Resumen de la Ponencia:
Como "viver em ruínas"? "Onde aterrar" e como "compartilhar uma terra habitável"? Essas perguntas, inspiradas nas obras de Anna Tsing (2019) e Bruno Latour (2020), evocam o tom de urgência das evidências científicas que revelam um Planeta em colapso ecológico sem precedentes, resultante das ações antrópicas (IPCC, 2022). Se a paradigmática Primavera Silenciosa (Carson, 1962) e o Relatório do Clube de Roma (Meadows, Meadows, Randers e Behrens, 1972) produziram uma importante inflexão que posicionou a questão ecológica como tema de interesse global, os alertas atuais que chegam dos mais diversos campos do conhecimento confirmam que a espécie humana se transformou em uma força geofísica com potencial de extinção em massa (Crutzen e Stoermer, 2020; Danowski, Castro e Saldanha, 2022). Não se trata mais de uma era "em crise", afirma Latour (2020), mas de um "mundo em transfiguração" submetido a um novo "regime climático". Partindo dessa realidade, no presente trabalho analiso a necessidade de uma educação que adie o fim do mundo (Krenak, 2019) e que sustente o Céu para que ele não desabe sobre nossas cabeças, como nos ensina o xamã Yanomami Davi Kopenawa (2015). Para tanto, formulo a ideia de Educar para coabitar tendo como fonte de inspiração a dimensão pedagógica do que Tsing (2019) nomeia socialidades mais que humanas. Em diálogo com intelectualidades de povos e comunidades tradicionais e com autoras/es da ecologia política e da antropologia ecológica, argumento que, para (re)aprendermos a "aterrar" e a nos "vincular a um solo comum" (Latour, 2020), ou mesmo para (talvez) "adiarmos o fim do mundo" (Krenak, 2019), necessitamos de uma educação que nos ensine a coabitar com os não humanos, a reconhecer sua agencialidade e dignidade e a reconhecê-los como sujeitos de direitos (Gudynas, 2019). Na reflexão aqui desenvolvida, dou ênfase às contribuições das chamadas viradas ontológica e vegetal, que documentam formas de socialidades mais que humanas entre povos autóctones, plantas e animais (Haraway, 2021, Despret, 2021, Mancuso, 2019, Tsing, 2019, Kohn, 2021, Ingold, 2015, Oliveira et al, 2020). Educar para coabitar propõe uma educação, dentre tantas possíveis, que nos capacite para (des)aprendermos criticamente os dualismos modernos e para confrontarmos a separação entre cultura e natureza (Descola, 2016). Mas, também, que nos ensine a "vegetar" a modo das plantas, isto é, a "crescer em contiguidade com o mundo, coabitar lugares, aderir e fazer espaços, engajar-nos com aquilo que nos circunda -- ou antes, nos atravessa. Criar raiz e lançar sementes" (Oliveira et al, 2020, p. 13-14).