Justificación del Panel:
Na celebração dos centenários de Darcy Ribeiro (1922-1997) e de Florestan Fernandes (1920-1995), expoentes brasileiros das ciências sociais latino-americanas, cabe trazer os respectivos legados a lume, pressupondo a vitalidade de seu pensamento crítico. O painel divide-se em dois momentos, sendo o primeiro voltado a Darcy Ribeiro e à sua obra, quer sobre a América Latina quer acerca da universidade latino-americana, tendo como pano de fundo o colonialismo, a “modernização reflexa” e o apagamento das “diferenças” no continente, em conexão à sua aposta reiterada na construção de uma consciência crítica. Articula-se a reflexão acerca de Darcy Ribeiro àquela sobre Florestan Fernandes que, nos anos 1960-70, marcados pela violência de Estado em distintos países na América Latina, recorreu, como o primeiro, ao exílio, quando, em círculos intelectuais inéditos, redirecionou seus estudos anteriormente focados na experiência brasileira para uma perspectiva mais abrangente e comparada, a latino-americana. Assim como a ênfase descolonizadora de Darcy Ribeiro aprofundou-se quando este se descobriu “cidadão latino-americano”, pode-se afirmar que há uma mudança na sociologia produzida por Florestan Fernandes, nos trânsitos internacionais vividos naquelas décadas, assim como em seu engajamento político. Pretende-se, também, oferecer algumas hipóteses, a partir da revisitação de sua trajetória, acerca da configuração da disciplina no continente. A busca de uma atualização do pensamento de Darcy Ribeiro vai destacar as intervenções decoloniais/descoloniais que se fazem presentes em sua obra e nos projetos assumidos. Assim, a primeira exposição trará
As Américas e a Civilização (1968), que exibe o descentramento da história das civilizações e pressupõe que a unidade latino-americana como contra-hegemonia à “modernização reflexa” não se dá sem o reconhecimento de sua heterogeneidade. A segunda apresentação propõe o debate de Darcy Ribeiro acerca da “universidade necessária” na América Latina, confirmando o papel central das interculturalidades e, portanto, seu antagonismo ao padrão de poder colonial/moderno.Nas terceira e quarta exposições, a retomada de Florestan Fernandes, mediante pesquisa histórico-documental, enfatizará a inflexão de seu pensamento na experiência latino-americana, quando a sociologia brasileira parece se descobrir parte de um movimento intelectual maior que une países para pensar a superação do capitalismo periférico. Paralelamente, tais discussões, travadas em contextos de luta pela democratização, apontam para rumos mais radicais, que marcam um fragmento de geração de cientistas sociais dos anos 1960-70 na América Latina. Em suma, as explanações em torno das ideias de Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes em seus itinerários latino-americanos evidenciam a força das ciências sociais produzidas, o protagonismo da universidade e a história de um campo de saber geopoliticamente localizado.