Resumen de la Ponencia:
Do Ontem ao Amanhã: A pós-modernidade e a ratio conceitual
Gicele Brito Ferreira, E-mail: gicelebrito@ufpa, Universidade Federal do Pará - Brasil
Marcel Theodoor Hazeu, E-mail: celzeu@gmail.com, Universidade Federal do Pará - Brasil
Resumo: Pensar o ambiente, a ecologia em relação com a humanidade na contemporaneidade, requer entender processos históricos e de reprodução social com perspectivas de clarividência para o presente e prospecção de futuro. Não cabe manifestações desconectadas como se o ambiente fosse separado do humano ou até mesmo como se o humano não interessasse mais ao ambiente. Estamos no universo, com urgência de rever a relação antropocêntrica conectada as relações de classe que estabelecem a hegemonia do capitalismo informacional. Neste artigo busco iniciar levantamento bibliográfico dos paradigmas que ancoram o trato da temática ambiental, rompendo com delimitações impostas intencionalmente pelos chamados pós-modernos com vertente frágil de argumentação que busca leitura fragmentada, tentando romper com a Modernidade e todo conhecimento crítico construído.
Palavras-chaves: Conservadorismo. Conservacionismo. Serviço social
Introducción:
A partir dos conteúdos estudados no tópico Teoria Social e Pós-modernidade inicia-se reflexão sobre qual sonoro é o ruido feito pelas denominadas ideias que apregoam a fragmentação e desvinculação do conhecimento moderno ao que é produzido no chamado antropoceno. Considerando as obras de Burke publicada em 1790, Horkheimer em 1937 e Bruno Latour em 1994 trataremos de aspectos da Teoria Conservadora, da Teoria Moderna e da Teoria Crítica para tecer linhas que constroem a rede de sustentação do entendimento sobre a relação humano e a natureza, pelo movimento pós-moderno até sua falta de afinidade com a construção de políticas, com foco na Assistência Social e a ausência de ações que levem a reconciliação e respeito entre as pessoas e o ambiente.
Desarrollo:
De onde vem a Razão Pós-Moderna?
...liberdade não é um benefício enquanto dura, e não é promissora de continuar por muito tempo. O efeito de liberdade para indivíduos é, que eles podem fazer o que querem: Nós deveríamos ver o que eles quererão fazer, antes de arriscar congratulações, que podem em breve tornar-se reclamações. (BURKE p.07, 2014)
As ideias que trancavam na obscuridade as criações humanas como a liberdade e suas necessidades sociais separadas da natureza, foram substituídas pelo entendimento das diferenças que encadeiam natureza e humanidade com suas díspares disciplinas que apresentavam e explicavam um admirável mundo novo na modernidade, rompendo com as crendices das trevas medievais, segundo Latour (p.41, 1994) “... ninguém é Moderno se não sentiu a beleza desta aurora e não vibrou com suas promessas.”
... a autodeterminação da ciência se torna cada vez mais abstrata. o conformismo do pensamento, a insistência em que isso constitua uma atividade fixa, um reino à parte dentro da totalidade social, faz com que o pensamento abandone a sua própria essência’ (HORKHEIMER, 1975, p.154)
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Em Teoria tradicional e teoria crítica; texto escrito em 1937 Horkheimer, mostra o indiviso entre a teoria conceitual e práxis social. A teoria crítica reunifica a razão questionando o pensamento dualista que separa sujeito e objeto de conhecimento.
Até o século XIX fica claro que há diferença de entendimento conceitual sobre o humano e sua organização social para as ciências ditas pragmáticas e as histórico- dialética que trabalham na construção da imagem do futuro com compreensão profunda do presente (HORKHEIMER, 1975, p.139).
