El interés por el placer sexual ha sido un asunto recurrente en distintas sociedades a lo largo de la historia de la humanidad. La aparición de la protosexología, el psicoanálisis y la sexología a principios del siglo XX reinició un antiguo debate en torno a las prácticas sexuales y al modo de vivenciar el placer sexual, el cual se agudizaría en los años 60 con Foucault, los feminismos y los estudios críticos. Desde entonces ha florecido una creciente bibliografía sobre el cuerpo, la sexualidad, los derechos sexuales, la homosexualidad, el transgenerismo, las disfunciones sexuales y el orgasmo, pero ha disminuido la atención en el placer sexual y sus múltiples expresiones. Por ello esta investigación tiene como objetivo analizar el contenido y alcance de artículos sobre el placer sexual publicados en revistas científicas especializadas en ciencias sociales. Para alcanzarlo se realizó una investigación documental a partir de una base de datos especializada con 2027 artículos. Los resultados de la investigación documental revelan que se trata de un objeto de estudio con poca investigación, pero con múltiples alcances en la estructuración de los individuos y sus interacciones. Se identifican también diversas rutas para acceder a la investigación del placer sexual: estudios del cuerpo, género, identidades, representaciones sociales, políticas, prácticas sexuales e identidades sexuales y lo son también las disciplinas desde las que se analiza. Como conclusiones destaca la configuración del placer sexual desde la tensión y el conflicto, el peso de discursos especializados en su definición, valoración, aceptación y exigencia; la equiparación del placer sexual con el orgasmo, la centralidad del coito y la predominancia de la heteronormatividad.
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Las emociones en el cortejo y noviazgo en tres generaciones de hombres y mujeres heterosexuales de Colima y Guadalajara, México
La ponencia analiza, desde un enfoque cualitativo, las emociones que experimentaron tres generaciones de hombres y mujeres urbanos heterosexuales al momento de cortejar y formalizar un noviazgo con miras a casarse o cohabitar. Los relatos y emociones surgieron de manera espontánea entre las y los entrevistados al preguntarles las motivaciones subjetivas y normas sociales sociales que siguieron al momento de elegir pareja. El corpus está compuesto por 82 entrevistas realizadas en las ciudades de Colima y Jalisco, en el occidente de México, entre septiembre de 2019 y mayo de 2020 y forman parte de una investigación de más amplio alcance realizada por un grupo de investigación compuesto por investigadoras de tres universidades mexicanas. La investigación contribuye a conocer, por medio de las emociones, la formación de parejas y con ello identificar las similitudes, continuidades y cambios generacionales. Asimismo, el conocimiento generado contribuye a explicar, desde las emociones - en particular el amor y la intimidad - la formación de familias. Este conocimiento complementa la discusion y hallazgos cuantitativos hechos por la demografía y la sociodemografía desde mediados del siglo XX y a partir de los censos y cuentas nacionales, sobre la formación de parejas. La mayor parte de estos estudios sustentan su discusión en un solo grupo etario y en su mayor parte mujeres, desde donde explican las persistencias y cambios estructurales en los que la manera en que la modernidad ha transformado la intimidad y producido emociones específicas en el emparejamiento se deducen más que estudiarse. De esta manera, al aproximarme a la comprensión de los por qués de la formación de parejas - y por ende de familias - desde la subjetividad y las emociones y desde la sociología, se amplía la comprensión del emparejamiento desde los procesos subjetivos, mismos que rara vez son abordados por esas disciplinas. El análisis y la discusión de los resultados se plantea desde la constelación de emociones de Enríquez (2009), el vocabulario emocional de Gordon (1990) y Le Breton (2009), y las reglas del sentir (Hoschschild, 1990).
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Por uma sociologia weberiana do amor: das esferas de valor ao capital erótico no século XXI.
o objetivo central deste trabalho está posto no exercício de uma aproximação conceitual entre a esfera erótica de Max Weber (1964-1920) e o conceito de capital erótico como pensado por Eva Illouz e Dana Kaplan (2020). Pretendo cotejar as distintas construções teóricas para tirar delas pontos de contato e tensão, atentando para o elemento contextual de suas confecções e para o desenvolvimento de uma dimensão afetiva autônoma durante todo o século XX. O trabalho aqui desenvolvido se insere em um projeto de mais longo alcance que tem como uma de suas finalidades inventariar as formas e os usos do raciocínio sociológico aplicado a compreensão do amor enquanto fenômeno social, procura-se apresentar as mudanças na constituição de ideias, conceitos e teorias como parte de um processo de transformações históricas pelas quais passaram as relações humanas, estendendo a reflexividade também para a elaboração do trabalho sociológico enquanto resposta aos dilemas apresentados no mundo tardo-moderno.
Introducción:
O amante se sabe implantado no cerne do verdadeiramente vivo, daquilo que é para sempre inacessível a todo esforço da razão; ele se sabe completamente solto das frias mãos esqueléticas das ordens racionais, bem como da mesmice do cotidiano.[1]
A multifacetada e complexa obra de Max Weber (1864-1920) continua oferecendo guarida aos sociólogos com um manancial de conceitos, teorizações e problematizações que enriquecem o nosso diagnóstico do tempo presente. Um tema ainda pouco explorado nesta seara de investigação é o do amor, em especial, a ideia de esfera erótica e suas implicações para a teoria do conflito dos valores e da racionalização do mundo. A esse respeito, nada melhor que evocar uma passagem do próprio autor:
O amor experiente do homem maduro está para o entusiasmo passional do jovem assim como a seriedade mortal da erótica do intelectualismo está para o amor cortês de cavalaria: intelectualizada, essa erótica vem reafirmar, só que agora de modo reflexivo, justamente o lado natural da esfera sexual como potência criadora corporificada (WEBER, 2016, p.391-392, negrito nosso).
