Resumen de la Ponencia:
No Brasil, o estado de São Paulo se destaca por ser representativo de um ramo específico do agronegócio, o da produção canavieira voltada à produção de açúcar e álcool. Presente no estado desde os anos 1950, nas últimas duas décadas, a cana de açúcar espraiou-se por diversas porções do território paulista. No município de Itápolis, região central do estado, ela vem se expandindo sobretudo por meio de práticas de
arrendamento envolvendo usinas de açúcar e álcool e famílias de
sitiantes daquela região. A entrada da cana de açúcar nos
sítios ocasiona, por um lado, mudanças nas condições de vida, nas estratégias produtivas e nas relações com o trabalho na terra. Por outro lado, as práticas de arrendamento, longe de serem homogêneas, configuram uma diversidade de arranjos que pretendo explorar nesse trabalho, já que vem sendo convertidas pelos
sitiantes em estratégias que materializam esforços familiares de seguir trabalhando ou vivendo nos
sítios, ou para permaneceram na condição de
donos ou
proprietários. Se são diversas as formas que uma ordem mercantil encontra para se expandir, naquela região a expansão canavieira parece não suprimir relações sociais fundadas numa ordem moral camponesa: antes, a ela a se articulam, o que confere configurações específicas para aquele espaço rural, que pretendo apresentar nesse trabalho. De forma mais ampla, busco compreender, na perspectiva local, como uma ordem moral camponesa, cujos elementos estruturantes são terra, trabalho e família, se articula a um sistema econômico fundado na expansão canavieira, conferindo a essa expansão contornos próprios naquela localidade. Para tanto, nesse trabalho, parto da reconstrução da trajetória de uma família de
sitiantes do município, por considerar que se trata de uma trajetória representativa dos aspectos que pretendo elucidar, destacando seu histórico de acesso à terra, suas estratégias atuais de reprodução e ou reconversão social, lógicas de sucessão na terra e os sentidos da transmissão do patrimônio familiar. Pretendo, assim, evidenciar elementos que possibilitem ampliar a compreensão sobre lógicas de pertencimento que presidem práticas econômicas, e sobre os imbricamentos entre valores sociais e comportamentos econômicos, indagando sobre as dimensões não-econômicas de uma economia camponesa, e lançando mão de uma abordagem que considere a economia como imersa no conjunto de relações sociais e valores morais.