conferir recursos ou direitos especiais para membros de um grupo social desfavorecido, com vistas a um bem coletivo. Etnia, raça, classe, ocupação, gênero, religião e castas são as categorias mais comuns em tais políticas. Os recursos e oportunidades distribuídos pela ação afirmativa incluem participação política, acesso à educação, admissão em instituições de ensino superior, serviços de saúde, emprego, oportunidades de negócios, bens materiais, redes de proteção social e reconhecimento cultural e histórico (FERES JUNIOR, p.14, 2018). 

Nessa acepção, reiteramos que as políticas afirmativas são fundamentais para superação das desigualdades raciais e do racismo na sociedade. 

A comparação entre esses dois líderes Martin Luther King Júnior e Malcom X, remete-nos a vida do vereador negro de Curitiba, que é descendente de rainhas e reis africanas/os e como tal adota uma postura que oscila entre os militantes supracitados. Ao falar, por vezes, imprime a doçura de Martin, logo passando para a firmeza de Malcom. O questionamento que surge é: como ser combativo e doce diante de tantas mortes dos seus iguais, crianças, adolescentes, mulheres, homens negras/os? Os espaços de poder, ao serem ocupados por maioria branca, masculina e heterossexual, tornam-se espaços onde corpos negros, só podem permanecer, e quando podem, quando se transformam em corpos dóceis, que não questionam o poder, branco, sexista, machista.

Pensar num mundo sem racismo, exige, necessariamente, admitir a existência do racismo, que é uma construção social. Resulta da crença da existência de raças ou tipos humanos superiores e inferiores. No Brasil, relaciona-se com a classificação em grupos de cores, nos quais é possível observar distinções, por meio de traços como cor da pele, tipo de cabelo, forma dos olhos, entre outras (MUNANGA; GOMES, 2006).

A sociedade brasileira por vezes nega a existência do racismo, insistindo que nesse país vivemos em uma democracia racial, mas o caso do vereador, cassado no dia 05/08/2022, prova que aqui, infelizmente, o Brasil realmente vive as consequências do mito da democracia racial. 

No dia 9 de janeiro de 2003, foi sancionada a lei nº 10.639, que modifica o artigo 26 da LDB (DIAS, 2005). Essa legislação foi uma conquista a muito tempo reivindicada do Movimento Negro, tornou obrigatório o ensino da temática africana e afro-brasileira, com o objetivo de recontar a história da população negra no Brasil. Segue o teor a Lei:

Art. 1º – A lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo nas áreas social, econômica e política pertinente à História do Brasil.

§ 2º Os conteúdos referentes à história e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras.

§ 3º (VETADO)

Art. 79-A. (VETADO)

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra” (BRASIL, 2003).

Compreendemos que as leis supracitadas são fundamentais para implementação de práticas pedagógicas antirracistas no cotidiano escolar bem como pela promoção da igualdade racial, por meio de políticas de ações afirmativas em todos os níveis da educação brasileira.

Conclusiones:

Considerações finais

As pesquisas nas universidades e as ações do movimento negro, nas inúmeras situações de racismo vivenciadas no país, constatam que a educação tem papel preponderante, para transformar a sociedade brasileira por meio de políticas de ações afirmativas e educação para valorização da população negra. Ao ressignificarem a contribuição da história e cultura africana e afro-brasileira, como uma das matrizes fundante do Brasil, corroboram com a construção da identidade negra forte e valorizada. Ao ser cassado o vereador em questão, no seu discurso, alertou-nos sobre a necessidade de repensar a branquidade como norma que estrutura as relações étnico-raciais, deslegitima manifestações antirracistas e silencia para naturalizar o assassinato de pessoas negras. Nessa acepção, a super lotação no sistema carcerário, a maior taxa de analfabetismo, milhões de famílias negras vivendo abaixo da linha da pobreza, são reflexos do racismo estrutural. O movimento negro foi muito importante, assim como a atuação das/os pesquisadoras(es) da temática étnico-racial, para a promulgação da Lei 10.639/03, em 2003 que modificou o art.26-A da LDB, determinando o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira; posteriormente alterada pela Lei 11.645/08, que acrescentou História e Cultura indígena. A educação brasileira através de práticas antirracistas, formação das/os professoras/es para e Educação das Relações Étnico Raciais, mudança nos Projetos Políticos Pedagógicos, políticas de ações afirmativas, contribuirá para uma mudança estrutural no país, para promover a igualdade racial. Para mudar a estrutura racista do Brasil, o projeto de nação pensado pelas/os governantes, tem que ter como pauta a reparação de todo sofrimento e injustiça social, vivenciada desde o período da escravização até a atualidade. A injustiça social vivenciada em Curitiba, pelo vereador em questão, evidenciou o racismo, mas também colocou na pauta de políticos/as a importância de políticas públicas e combate ao racismo. A luta antirracista ora empreendida por líderes como Martin Luther King Júnior, Malcom X se mantém viva e através da resistência de jovens negros militantes, como o vereador de Curitiba citado neste trabalho.

Bibliografía:

Referencias: 

BRASIL Lei n.º10.639, de 9 de janeiro de 2003.Altera a Lei nº 9394/96, de 20 de novembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” e dá outras providências.

DA SILVA, Daniel Gonçalves; DA SILVA, Danilo Gonçalves; DE SOUZA, Adelma Ferreira. Vidas negras importam: violência e racismo no Brasil. 2019.

DIAS, Lucimar Rosa. Quantos passos já foram dados?A questão de raça nas leis educacionais – da LDB de 1961 à Lei 10.639 de 2003. In: História da Educação do Negro e outras histórias. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: 2008.

GOMES, Nilma Lino. Relações raciais e políticas educacionais. Seminário realizado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2008.

FERES JUNIOR, João et al. Ação afirmativa: conceito, história e debates. EdUERJ, 2018.

NOGUEIRA, Oracy. Preconceito Racial de Marca e Preconceito Racial de Origem: sugestões de um quadro de referência para a interpretação do material sobre as relações raciais. In: Tempo Social. Revista de Sociologia da USP, v.19, nº1, 2006.

MALCOM X: Malcom X Fala: Organizado por George Breitman, traduzido por Marcelo Felinto; apresentação de Preta Ferreira. Ed.Ubu – São Paulo 2021.

SILVA, Paulo Vinicius Baptista da. Racismo em livros didáticos: Estudo Sobre negros e brancos em livros de língua portuguesa / Paulo Vinicius Baptista da Silva – 2ª ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora 2015 

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 KING, Martin Luther: EU TENHO UM SONHO, 1963:  https://www.pensador.com/eu_tenho_um_sonho_martin_luther_king/ visto em 18/08/2022.

Palabras clave:

Palabras clave: Representatividade; Racismo estructural; Políticas afirmativas.

Palavras chaves: Representatividade; Racismo estrutural; políticas afirmativas.

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