A potência criadora e corporificada do sexo constitui valores amorais e princípios que legitimam a experiência humana em sua própria circunscrição social, neste sentido, a racionalização desta esfera potencializa a experiência extracotidiana e permite uma espécie de redenção intramundana. Mas essa emergência de uma ordem da vida autorreferente – e intimamente ligada ao corpo – produziu uma série de ciladas que foram sendo catalogadas pela sociologia durante o último século (GIDDENS, 1993). A emergência da virtualização dos afetos, dos aplicativos de relacionamento e das novas formas de amor à distância constituem um lócus privilegiado para o estudo das contradições sociais resultantes da secularização dos amores tardo-modernos.
Este trabalho tem como principal objetivo resgatar o conceito de esfera erótica para pensarmos nas transformações da intimidade no século XXI, atentando para as relações entre os afetos nas redes sociais e colocando à prova a ideia de capital sexual como pensada por Eva Illouz e Dana Kaplan.
Para desenvolver tal empreitada faremos o seguinte percurso: abordaremos a concepção de esfera erótica como proposta na Consideração Intermediária levando em conta sua função analítica dentro da teoria das Rejeições Religiosas de Mundo e suas Direções (WEBER, 2016); e, na sequência, será a vez de apresentar a teoria do capital sexual de Illouz e Kaplan (2020), também valorizando seu legado interpretativo e a relevância desta obra para as reinterpretações da teoria dos capitais aplicada a esfera sexual.
[1] Essa passagem do subcapítulo da esfera erótica foi aquela que mais me impactou na primeira leitura do texto de Weber (WEBER, 2016, p.391). Fiquei completamente boquiaberto com a ideia de que se pensasse no erotismo como uma forma de libertação do inexorável processo de racionalização do mundo lá pelos primeiros anos do século XX. Foi essa passagem, inclusive, que me instigou a desenvolver um projeto de pesquisa sobre a erótica, seu contexto de confecção e a função das Rejeições Religiosas do Mundo – subtítulo da Consideração Intermediária – para com o concerto geral da Ética Econômica das Religiões Mundiais (EERM), o grande projeto de estudos empírico-históricos da sociologia weberiana.
Desarrollo:
1. A esfera erótica em seu enquadramento teórico e conceitual
Quem conhece a obra de Max Weber para além da Ética Protestante e alguns capítulos de Economia e Sociedade encontra, quando se apropria da “Consideração Intermediária”, um texto bem diferente do usual, pois Weber é conhecido por um estilo de escrita que lembra o “juridiquês” nominalista típico dos manuais classificatórios tão comuns naquele período germinal do pensamento sociológico. A esfera erótica é carregada de passagens poéticas, cheias de insights e referências históricas no próprio corpo do texto[1] que surpreendem o leitor acostumado a “caçar” passagens deste tipo em centenas de páginas pouco inspiradoras.
A Consideração Intermediária é um texto sui generis que apresenta uma teoria que tem como principal objetivo escrutinar os pontos de conflito do tipo ideal da ética da fraternidade[2] com os diferentes subsistemas sociais autorreferenciados e legitimados por si mesmos, são eles: esfera econômica, esfera política, esfera intelectual, esfera doméstica esfera erótica e esfera estética. As quatro primeiras são esferas de valor racionais – quer seja formal ou materialmente – e as duas últimas são as esferas que resguardam certa irracionalidade, somando-se a esta dupla do gozo (sexual e estético) àquela destinada ao júbilo sagrado, pois a religião também carrega sua dose de irracionalidade com o misticismo e a magia e pode, por isso, dar sentido a existência do homem no mundo.
No contexto geral da obra de Max Weber a “Teoria das Rejeições Religiosas do Mundo e suas Direções” adquire paulatinamente relevância para o projeto da Ética Econômica das Religiões Mundiais (EERM), saindo de um mero esboço em Religiöse Gemeinschaften – capítulo V de Economia e Sociedade – para o centro do principal conjunto de estudos histórico comparativo de Weber, como uma espécie de subsídio teórico intermediário cuja função seria ilustrar os tipos de tensão possíveis entre as religiões mundiais “eticizadas” e as diferentes ordens mundanas mais ou menos autonomizadas e legitimadas conforme o grau de racionalidade da sociedade correspondente. Portanto, o texto não promete uma construção detalhada das esferas, mas, isso sim, entendê-las em suas contradições para com o fenômeno religioso, destacando em que sentido o processo de secularização intensifica as lutas entre cada uma das esferas e a religião.
Após esse pequeno excerto sobre a “biografia da obra”, podemos observar mais detidamente o conflito entre ética da fraternidade religiosa e esfera de valor aplicada especialmente ao caso da erótica:
A retirada do conjunto dos conteúdos da existência humana para fora do ciclo orgânico da existência camponesa e o crescente enriquecimento da vida com conteúdo culturais, fossem intelectuais ou de outro gênero, dotados de valor supraindividual, ao separar o que era conteúdo da vida do que era meramente um dado da natureza, atuaram simultaneamente no sentido de reforçar a posição especial do erotismo. Ele foi alçado à esfera do gozo consciente (o gozo no sentido mais sublime da palavra). Não obstante isso e precisamente por causa disso, o erotismo, em contraste com os mecanismos de racionalização, deu-se a ver como uma porta que se abre para o cerne mais irracional e por isso mais real da vida (WEBER, 2016, p.388).
