Resumen de la Ponencia:
Síntese de uma tese de livre-docência em preparação, o trabalho esboça e desenvolve uma cartografia historicamente situada de uma vertente importante dos intelectuais paulistas - ligados à Universidade de São Paulo - da segunda metade do século XX. Inaugurada em 1958 com a formação do chamado “Seminário d’O Capital” por jovens professores da USP, como F. H. Cardoso e José Arthur Giannotti, tal linhagem “marxista acadêmica” teria papel preponderante nos debates em torno da abertura democrática a partir da virada para os anos 1980, o que acabaria por projetá-la, agora com novos contornos intelectuais, ao centro da vida política brasileira das décadas subsequentes. A hipótese geral é a de que este conjunto de intelectuais expressa, nas suas similitudes e diferenças, o auge e, ao mesmo tempo, o declínio do pensamento sobre as singularidades da modernidade brasileira. Auge porque, nos anos 1970, saíram da lavra destes intelectuais (como F. H. Cardoso, F. Weffort, F. de Oliveira, M. Chaui, dentre outros) algumas das análises mais sofisticadas do passado e do presente da sociedade brasileira, quase sempre em oposição às teses nacional-desenvolvimentistas dominantes nas décadas anteriores. E declínio porque, a partir da década de 1980, foi em São Paulo que se decretou o esgotamento das reflexões sobre a formação nacional, em benefício de uma abordagem pretensamente mais “universalista” seja da luta de classes, como nos intelectuais próximos ao PT, ou das instituições democráticas, como no caso daqueles engajados na fundação do PSDB, em 1988. A fim de reconstituir este percurso a um só tempo histórico-social, político e intelectual, o trabalho toma o itinerário de Roberto Schwarz como uma espécie de fio vermelho que torna possível enlaçar tal vertente intelectual na sua problemática comum, mas também em suas diferenças internas. Inspirado pelos trabalhos de F. H. Cardoso, da tese de doutorado sobre capitalismo e escravidão às reflexões sobre a dependência, Schwarz não acompanhou o futuro presidente da República em suas opções intelectuais e políticas que se desdobraram a partir do final dos anos 1970, mantendo-se, ao contrário, mais próximo dos intelectuais que, no CEBRAP (F. de Oliveira) ou no CEDEC (F. Weffort), mobilizaram-se em defesa da construção de um Partido dos Trabalhadores. Ao mesmo tempo, porém, à diferença de Weffort, Chaui ou de Eder Sader, o crítico não abandonou a reflexão sobre a questão nacional, reposicionando-a, na verdade, no âmbito de uma análise das classes e de suas expressões ideológicas. A reconstituição deste período da cena intelectual paulista é de fundamental importância não apenas por razões historiográficas, mas também pelo fato de que, bem ou mal, tal vertente – nos seus diversos e por vezes antagônicos desdobramentos internos – ajudou a moldar a vida política brasileira após o fim da ditadura militar.