Resumen de la Ponencia:
Este artigo visa propor uma forma de análise biográfica a partir do realismo crítico. Em particular busca explorar o conceito de conversação interna, de Margaret Archer, e tomá-lo como instrumental analítico (teórico-metodológico) para a análise de biografias individuais. Archer propõe quatro modos de reflexividade:
fraturado, comunicativo, autônomo, metarreflexivo, os quais dizem respeito ao modo pelo qual as pessoas conseguem agir reflexivamente a fim de pôr em prática seus projetos. Propõe-se aqui reconstruir essa espécie de análise da reflexividade (conversação interna) a partir de um duplo deslocamento: (1)
do plano subjetivo para o inter-subjetivo, isto é, para além da análise da conversação interna de Georges Gurvitch, por ele mesmo, isto é, rastreando e evidenciando como o autor se pensa a sim mesmo e sua trajetória, para o seu contexto com o intuito de adicionar informações e clarificar, tanto o contexto, quanto as escolhas feitas por Gurvitch, dentro de um certo espaço de possibilidades. A (2) segunda “torsão” reside em deslocar parcialmente a análise – quanto ao seu método – de um material baseado em entrevistas para uma leitura baseada em fontes históricas, documentos, cartas, artigos do autor e de seus comentadores, de forma a ampliar a possibilidade interpretativa para além da “projeção biográfica” da reconstituição de uma narrativa coerente pelo próprio autor, como também de forma a ter variações deste prisma em (amigos, comentadores, historiadores) que possam indicar outros ângulos, fissuras, momentos de tensão e mesmo de ruptura na análise daquela narrativa, indicando assim, de forma mais realista as (in)adequações da ação em face do contexto que se apresentava em cada época. Metodologicamente, trabalharemos aqui com 4 grandes períodos, vistos como pontos de inflexão na sua trajetória pessoal e intelectual, a saber:
(1894-1924): Da sua formação intelectual inicial ao engajamento político e ao exílio da Rússia; (1925 – 1939): Da consolidação de sua formação ao início de sua carreira acadêmica e ao exílio da França; (1939 – 1945): Exílio nos EUA e intercâmbio com a teoria social estadunidense; (1945 – 1965): Retorno à França, consagração no campo intelectual francês (e mundial), morte e esquecimento intelectual. Em nossa análise, cada período representa uma macroestrutura social, a qual aglutina uma constelação de constrangimentos estruturais preexistentes marcada por grandes linhas gerais de pensamento, de oportunidades e de possibilidades de ação, que, em termos realistas críticos estão estruturalmente (ontologicamente) presentes, que poderão (ou não) serem atualizadas por meio de cursos de ação dos agentes e, em sendo realizadas, poderão manifestar-se empiricamente em termos de um resultado concreto (material). Conclui-se que na trajetória de Gurvitch estão presentes os diferentes modos de reflexividade, embora cada um deles predomine em uma fase de sua obra, bem como sirva para nos auxiliar a compreender os condicionamentos estruturais, dilemas e escolhas que realizou.