A parte final é a que mais me chama a atenção sempre que passo os olhos por sob esta passagem do texto: “abrir uma porta para o cerne mais irracional” e, por isso mesmo, o mais real da vida, significa quase o mesmo que dizer que os pares realidade e racionalidade são antinômicos. A experiência do real é caótica e irracional, enquanto que as tentativas de racionalizá-lo caem sempre sob os auspícios de uma sensação de falsidade ficcional. Quão mais apartado do ciclo orgânico da existência vai se tornando o Homem, mais intensa é a sua necessidade de experimentar uma espécie de redenção intramundana através da experiência sexual e, por sua vez, quão mais importante vai se tornando a sexualidade, mais intelectualizada e culturalmente sublimada vai se elaborando essa experiência, do naturalismo ingênuo camponês até os laboriosos artifícios do hedonismo sexual.
Esse é o movimento que Weber pretende desenvolver durante seu percurso analítico, primeiro abordando as origens ocidentais do erótica até o diagnóstico do tempo presente, isto é, das relações homoeróticas do mancebo ateniense até as tensões irreconciliáveis entre o asceta vocacional e o sensualista sem coração. É isso que o quadro abaixo tentar sumarizar de modo descritivo e esquemático:
Da Grécia pré-clássica, onde a mulher era praticamente um objeto de conquista semelhante a qualquer outra riqueza material, até a cultura dos salões, duas dezenas de século se passaram e, no entanto, as tendências de desenvolvimento seguiram uma certa lógica de evolução[4], ainda que se acomodem a uma série de descontinuidades dentro do modelo construído pelo autor. A intensificação da erótica intelectualmente – conversação intersexual, trova, troca de olhares e sedução – sempre está associada a figura da mulher, em especial da Dama como mediadora das etapas de desenvolvimento do erotismo; por sua vez, o homoerotismo é tratado como uma espécie de brutalização[5] dos afetos, tendo em vista que o autor identificava-o com uma masculinização das condutas sexuais.
Ainda que tenha os seus limites, o modelo permanece interessante quando tratamos de observar que o desenvolvimento erótico conjuga a intelectualização das condutas com a expansão irrestrita da extracotidianidade, ou seja, com o aspecto mais irracional e, por isso, mais poderoso da experiência erótica. A dimensão extraordinária do fenômeno canaliza a experiência da paixão como uma forma de comunhão experimentada como unificação completa: uma “comunidade que é sentida como um pleno tornar-se um [volle Einswerdung], uma vertigem no “tu”, uma comunidade tão intensa que só pode só se explica “simbolicamente”: como sacramento” (WEBER, 2016, p.391).
A intelectualização como espécie de racionalização subjetiva, prática e imoral é encarnada em uma atitude que permite aos amantes alcançarem essa intensa sensação que se assemelha ao êxtase orgiástico de algumas religiões ancestrais. Esse é exatamente o motivo para o conflito maior entre a religião ética de salvação e a sexualidade intelectualizada, ambas concorrem por dar sentido a experiência humana, entretanto, a salvação proporcionada pelo erotismo acontece no aqui e no agora, de maneira individual e imoral; enquanto que a salvação das religiões éticas tem como finalidade o futuro paraíso eterno. Por isso, a religião rejeita a sexualidade e só permite a sua existência se regulamentada por um código matrimonial estrito que, no caso mais radical, tratava de (re)naturalizar o sexo para conduzi-lo ao único objetivo que seria aceitável ao protestante puritano: a procriação da espécie.
Uma das boas críticas que a religiosidade eticamente determinada aponta para essa forma de experimentação da salvação individual está posta na pretensa unificação completa dos amantes, pois para a ética da fraternidade esse sentimento não passaria de um gozo sofisticado de si mesmo no outro, “uma violação da alma do parceiro menos brutal” (WEBER, 2016, p.392) porque não seria sentida como dominação, mas sim vivenciada como paixão irresistível. Aqui reside a sombra da dominação que parece estar dissimulada pelas poderosas sensações estimuladas pelo romantismo primaveril, portanto, uma forma de salvação e libertação que pode acabar se tornando uma prisão ainda mais rigorosa, porque firmemente estabelecida sobre a dependência emocional das partes[6].
A solução que Weber parece oferecer para este terrível imbróglio, entre uma sexualidade completamente castrada e “naturalizada” pela religião e o tratamento do amante como um mero meio para se obter o orgasmo desejado, seria o retorno ao matrimônio, dado que:
De um ponto de vista puramente intramundano, somente a junção do matrimônio com a ideia de responsabilidade ética recíproca – uma categoria da relação que é heterogênea a esfera puramente erótica – poderia contribuir com o sentimento de que pode haver algo de singular e sublime nas modulações por que passa o sentimento amoroso consciente de sua responsabilidade no percurso orgânica da vida em todas as suas nuanças: “até o pianíssimo da velhice”, com crédito mútuo e débito mútuo (no sentido de Goethe). Raras vezes a vida o concede puro: aquele a quem for concedido, que fale de fortuna e graça do destino – mas não: de “mérito” próprio. (WEBER, 2016, p.393-394).
