Resumen de la Ponencia:
Entre os anos de 1960 e 1980 do século XX o pensamento em saúde na América Latina assume uma dimensão crítica, o que se expressou na configuração dos campos da Medicina Social latino-americana e no da Saúde Coletiva no Brasil. Campos estes que assumiram não apenas uma dimensão científica, mas também prático-política (Nunes, 1994). Este trabalho apresenta, brevemente, as bases empírico-teóricas desse pensamento, e discute a sua ousadia e inovação: a crítica ao objeto saúde e a sua dimensão social, então formulada por intelectuais do campo da saúde na América Latina. Utiliza-se aqui a acepção de Traverso (2020, p. 11) de que “na história do século XX, a noção de intelectual é indissociável do engajamento” e, portanto, é adequada aos profissionais da saúde, docentes de universidades e de escolas médicas, estudantes, gestores, administradores de serviços de saúde, então comprometidos com uma posição crítica quanto à situação de saúde das populações dos países da região. No que se refere às bases empírico-teóricas, este trabalho aborda três delas: o contexto político e social de vários dos países latino-americanos, então sob a tutela de regimes autoritários ou ditaduras militares; a precária situação de saúde das classes populares na região, sem acesso aos serviços assistenciais da saúde; a crítica ao modelo médico, então focado em uma perspectiva biologista e preventista, tanto no âmbito da formação quanto no da prática clínico-assistencial e no da estrutura dos serviços e sistemas de saúde. No que se refere aos aspectos da ousadia e da inovação desse pensamento, discute-se a perspectiva adotada por esses intelectuais: a da problematização do objeto saúde em suas dimensões técnico-assistenciais, científico-sociais e prático-políticas; um esforço interdisciplinar que subsidiou e deu bases a esse pensamento, dele resultando a radicalidade crítica, única, do pensamento social em saúde latino-americano.Considerando que cada vez mais avança a “especialização dos saberes [...] inevitável nas sociedades complexas” (Traverso, Op. cit, p. 83), decorrente da setorização das instâncias não apenas acadêmicas como também institucionais das estruturas estatais e de gestão pública, problematiza-se a importância e as condições objetivas de retomada das bases desse pensamento em saúde, considerada a sua trajetória até o presente século XXI. Desafio necessário à renovação e revigoramento da sua própria tradição. BibliografiaTraverso, Enzo.
Onde foram parar os intelectuais? Em conversa com Régis Meyran. Belo Horizonte: Editora Âyiné, 2020. Nunes, E. D. Saúde Coletiva: história de uma idéia e de um conceito.
Saúde e Sociedade. São Paulo, v. 3, n. 2, p. 5-21, 1994.