O entendimento da economia política como juízo existencial desenvolvido que afirma a forma básica da economia de mercadoria se renova com crescimento exponencial e desenvolvimento das forças humanas sobre a natureza, o que acaba emperrando a continuidade do desenvolvimento e leva a humanidade a uma nova barbárie (HORKHEIMER, 1975, p.145). É preciso entender os mecanismos sociais a partir de categorias marxistas (mercadoria, valor, dinheiro, classe) demonstrando o efeito regulador da troca na qual a economia burguesa está baseada. O homem é transformado e permanece idêntico a si mesmo (o nós) que explora a natureza como fonte de recursos. Contém um conceito de homem que contrária a si enquanto não ocorrer esta identidade (consciência dos objetivos, espontaneidade e racionalidade, processos de trabalho, sociedade inerentes aos indivíduos como parte do ambiente).
Considera como sujeito um indivíduo determinado em seus relacionamentos efetivos com outros indivíduos e grupos, em seu confronto com uma classe determinada, e, por último, mediado por este entrelaçamento, em vinculação com o todo social e a natureza (HORKHEIMER, 1975, p. 132).
Estranhamente o pensamento pós-modernista rompe com a ideia de ser social histórico proposta pela modernidade e estabelece clara divisão entre os pós-modernos de Celebração (a modernidade não efetivou suas promessas, a sociedade burguesas é o ponto máximo da história – portador do neoconservadorismo) e os pós-modernistas de Oposição (que acreditam ser impossível cumprir as promessas da modernidade, se utilizam de uma ética de esquerda e uma epistemologia de direita segundo Lukács (2000), criticam o capitalismo em suas consequências).
Para Netto (2000, 2010) não existe teoria da pós-modernidade, o que existe são teorias pós-modernas que demandam uma nova sociabilidade. Há limitações na análise teórica destes, com leitura reducionista que embasa o exaurimento do Método Materialista histórico-dialético.
Silveira Junior (2016) em seu texto busca pontuar a interferência dos autores pós-modernistas na prática profissional do Serviço Social e a atualização do conservadorismo com legitimação e cooperação com a classe dominante, divergindo das bases do projeto ético-político profissional.
Como profissão a partir de sua estrutura sincrética vem mediando via pós-modernidade retrocessos no entendimento teórico metodológico de sua intervenção na realidade, o que ocasiona questionamentos sem respostas sejam no plano filosófico ou político. Não há possibilidades de aceitação da substituição da ontologia pela epistemologia, sem conexões orgânicas ideológicas que preparem a manutenção do sistema com dominação da classe burguesa. Silveira Junior, aponta um conjunto de autores que vão desde Anderson (1999) a Netto (2010) que demonstram afinidade entre a pós-modernidade e a manutenção do status quo e ponderam com a incompatibilidade deste conhecimento com o projeto ético-político do Serviço Social.
A pós-modernidade é conceituada como “conjunto de determinadas atitudes culturais, um repertório de determinadas atitudes perante a cultura e a política ou um movimento intelectual que se sustenta numa referência crítica ao legado da modernidade, particularmente do iluminismo” (SILVEIRA, p.170). Este conceito como forma de proceder desponta nos estudos teóricos desde após a 2ª guerra mundial com aporte divulgado pela Escola de Frankfurt e posteriormente com os trabalhos de Lyotar (1988), Foucault (1979), Agnes Heller(1998), Boaventura de Souza Santos(1997, 2001) entre tantos outros enumerados que buscam se afastar das ideias e expectativas iluministas.
No texto de Silveira Junior são apontadas quatro linhas aglutinadoras onde são questionadas o não cumprimento das promessas de regulação da relação com a natureza, e o que foi feito do desejo de emancipação humana?
Questões levantadas em plena grave crise estrutural do capital com danos irreversíveis para a humanidade, o ambiente e a política sem se atentar para percepção do sistema que provocou estes danos no seu processo de desenvolvimento como primeira linha.
A descrença na racionalidade e na possibilidade de projetos emancipadores globais com alarde de uma sociedade pós-industrial com recusa ao Marxismo em sua segunda linha de pensamento. Em sua terceira linha é imediatista com superficialidade sem distinção entre essência e aparência, com recusa da categoria totalidade com utilização do ecletismo e transgressão metodológica, utilização do relativismo, supervalorização da dimensão simbólica com aprisionamento no presente.