Então, somente o matrimônio livremente regulamentado pelas partes é que poderia garantir algum valor a relação sexual para além do malfadado naturalismo religiosamente determinado e também do efêmero encontro sexual. Mas isso não é resultado de um esforço de qualquer uma das partes ao qual se possa atribuir deméritos e virtudes; a bem da verdade, apenas a chancela da fortuna e da destinação típica dos casos de afinidade eletiva é que permitiriam a sorte de um amor tranquilo. Uma resposta completamente diferente daquela dada pelos movimentos eróticos que proclamavam a substituição das antigas e inautênticas formas de experiência dos relacionamentos pelo amor livremente constituído e experimentado sob outras formas de organização social que não as do capitalismo moderno[7].
2. O Capital Sexual de Eva Illouz e Dana Kaplan
Um dos potentados da modernidade é o da separação daquelas circunscrições sociais nas quais residiam os vínculos familiares, as relações intimas e a autenticidade plena dos indivíduos, das dimensões consideradas impessoais, mundanas, seculares, ou seja, a separação entre o público e o privado. Os relacionamentos familiares e amorosos serviriam como espécies de equilibradores da racionalidade instrumental, oferecendo um alívio frente ao cálculo mecânico e egoísta do mundo moderno.
Desta distinção binária surge outra, pois se o sexo era algo íntimo e interno ao relacionamento de duas pessoas no seu âmbito privado, qualquer tentativa de torná-lo público ou mercantil seria visto como nefasto para aqueles que se envolviam nessa prática, portanto, surge desta conjuntura objetivo/cognitiva uma distinção entre o sexo que era considerado bom e aquele que era ruim: o primeiro era o matrimônio eticamente regulamentado e o segundo era aquele que se fazia na rua (ou nos bordeis) em troca de dinheiro. A negociação da intimidade (ZELIZER, 2011) foi colocada sob suspeita, sendo que tanto o trabalho doméstico quanto o sexual deveriam ser considerados dádivas isentas de qualquer vínculo com as trocas mercantil; deste modo, o trabalho de reprodução feito pelas mulheres continuou sendo desvalorizado – tratado como obrigação ética e entrega mais humana – servindo perfeitamente ao processo de acumulação capitalista.
Esse arranjo no qual os homens descansavam suas existências nas esferas da vida desinteressadas foi sendo progressivamente substituído por uma distinção menos antagônica entre sexo bom ou mau, desta forma, a prostituição no final século XIX passou a ser tratada como algo positivo, uma descarga de energia pulsional e até, como denunciou Simmel[1], uma forma de manutenção da estrutura de estratificação instituída durante aquele século. A frugalidade e o moralismo sexual puritano foram aos poucos cedendo lugar as novas e antigas formas de experimentação dos sentidos, iniciando-se uma nova era de consumo estendido também para o âmbito privado e, consequentemente, um espaço no qual poderiam se desenvolver formas de aquisição e conservação dos recursos sexuais. É deste cenário que depreende a constituição dos tipos abaixo tabulados:
Do ponto de vista espaço/temporal o capital sexual por defeito seria o primeiro no processo histórico, estando ainda resguardada a separação entre sexo bom e mau junto aos mercados matrimoniais regulados pela distinção entre público e privado. A dessexualização da mulher, sua psicologização primeira e a medicamentalização do seu corpo estão intimamente ligados com o processo de produção e acumulação capitalista, a reprodução social precisava democratizar as mulheres, oferecendo para cada homem sua esposa como garantia gratuita da reprodução da força de trabalho.
O segundo tipo de capital reflete uma mudança histórica ocorrida entre o final do século XIX e início do século XX, o erotismo recobra os sentidos e a necessidade de experimentação dos jogos do desejo vai ganhando autonomia sobre a pudica sexual vitoriana. Os grandes empresários fabris percebem que seria necessário “docilizar” os corpos dos seus empregados por meio de uma dominação que levasse em conta a sexualidade dos seus operários, o freudismo ganha destaque e passa a operar como um dos grandes motores de arranque dessa nova subjetividade.
Para que a sublimação fosse consumada os homens e as mulheres precisavam destinar parte de sua energia pulsional ao sexo – que deveria ser bem feito, pois assim eles trabalhariam melhor! –, anestesiando os componentes disruptivos da sexualidade e transformando o próprio corpo em uma superfície de consumo. Portanto, é muito mais do que apenas a mercantilização do trabalho sexual – que sempre existiu – ou o tráfico de produtos sexuais, é, isso sim, a constituição de formas e espaços legítimos para a socialização sexual, a construção social de um mercado consumidor adequado ao estímulo e exposição do desejo erótico.
O terceiro tipo é quase que o resultado lógico do desenvolvimento predecessor, pois se trata da consolidação dos espaços de sociabilidade abertos, agora, as novas – e velhas formas – de experimentação sexual. Os clubes, bares, casas de swing e tantas outras localidades vão aos poucos construindo redes de relações, separando-se em vários subgrupos e culturas próprias a experimentação da sexualidade, acompanhados pelas identidades que tornam-se cada vez mais descentralizadas, plásticas e reorganizadas em múltiplas camadas de sentido e prática. O gênero ganha conotação performática, fluida e transitória, adequando o mercado sexual as suas novas demandas e, também, incorporando as lógicas econômicas aos seus estatutos heterodoxos.
O quarto e último capital, ou melhor, a última forma de apresentação deste capital na tipologia e, portanto, sua expressão final no tempo presente, ocorre quando essas posses – já estabelecidas em mercados de trabalho e consumo e também constituídas em esferas autônomas e autorreferentes de expressão da sexualidade como performance individual, com um estilo de vida típico de grupos sociais intelectualizados – assumem uma função na luta pela conservação e reprodução de uma classe social que mantém-se insegura diante do novo arranjo econômico do neoliberalismo, em outras e melhores palavras:
O capital sexual tardo moderno descreve a distribuição desigual do sexo como capital humano. Algumas pessoas são mais propensas do que outras em obter autoestima a partir de sua vida sexual e também estão em melhor posição para utilizar seu capital sexual em sua vida profissional [...] Concluímos propondo que o capital sexual moderno tardio não está só configurado pelo capitalismo neoliberal, senão que legitima e ajuda também que este avance” (ILLOUZ; KAPLAN, 2021, ps.314-321, tradução nossa).
As autoras entendem não só que a sexualidade e o erotismo tenham sido mercantilizados, mas que também são utilizados como espaços de disputa e como formas de acumulação e conservação de poder simbólico. O sexo recreativo, o estilo de vida liberto dos constrangimentos sociais e mesmo os matrimônios constituem-se como formas legítimas de acumulação de capital sexual que pode ser intercambiado em outras esferas da vida, ou seja, servem junto com capital intelectual, social e econômico como critérios de distinção e troca válidos para um mundo no qual os jogos de poder se espraiam até as raias da existência mais reclusa, tiranizando com intimidades a vida pública e publicizando cada aspecto da vida privada. A grande novidade da perspectiva das autoras se resume ao abaixo ilustrado:
O capital sexual moderno é uma forma autodirigida e auto derivada da autoridade da classe média. As relações de classe se reproduzem mediante interações cotidianas – especialmente as que tem lugar no trabalho. Tradicionalmente a autoridade e o privilégio social da classe média foram estabelecidos e reproduzidos dentro dos entornos profissionais. Contudo, a questão agora é o que constitui a autoridade da classe média, já que cada vez menos membros da classe média realizam carreiras professionais estáveis e gozam de segurança laboral. Em outras palavras, quando o emprego é tão precário, os sujeitos da classe média ficam com pouco mais do que suas próprias capacidades afetivas inatas e, no nosso caso, relacionadas com o sexo, para restabelecer sua autoridade (ILLOUZ; KAPLAN, 2021, ps.924-932, tradução nossa).
Por isso, o capital sexual torna-se tão importante para as camadas médias, pois é através dele – e cada vez mais dele – que elas podem resgatar sua autoridade perdida cujos capitais intelectuais e sociais não podem mais recompor. Desta forma, Illouz e Kaplan assumem um conceito de capital erótico que tem historicidade e que acaba espelhando uma teoria que se pretende explicar o declínio de estabilidade e segurança das classes médias ocidentais. A expressão dos afetos e emoções passa a ser um grande capital, porque, no fundo, é o corpo que sobra para ser manipulado, valorizado e intercambiado em tal cenário de total trituração da estrutura de estratificação social e dos seus mecanismos de reprodução social.
[1] Em um artigo ainda no ano de 1892, Georg Simmel (2006) denunciava o uso da prostituição como forma de manutenção dos longos períodos de noivado que os burgueses aristocratas alemães contraiam enquanto estavam expostos ao processos de formação profissional, tendo em vista que muitos destes jovens só alcançariam a autonomia financeira após a admissão no serviço público ou no setor privado por volta dos trinta anos. Sobrava, portanto, a prostituição como forma de descarga sexual e experimentação da sexualidade.
[1] Em Economia e Sociedade o texto teórico é sempre acompanhado por alguns exemplos históricos e discussões mais contextuais que aparecem segundo algumas edições em letra menores, como se fossem notas adicionais aos tipos ideais ali expostos em fontes maiores.
[2] A ética da fraternidade é um tipo ideal contraditório, pois se refere mais ao tipo de ética do catolicismo e de outras religiões culturais do que o protestantismo, embora também seja usado para sintetizar a religiosidade ética puritana e luterana. O próprio Weber afirma que o puritanismo não seria uma ética da fraternidade completa, pois enseja a salvação individual e não coletiva, flertando, certas vezes, com um utilitarismo que pouco dialoga com o espírito da fraternidade de uma coletividade religiosa.
[3]Não é que a homossexualidade não ocorria no período do asceta vocacional (ou nos outros supracitados), é que ela não é tomada – por Weber – como direção determinante da experiência erótica no específico período descrito.
[4] O conceito de evolucionismo, pela carga negativa que ganhou na sociologia, foi substituído pelo termo developmental, cuja feia tradução para o português – desenvolvimental – dialoga muito pouco com qualquer tradição do pensamento social. A ideia proposta é a de um desenvolvimento sem valoração normativa ou necessidade de etapas, uma evolução de um certo quadro em uma direção prevista ou não, sem um fim teleológico e passível de toda sorte de desvios promovidos pelo contexto histórico mais amplo.
[5] Um claro limite do pensamento weberiano quando deixou de tratar da homossexualidade como direção passível de intensificação intelectual no erotismo. Contudo, quando olhamos para o quadro geral de contribuições de seus colegas – Sombart e Simmel, por exemplo – não vemos nenhuma menção ao homoerotismo, o que demonstra que Weber estava bem longe do atraso de perspectiva levando em conta o período histórico em que viveu.