Em sua quarta linha apregoa o subjetivismo extremado funcionando como um positivismo ao avesso, onde os valores e a subjetividade levam a negação do conhecimento objetivo do real. A razão e a realidade são derivadas da ordem burguesa que domina a construção da vida.
“uma nova noção de “comum” terá que surgir nesse terreno. Deleuze e Guatarri argumentam, em O que é filosofia? que na era contemporânea, e no contexto da produção comunicativa e interativa, a construção de conceitos não é apenas uma operação epistemológica, mas igualmente um projeto ontológico. Construir conceitos e o que eles chamam de “nomes comuns” é de fato uma atividade que combina a inteligência e a ação da multidão, forçando-as a trabalhar juntas. Construir conceitos significa fazer existir, na realidade, um projeto que é uma comunidade. Não existe outra maneira de construir conceitos que não seja trabalhando de uma forma comum. Esta comunalidade é, do ponto de vista da fenomenologia da produção, do ponto de vista da epistemologia do conceito e do ponto de vista da prática, um projeto no qual a multidão está completamente empenhada. Os bens comuns são a encarnação, a produção e a liberação da multidão. Disse Rousseau que a primeira pessoa que desejou um pedaço da natureza como sua possessão exclusiva, e a transformou na forma transcendente da propriedade privada, foi quem inventou o mal. O bem ao contrário, é aquilo que é de todos. (HARDT e NEGRI, 2001, p. 323)
Santos (2007) em seu livro demonstra como o Serviço Social apesar de ter vivido todo o movimento de Reconceituação com sua ruptura política com o conservadorismo, não realizou o mesmo a nível teórico, onde apesar da aproximação com o Marxismo na década de 80 do século passado, há divisão entre o conhecimento ontológico com impossibilidade do conhecimento do ser e apregoando a teoria do conhecimento como ponto máximo da razão.
A Teoria passa a ser guia da realidade, que deve ser moldada a ela via as dimensões instrumentais com identidade que finalizaria em uma teoria aplicada. Com essa crendice os profissionais acreditavam ser agente de transformação sem efetivar o vínculo entre teoria e prática, num processo histórico dentro de uma sociedade capitalista; já demonstrava que a pós-modernidade construía espaço no Serviço Social.
A aproximação com a teoria crítica-dialética deu base para nos anos 90 aclaramento do conservadorismo, do totalitarismo, ortodoxia como dogmatismo e construção ontológica de reação ao conservadorismo, estruturando direção que considera o historicismo, a totalidade e a luta de classes; percebendo a sociedade civil como desencadeadora do movimento dialético que alimenta a leitura do concreto ao real.
A partir deste entendimento é nítida a “percepção da profissão como inserida na divisão socio técnica do trabalho capitalista e do seu objeto com sendo as diversas expressões da questão social” (SANTOS, 2007, p.79.)
Tem-se como dificuldade na compreensão da via pós-moderna no Serviço Social o questionamento que leva a invalidação da teoria crítica e todo acúmulo marxiniano ontológico pelo caminho da epistemologia. Neste movimento há esvaziamento da complexidade estrutural que produz as expressões da questão social para apreensão do objeto em si, sem o exercício do concreto pensado, limitando-se a singularidade localizada no tempo presente sem a conexão com o processo histórico e o movimento dialético do real.
O Conservadorismo e a Modernidade: Passaram?
Conservadorismo ou o que conserva, o retrógado, acomodado, antiliberal. Todos estes significados compõem a etimologia da palavra que precisamos decodificar para não cair nas armadilhas de um pensamento alvissareiro com raia de novidade.
Edmund Burke (1729-1797) que era inglês nascido na Irlanda, serviu ao parlamento como um político filosofo Whig, com influência do liberalismo clássico (Adam Smith, David Hume, John Locke, David Ricardo, Thomas Maltus, Voltaire, Montesquieu) com crença no livre mercado, no progresso e no utilitarismo. Apregoava a liberdade vigiada com a constituição inalterada das coisas, defensor da lei natural e opositor ao Iluminismo que considerava inspiração para Revolução Francesa.