[6] Uma boa aproximação poderia ser feita entre a problemática da codependência em Giddens (1993) e essa concepção de dominação do companheiro menos brutal de Weber. Enquanto o segundo acredita que exista uma possibilidade de democracia emocional, o primeiro aponta para a insustentável e paradoxal leveza do ser. Nesse sentido, Bourdieu e sua visão do amor fati conversam muito melhor com os dilemas do erotismo em Weber do que o otimismo de Giddens e Beck.
[7] Otto Gross associou sua crítica ao processo de subjetivação dado na socialização primária familiar à crítica do Estado capitalista de cunho marxiano, especialmente depois da 1ª Guerra Mundial, com uma teoria da formação da psique que se amparava em Freud para propor uma revolução sexual como primeiro passo para a transformação social (PEDRON, 2021.c.).
Conclusiones:
Poderíamos afirmar que o capital sexual por defeito dialoga com a última “fase” de intensificação da esfera erótica de Max Weber, pois a tensão entre o ascetismo vocacional e o hedonismo erótico impelia a ética da fraternidade para um renaturalização da sexualidade cultivada, uma deliberada ênfase no naturalismo que inclusive Sombart (1958) denunciava como o fim do período luxuoso que os déspotas esclarecidos haviam financiado graças ao déficit público[1]. Neste período, é a ausência de sexo que era premiada, tendo em vista que a castidade era um bem supremo cuja destinação matrimonial para a reprodução coroava como o summum bonum da tradicional pudica burguesa.
Aliás, um ponto de contraste bem aparente se coloca no papel da religião que, na tipologia dos capitais de Illouz e Kaplan, parece residir apenas durante a formação “negativa” do recurso relacional, pois o desenvolvimento do estudos sobre psicologia e sexualidade foram pivôs de uma mudança intensa na forma como trabalhadores, empregadores, médicos e representantes do Estado viam o sexo na vida individual. O moralista religioso foi substituído pelo médico – coisa que Max Weber já observara em uma desconhecida nota de rodapé da Ética Protestante (WEBER, 2021, p.216 n.216) – e a libido passou a ser tratada como objeto de manipulação, haja vista que se tornara um problema de saúde importante para a exploração do trabalho.
Este balanço final conecta a origem de minhas preocupações ao estado final, operando uma aproximação entre a reflexão pioneira sobre o erotismo empreendida por Weber junto àquela destinada a compreender as relações amorosas em um mundo cada vez mais mercantilizável e, portanto, passível de calculabilidade extrema, como no caso dos aplicativos de relacionamento e seus algoritmos que classificam e selecionam parceiros segundo o “gosto” identificado como sendo do usuários. Mesmo assim, a fórmula do amor permanece socialmente imbricada – como bem demonstrou Maria Chaves Jardim (2019) – e, por isso, passível de compreensão nos marcos de uma análise sociológica que prima pela dimensão da ação social e simbolicamente situada.
Neste sentido, a concepção de capital sexual possui uma dimensão analítica interessante, pois permite tanto que compreendamos esse desenvolvimento do amor de atributo desimportante – como nas primeiras etapas da esfera erótica – até tornar-se fundamento de valores específicos, recurso relacional que permite aos diferente atores de uma sociedade uma melhor vinculação as estruturas de reprodução social e, mais propriamente, como o fator chave na estratégia de consagração social de uma classe média empobrecida dos seus capitais simbólicos pelo neoliberalismo triunfante.
Por fim, a aproximação com a obra de Max Weber, no meu entender, facilita uma compreensão histórica de mais longa data deste processo e, também, oferece outro modelo analítico para reinterpretação do capital sexual que não apenas o bourdiesiano. Portanto, a combinação, contraposição e utilização destas abstrações teóricas para o estabelecimento de um diagnóstico de tempo presente parece ser uma ótima pedida para investigações futuras.
[1] Uma passagem esclarecedora a esse respeito foi levantada da pena de Lavoisier por Werner Sombart da seguinte maneira: “250 milhões se gastam em artigos de consumo para as pessoas e 10 milhões, no tocante aos cavalos (anualmente). Que recursos se aplicavam para liquidar 260 milhões? [...] Cerca de 20 milhões produzidos pelas indústrias de exportação e comércio, 140 milhões são pago com ajuda da dívida pública e salários, e 100 milhões procedem das rendas territoriais e dos benefícios de homens de negócio (de empresas exteriores) que em Paris irão fazer suas compras (1958, pp.51-52, tradução nossa).
Bibliografía:
GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor & erotismo nas sociedades modernas. São Paulo, SP: UNESP, 1993.
ILLOUZ, Eva; KAPLAN, Dana. El capital sexual em la modernidad tardía. Traducción Vicente Merlo Lillo. Barcelona: Herder Editorial, 2021. Ebook
JARDIM, Maria Chaves. Para além da fórmula do amor: amor romântico como elemento central na construção do mercado do afeto via aplicativos. Política & Sociedade: Revista de Sociologia Política (UFSC). v.18, n.43, 2019.
PEDRON, Caio César. A Gênese Social do Contexto de Emergência da Esfera Erótica Weberiana. Dissertação (Mestrado em Sociologia) Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, p.210. 2019.a.