A sociedade é complexa e a totalidade de suas partes são incompreensíveis no todo. A tradição e as instituições sociais são fruto do trabalho de muitas mentes por isso são fundamentais para alimentar o passado e embasar o futuro. Não há direitos naturais, a humanidade tem direitos construídos a partir de circunstâncias históricas incluindo a justiça entre os companheiros, ao fruto do trabalho e a individualidade onde cada um deve fazer o que puder separadamente.
As Reflexões, nesse sentido, não apresentam apenas a síntese dos interesses contrarrevolucionários de uma aristocracia golpeada. Constituem-se também em um manual antirrevolucionário, na medida em que constrói um quadro de referência ideológica e política elaborado como antítese da revolução insurrecional, aquela que funda uma nova sociabilidade por intermédio do “assalto ao céu”. Em seu lugar, prescreve um ideal e uma prática “revolucionária” de mudanças políticas e econômicas “pelo alto”, conduzidas pelos setores mais elevados das classes dominantes. (SOUZA, 2016, p.375)
Para Burke como bom Liberal, o Estado deve se manter afastado da economia pois prejudica os ricos sem fazer bem aos pobres, defendeu a liberdade de contrato e a não regulamentação do comércio. Tido pelos historiadores do pensamento político como o Pai do Conservadorismo que pertencia ao partido Whig que reunia tendências liberais com base em forças políticas inglesas e escocesas e contrapunha-se ao Tory que era partido de linha conservadora. É marcado pelo setor protestante com as correntes Calvinista-Presbiteriana.
A maioria dos conservadores da contemporaneidade tende, outra vez, a elevar as “paixões”, os “sentimentos”, as “intuições”, ao patamar de fonte verdadeira de conhecimentos, posto que são provenientes “das verdades profundas da alma humana” e, por isso, seriam mais “puras” que as conclusões eivadas pelo crivo “artificial” da razão e do método científico. Esse afastamento e essa “destruição da razão” (Lukács, 1972), tal como concebida pela modernidade, permitem situar Edmund Burke como um dos pioneiros do irracionalismo. O conservadorismo burkeano se particulariza, assim, no espectro mais amplo das ideologias conservadoras, como uma coletânea quixotesca de princípios aristocráticos, empunhados não apenas contra a revolução insurrecional, mas também contra quaisquer ideias progressistas oriundos da modernidade. (SOUZA, 2016, p.376)
Após a segunda guerra o Whig, partido de Burke, foi desfeito dando origem ao Labour Party (partido Trabalhista do Reino Unido que é um partido social-democrata de centro-esquerda. Um dos principais partidos que em 1997 elegeu Tony Blair como governo trabalhista) que lutavam a favor de um regime parlamentar e protestante.
Neste entendimento as transformações sociais, a ascensão da classe operaria e as lutas travadas no antagonismo entre capital e trabalho são vistas como momento de decadência e degradação que destroem a ordem estabelecida e as tradições construídas. A Revolução é vista como fanatismo e dogmatismo que quebram a ordem pacífica das mudanças que devem ser naturalmente implantas pelo status quo vigente.
O ordenamento social “corre perigo” segundo os conservadores, com a razão antropocêntrica embasada na ciência e nos direitos a liberdade e soberania popular. O irracionalismo é condão do conservadorismo como antítese da transformação social que funda novas formas de sociabilidade. O pensamento crítico histórico é tratado como anomia que deve ser reprimida.
Daí vem as origens do entendimento de normal e de patológico que dará base a Sociologia de Émile Durkhaim para conceber o “organismo social” que necessita de harmonia a partir da solidariedade orgânica.