PEDRON, Caio César. Otto Gross, Max Weber e a erótica livre: salvação intramundana ou revolução sexual? Em Tese (Florianópolis), v. 18, p. 420-440, 2021.c.
SIMMEL, Georg. Filosofia do amor. 3. ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2006.
SOMBART, Werner. Lujo y Capitalismo. Guilherme Davalos Editor, 1958.
WEBER, Max. Parte I - Religiões Mundiais - uma Introdução. In: WEBER, Max. Ética Econômica das Religiões Mundiais: Ensaios comparados de sociologia da religião. Vozes, 2016.
WEBER, Max. A Ética Protestante e Espírito do Capitalismo. Tradução Tomas da Costa. Editora Vozes, 2020.
ZELIZER, Viviana A. Rotman. A negociação da intimidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
Palabras clave:
Esfera Erótica; Capital Sexual; Sociologia do Amor.
#01501 |
Emociones y lugares sociales: bases para una micropolítica de las interacciones de pareja
Esta ponencia coloca en el centro la relación que hay entre las emociones y el poder en la escala de las interacciones sociales. En primera instancia, se plantea que las emociones más que estados internos, gestados en cada individuo, son terrenos políticos en los que podemos observar disputas de poder y desigualdades de todo tipo, incluidas las de carácter emocional. En segundo término, se asume que las emociones, así como la agencia emocional, están estratificadas socialmente: su carácter justificado/injustificado, esperado/sorpresivo, limitado/ampliado son indicadores de expectativas socioculturales que sustentan jerarquías y derechos cotidianos. Y finalmente, se sostiene que las emociones participan de las luchas políticas sobre derechos interaccionales en las relaciones sociales, como por ejemplo, en las relaciones de pareja. Las confrontaciones políticas están asociadas con normas emocionales, refugios emocionales, disonancias emocionales, trabajos emocionales orientados a ajustarse a las normas, pero también a ponerlas en cuestión y desafiarlas. La discusión teórica que se presenta recupera aportaciones de autores importantes de la sociología de las emociones y de la interacción como Erving Goffman, Candace Clark, Arlie Hoschchild y William Reddy. El interés de esta discusión es mostrar como las experiencias emocionales, su expresión e intensidad, en las relaciones sociales cotidianas sirven para detectar jerarquías relacionales, para identificar el reclamo de lugares sociales de quienes ocupan posiciones subordinadas. La clase de relaciones que he analizado bajo estas premisas teóricas son las relaciones de pareja heterosexuales. Se presentan algunos hallazgos empíricos sobre las disputas de lugares sociales en este ámbito para mostrar como las emociones, como los celos, el enojo o la indignación, están estratificados en las relaciones de pareja y muestran desigualdades emocionales asociadas con otras desigualdades sociales. En particular, se destaca como las emociones son una vía clave para el análisis empírico de la micropolítica de la vida cotidiana, esto es, para observar la creación y negociación de jerarquías; la obtención o pérdida de un lugar social en las interacciones diarias. Los ejemplos empíricos provienen de un análisis específico de la micropolítica de las relaciones de pareja.
#01967 |
STRIPPERS MASCULINOS PARA PÚBLICOS FEMENINOS EN MÉXICO: CAPITAL ERÓTICO, ESTRATEGIAS PERFORMATIVAS Y PANDEMIAS
La presente investigación cualitativa se propone desnaturalizar la oferta del striptease masculino para públicos femeninos en Ciudad de México. La observación participante se realizó no sólo en escenarios mexicanos, sino también en el extranjero. Los hallazgos del estudio permitieron visibilizar; por un lado, un trabajo sexual masculino que no padece del estigma social, como sus pares mujeres; por el otro, una oferta que reitera y normaliza, la heteronormatividad como performance, el racismo y la sobrevaloración del capital erótico. Dicho capital es un activo conspicuo con el que construyen sus estrategias perfomativas los strippers, en su calidad de chulos.El striptease masculino supone un desafío explicativo para lograr entender de qué manera se le representa y qué expectativas y demandas genera dicha representación. En la Europa continental y en Argentina el striptease supone el acabar el acto con un desnudo total y con el falo erecto. En la Canadá francófona culmina con un desnudo también pero con el falo flácido. En la costa oeste de los Estados Unidos, así como en Australia, se privilegia el performance grupal. En la costa este de Estados Unidos es común la interacción y el contacto con la audiencia. En México se han incorporado distintos elementos del baile erótico americano. Sin embargo prevalece un componente que lo singularizan: el capital erótico. Este atributo en el escenario mexicano es sobreestimado y soporta una potente carga no sólo erótica, sino también ideológica. Y es esto lo que lo hace tan particular. Los hallazgos del estudio permitieron visibilizar; por un lado, un trabajo sexual masculino que no padece del estigma social, como sus pares mujeres; por el otro, una oferta que reitera y normaliza, la heteronormatividad como performance, y el racismo endémico en la sociedad mexicana. Los strippers masculinos, cuya teatralización supone desprenderse la ropa sugestivamente para un público femenino, a pesar de ser parte de la industria del striptease y, de ser entendidos como trabajadores sexuales, no se les han prestado atención académica suficiente. De hecho, sobre este tema en particular no se ha publicado ninguna investigación en revistas científicas en idioma español. Y cuando esta actividad ha sido tipificada, su definición resulta limitada y sesgada (Mendieta-Ramírez-Pérez, 2015). El striptease masculino se modificó profundamente a partir de la pandemia del Sida. El performance y las estrategias performativas también se modificaron. Durante la pandemia del Covid las redes sociales –a diferencia de sus pares mujeres, quienes buscan la invisibilización y el anonimato- les han permitido a los oferentes varones para reforzar y reconstruir un branding social en un escenario virtual (también). Es decir, una mayor capacidad para editar a un gigoló mucho más seductor, narcisista y lucrativo.