A humanidade chega à construção dos ideais de Modernidade amparada pela ciência, na busca de quebrar com as fendas que separam os conhecimentos das naturezas e das humanidades. A lógica dialética apresenta a história como caminho condutor processual, vinculado a construção social da vida sem a separação entre a força social e os mecanismos naturais. O Conhecimento da totalidade passa a ser possível e necessário objetivando destrinchar os mecanismos materiais e as ilusões ideológicas que cercam a ciência na racionalidade e na irracionalidade como potência que encanta ainda hoje os modernos ou como diz Latour (1994, p. 41) “quem nunca foi obstinado pela distinção entre o racional e o irracional, entre falsos saberes e verdadeiras ciências, jamais foi moderno”.
Não estamos falando aqui da passagem da Modernidade com a proposição de um movimento pós-moderno que explicita a decepção com os prognósticos não alcançados pelo Iluminismo na Modernidade, estamos refletindo sobre uma reavaliação teórico-epistemológica pós-moderna, muito alardeada que tem suas bases no conhecimento conservador, que com entusiasmo se reinventa, sobretudo, para realizar adaptações e acomodações no mundo social contemporâneo. Há na mudança alardeada por este movimento, uma tentativa de manter o status kor da supremacia do atual sistema, como se verifica na disseminação do individualismo, da reestruturação produtiva que alija grandes massas dos meios de sobrevivência, na aniquilação dos recursos naturais e consequentemente do planeta e recentemente na tentativa de invasão do parlamento dos Estados Unidos da América, capitaneada por um dos representantes mais emblemáticos do conservadorismo planetário.
A fragmentação, a separação entre natureza e cultura, a explicação parcial a partir dos símbolos e da supremacia de um tipo de conhecimento que exercita a desvinculação do humano de seus processos históricos sociais na sua reprodução; é querer aprisionar o tempo, cindir o que já é visto na totalidade, é fragilizar a construção e o avanço para o Socialismo.
Nós pertencemos à natureza.
“ Assim a cada passo, os fatos recordam que nosso domínio sobre a natureza não se parece em nada com o domínio de um conquistador sobre o povo conquistado, que não é o domínio de alguém situado fora da natureza, mas que nós, por nossa carne, nosso sangue e nosso cérebro pertencemos à natureza, encontramo-nos em seu seio, e todo o nosso domínio sobre ela consiste em que, diferentemente dos demais seres, somos capazes de conhecer suas leis e aplicá-las de maneira adequada.” (ENGELS, 1876)
Pensar os graves problemas ecológicos na relação humanidade e natureza através de parâmetros plurais deve ser guia para entender que temos apenas um planeta para viver com diferentes sensibilidades; umas sendo nocivas e outras que vivem ou tentam viver em harmonia.
As sociedades antropocêntricas que colocaram na Modernidade o homem no centro do universo estabelecem relações que como afirma Engels (1876) conhecem as leis de dominação e com isso impactam o universo. O Antropocentrismo Especulativo questiona afinal qual é o lugar do humano na natureza?
Quais os discursos (dizer) e ações (fazer) estabelecidas diante da natureza? (Antropocentrismo Prático). A Natureza tem direitos e pode ser considerada um ente jurídico que precisa ser cuidado e respeitado?
No seu todo ou em dimensões limitadas destinadas há espécies e/ou ecossistemas raros que devem ser protegidas da sede predatória do sistema com base na “ética da terra” que considera o humano um cidadão que compõe a comunidade terrestre?
Há necessidade de complexificação (Antropocentrismo Especulativo) desta relação, onde o humano ocupa lugar privilegiado com diferentes entendimentos dentro do planeta, como na China onde a natureza é oposição em pares como dia e noite, frio e quente. A natureza é parte da existência como yin (condensação) e expansão (yang), o humano deve aprender e acomodar-se no processo desencadeado pela natureza atendendo as regras cósmicas, diferente do entendimento de natureza como matéria prima (madeira, arvores, climas, peixe, mel etc...) que circundam o humano a serviço de seu bem estar e enriquecimento.
No animismo africano o humano é um ser natural no meio de outros sem oposição e/ou imposição como proprietário. Na Cultura Islâmica a centralidade humana é acrescida por sentimentos pré-ecológicos de convivência e respeito, mas com domínio antropocêntrico.