#03352 |
¿Quién me va a curar el corazón partido? Prácticas, dolores y sufrimientos en el proceso de vivir la tusa
Cuando el amor, aquel sentir que tiene un carácter mítico y mágico al tener la capacidad de generar sensaciones nuevas, reacciones inesperadas, sueños inconcebibles, termina, cuando se genera una ruptura amorosa, se produce una transformación en nuestras vidas, suele colapsar aquello que dábamos por sentado e inicia un proceso conflictivo en el que no se sabe a ciencia cierta, qué hacer o qué no hacer y en el que no solo los sentimientos se ven afectados sino también el cuerpo. Esta investigación hace parte de mi tesis de grado titulada “Ya no sé cuánto me quieres, si me extrañas o me engañas. Cuerpos, dolores y prácticas para vivir el amor y curar la tusa” del área de salud y sociedad de la Facultad de Ciencias Sociales y Humanas con la que opte por el título de antropólogo de la Universidad Externado de Colombia. Así, se hace fundamental comprender los sentires, sufrimientos, padecimientos que se experimentan cuando se vive un proceso de tusa, junto a las afectaciones corporales que esta puede llegar a producir, desde las voces de aquellos que lo han experimentado y que llevan a evidenciar la articulación entre el sentimiento, el dolor y el cuerpo. Permitiendo de esta forma mostrar cómo existen unas afectaciones y unos dolores que suelen necesitar una cura.Junto a esto se buscó definir aquello que se conoce como “tusa”, en la que se congregan una serie de sentimientos y prácticas que son propias de una etapa y de una sociedad como la colombiana. Está llega a ser muy distinta tanto en el sentir como en sus manifestaciones corporales en algunos casos, lo que conlleva a comprender que, a pesar de la subjetividad de los sentires y los procesos individuales, existen algunos elementos que son semejantes, que deben ser vistos desde la antropología como factores de consolidación y configuración social y colectiva.De esta forma, el comprender que afectaciones pueden llegar a generar estos procesos y las formas en las que estas se pueden sobrellevar, nos permitirán cuestionarnos como sociedad, si realmente le estamos dando la relevancia que se merece esta problemática y comprender cómo a través de la antropología es posible problematizar las perspectivas que tiene la academia, la medicina occidental y las políticas públicas entorno a las afectaciones corporales y mentales causadas por sentires, en este caso en concreto a los procesos de tusa propiamente dichos.
#04665 |
Sexualidad y emociones en tres generaciones de adultos de Colima y Guadalajara
La ponencia presenta resultados de investigación de un proyecto acerca de la vida íntima de tres generaciones de adultos heterosexuales de las ciudades de Colima y Guadalajara en la zona centro-occidente de México. Los hallazgos conciernen a la vida sexual de las parejas y giran en torno a varias dimensiones: la importancia que reviste la sexualidad para ellas; el tipo de prácticas sexuales que ocurren en su vida cotidiana; los factores que contribuyen al desarrollo de una vida sexual gratificante y placentera, así como los que la inhiben u obstaculizan; la creencia de que las necesidades sexuales para hombres y para mujeres son fundamentalmente distintas o se van asemejando; las formas que adquiere la comunicación acerca de estos temas entre los miembros de las parejas; las maneras en que cumplen e incumplen la normativa venida de los valores de la monogamia y la fidelidad; y la indagación sobre la trayectoria sexual a lo largo del tiempo que han compartido juntos. La información que nutre la investigación proviene de 81 entrevistas semi-estructuradas a hombres y mujeres de distintos niveles socioeconómicos y educativos (adultos mayores, medios y jóvenes) que configuran un corpus enorme para trabajos de este tipo y se caracteriza por su gran heterogeneidad y riqueza. La perspectiva teórica utilizada parte de la demarcación de dos imaginarios amorosos -romántico y posromántico- que a lo largo del siglo XX han delineado un escenario cultural complejo marcado por la revolución cultural de los sesentas y setentas que vino a transformar lenta, pero firmemente, los valores, las normas morales, los estereotipos, las significaciones, las prácticas y las relaciones genéricas entre las parejas. Aunado a ello y desde los aportes de la sociología de las emociones, en particular del trabajo de Arlie Hochschild, se hace uso de los conceptos de trabajo emocional y reglas del sentimiento para descubrir las formas en que tiene lugar la experiencia amorosa y sexual así como los sentimientos y las emociones que se generan en su seno. Los hallazgos muestran que de generación en generación algunas normas y valores se mantienen así como las reglas del sentimiento inspiradas en ellos; mientras que por otra parte se evidencian tanto cambios sutiles como marcadas transformaciones, muchas veces encabezadas por hombres y mujeres con especial poder para transgredir el orden imperante en sus contextos. El que las ciudades en cuestión se encuentren enclavadas en una región caracterizada como tradicional y conservadora en México, agrega al estudio una riqueza particular, al observar con detenimiento la forma en que ciertas individualidades logran producir excepciones y rupturas en la dimensión sexual de sus vidas en medio de un orden social que poco las auspicia.