No pensamento Antropocêntrico de filósofos e cientistas como René Descartes (filosofo, físico e matemático francês do séc. XVII, que acreditava ser a Física o conhecimento que cuidaria da vida e da saúde a partir do domínio e possessão da natureza), Benedict de Espinosa (Filosofo Racionalista Moderno do Séc XVII fundador do liberalismo político) e de Martin Heidegger (Filosofo Alemão do Séc. XX que contribuiu com as bases do Existencialismo) o primado é humano e não há sensibilidade para com outros seres. O Humano é o centro em torno do qual se organiza a totalidade do Ser e da relação que estabelece com outros humanos e os demais seres não tem lugar entre os Deuses (céu) e os mortais (terra), há presença da crítica ao humanismo cartesiano que comunga com a ideia de ser humano inserido na natureza.
Para Francis Bacon (filosofo do Sec. XVII considerado pai da ciência moderna) as ciências e as técnicas organizariam a utilização das ciências atenuando os males e insatisfação, criando e prolongando a vida, formatando novas espécies de plantas e remédios ampliando as fontes de prazer com diferentes possibilidades. Estas previsões cumpriram-se, diminuindo o império humano e expandindo a existência humana como força geofisiológica que interfere diretamente na manutenção da ecosfera.
O Humano deixa de ter a natureza como fundamento da ordem social. Para os Modernos a vida se constrói em torno das necessidades e benefícios da produção de bens diversos aferidos da natureza.
É preciso refletir sobre a solidão desta posição isolada no universo, onde o homem é a fonte dos valores propalados pela modernidade, é preciso reconhecer que os valores da natureza não foram criados por humanos, foram impostos a humanidade que pertence a natureza como afirma Engels (1876).
A vida humana com sua fragilidade, com as limitações objetivas, o equilíbrio da biosfera, o fundamento do humanismo moderno com o princípio de que a humanidade é origem e fim como assinala em 1789 a Declaração de Direitos do Homem. A natureza como matéria destinada a ser apropriada pelo homem com o poder de usar e abusar conforme o pensamento econômico clássico que vê a natureza como fonte prodigiosa e ilimitada de recursos. Este pensamento constitui base do conservadorismo liberal decantado na atualidade.
Jonh Clark, o ambientalista pós-moderno Wade Sikorski, Herbert Marcuse e seu Eros de civilização, Justus Van Liebig (químico especializado em agricultura), Malthus, David Ricardo, Jean Paul Deléage, William Petty, Barry Commoner, George Perkins Marsh (criador do movimento de conservação da natureza) se dividem entre o paradigma da humanidade no centro (como predadora, produtivista, machine learning que utiliza para desenvolvimento o mito de Promoteu consumista, desenvolvimentista) e o paradigma que entende a humanidade como fazendo parte da natureza em afinidade construída a partir das relações de produção e de seu desenvolvimento numa crescente busca por respeito do homem em relação a Gaia.
Há ainda o Paradigma que não acredita ser esta relação possível e a cosmologia dos povos originários que apregoam sermos apenas uma frágil parte do cosmo que vive sobre a benevolência das forças que o governam.
“Ainda assim Marx e Engels foram incomuns na ênfase que deram às condições naturais da produção e no reconhecimento do fato de que uma economia sustentável exigia uma relação sustentável com a natureza, em base global. Nesse sentido, os limites naturais constituíram uma parte muito importante do argumento de ambos” (FOSTER, 1999, p.169).
A ideia de cuidado com a natureza aparece em Marx, Engels e Marsh (criador do movimento de conservação da natureza) como alerta para o futuro das gerações quando apresentam os grandes desastres já evidenciados em seu tempo como a desarborização das colinas pelo Povo Maia, para fins agrícola, a pressão demográfica na Ilha de Pascoa (dez mil habitantes para ocupação de 165 quilômetros quadrados) que derrotou o ecossistema esgotando os recursos da Ilha. A sustentabilidade é a esperança onde não haja exploração da força de trabalho e como consequência da natureza.
No coadunar das publicações de Marx, Engels (O Capital, 1867) e Marsh (Man and Nature 1864, que é considerado manual sobre extermínio da flora e fauna) encontramos as ideias questionadora da relação estabelecida entre humanos e natureza.
E a razão desse fato é que, embora Marchal fosse o principal defensor do verde/ecologista de seu tempo, coube a Marx e Engels compreender mais profundamente as condições históricas subjacentes a tal destruição ecológica no século XX. Realmente, uma vez as origens da crise ambiental global devem ser buscadas não na natureza, mas na sociedade, Marx e Engels podem ter muito mais a ensinar hoje sobre o que é necessário para resolver o problema ecológico (FOSTER, 1999 p. 172)
Nas ciências contemporâneas ecológicas busca-se romper com o antropocentrismo conforme entendimento das alianças estabelecidas entre humano e natureza cultuado desde os aborígenes australianos até os defensores da dialética marxista, onde o humano marcou seu lugar crendo que a natureza determina os fins inerente ao entendimento das intervenções que sofre.
A Questão Ambiental e as Lutas Sociais, pelo caminho percorrido até aqui, fica claro que a relação com a natureza vem sendo construída com diferentes entendimentos, muito antes da atual contestação pós-moderna da metanarrativa do Iluminismo (FOSTER, 1999).
Os movimentos dos povos originários e das comunidades tradicionais com posicionamentos diferenciados do Estado e sua máquina de controle da relação entre humanos e natureza, se evidenciam a partir da década de 1960 do século XX em obras como “A Primavera Silenciosa” (CARSON, 1962), e outros trabalhos de Rachel Carson (1962), Ehrlich tratando da questão populacional (1971), nos poemas de Gray Snyder – o poeta verde – para quem as arvores, e as águas eram classes tão exploradas como o proletariado, Barry Commoner (1971) que responsabilizava a tecnologia moderna pela crise ambiental e a “contracultura fortalecida na década de 60 marcando a constituição de movimentos contestadores que abalizam a necessidade de revisão na relação humana com a natureza e apropriação dos seus expedientes.
No século XXI passam a ser utilizados termos como crise ambiental (MUNIZ, 2009), crise civilizatória (LEEF, 2006) oriundos dos impactos da forma de exploração dos recursos naturais.
Entre as décadas de 60 a 90 do século XX a União Internacional para Conservação da Natureza (UICN- 1948) cria fundo próprio (Fundo Mundial para a Natureza –WWF) e estabelece parâmetros internacionais para tratamento da natureza com regulações como a que estabelece a comissão de Parques Nacionais e Áreas Protegidas para promoção, monitoramento e orientação de manejo destas áreas em 1960.
A questão ambiental galgou repercussão global a partir de 1972, com a Conferência Mundial na Cidade de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, promovida pela organização das Nações Unidas (ONU) que atendeu solicitação da Suécia que já vivia a chuva ácida no Mar Báltico. A dimensão globalizante do problema ambiental foi deflagrada com a certeza de que a solução para este tipo de dificuldade implica em negociações que ultrapassam fronteiras e a ideia vigente de soberania nacional não se restringe apenas a questão ecológica, mas antes envolve diferentes dimensões com a necessidade de análise socioambiental com abordagem interdisciplinar, dialogando com diferentes aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais, biológicos e físicos aos processos de causa, efeito e interdependência.
Essa articulação entre diferentes abordagens é tratada na Ecologia Cultural com Leslie White (1943,1949), Julian Steward (1953,1955), V. Gordon Childe (1942), Davi Kopenawa e Bruce Albert (2015), Ailton Krenk (2019). Na Economia Política com Wallerstein (1976), Gunder Frank (1967), Schneider & Scheneider (1976), Hart (1982) e na Ecologia Política com Bertran de Jouvenel (1957), Eric Wilf (1972) e com Paul Little (2001,2004,2006).
Todo arcabouço teórico criado nas academias subvenciona ações e documentos como o Programa para o meio Ambiente das Nações Unidas, a Convenção sobre zonas húmidas em 1975, a Carta Mundial para a Natureza em 1982 e a Convenção sobre diversidade biológica que é discutida e adaptada aos países membros na Rio de 1992.
No Serviço Social brasileiro a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social vem desde 2010 buscando mapear o conhecimento construído nessa área temática através do Grupo de Trabalho e Pesquisa: Questão Agraria, Urbana, Ambiental e Serviço Social tendo como uma de suas metas construir aproximação entre os pesquisadores e as organizações populares e movimentos socias no sentido de fortalecer a formação de futuros profissionais para a construção de conhecimento, entendimento e proposição interventiva na relação entre a sociedade e o ambiente. Como desafio a ser destacado entre muitos pelo GT, a atualização permanente do estado da arte da área temática, ampliando para a interface com as demais.
A temática ambiental desenvolvida por grupos cadastrados na plataforma do CNPq demonstra que os temas referentes à questão agrária, ambiental e urbana (incluindo a ênfase na habitação) estão presentes em todas as regiões do país, com exceção da região Centro Oeste, onde não foi encontrado registro de grupo de pesquisa nas temáticas agrária e urbana. A temática agrária aparece com maior número de grupos de pesquisa (09), na Região Nordeste, seguido da Região Sudeste (08 Grupos). A temática ambiental se destaca nas regiões Norte e Nordeste com 08 grupos de pesquisa, cada Região. (ABEPSS - Relatório GTP Questão Agrária, Urbana, Ambiental e Serviço Social Gestão 2017-2018).
É inevitável e crescente a complexidade da vida humana e a sua fantástica improbabilidade de permanência na Terra como receptáculo destinado a acolher nossa espécie. Hoje o entendimento é antrópico, onde é fundamental reconhecer que o universo é finito, frágil, transitório e precisa de proteção.
Os direitos fundamentais a liberdade e à segurança na sua universalidade, incluem o direito individual e o difuso, o direito das gerações atuais e futuras ao ambiente habitável, o que implica em entender a terra e todos os elementos naturais como parte da vida humana.
Seria um erro ver a solução do problema ecológico como a de rejeitar a modernidade em nome da alguma abstrata e amorfa “pós-modernidade”, rejeitando, ao mesmo tempo, as correntes de pensamento que proporcionam uma crítica sistemática ao capitalismo. Em vez disso, temos que reconhecer que é necessário lutarmos com a modernidade capitalista – e transformá-la. Uma vez que a destruição do mundo vivo como o conhecemos é, se não fizermos alguma coisa, certa, a grande massa da humanidade nada tem a perder, exceto seus grilhões. Ela tem um planeta a salvar (FOSTER, 1999 p,173).
Conclusiones:
Será que o mundo que começou sem a humanidade terminará sem ela como afirma Lévi-Strauss. As diferentes maneiras de estabelecer relação com a natureza e os graves problemas ecológicos não podem ser fragmentados e desvinculados do processo histórico que criou a propriedade privada e a necessidade do consumo sem limites.
Observa-se na linha do tempo que esta forma de organizar a reprodução social se exaure, é preciso urgentemente construir processos revolucionários onde humanidade e ambiente componham a vida e não a morte. O poder da humanidade em relação a utilização da natureza é centralizado e vem diminuindo, pois, a exploração das massas humanas que retiravam da natureza seu sustento vendendo sua força de trabalho, não é mais utilizada.
Afinal qual é o papel do humano na natureza, já que sabemos hoje que a terra é um organismo vivo que existe independente de nós e na atualidade não gera grandes massas de empregos para reprodução da classe que vive do trabalho. O extermínio do planeta está concentrado na mão de uma elite que não consegue mais gerenciar sua exploração.
A terra como sistema vivo tem autorregulação e nos diz que não somos privilegiados e sim, que somos apenas mais uma espécie entre outras que habitam um planeta próprio para a vida, que não apenas a humana, que pode ter fim.
Bibliografía:
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Palabras clave:
Conservadorismo. Conservacionismo. Serviço social