Resumen de la Ponencia:
O objetivo deste artigo é analisar a transição do trabalho escravo para o trabalho livre assalariado no Brasil. Para isso, é preciso problematizar e analisar as determinações do complexo colonial brasileiro, com sua dinâmica interna de reprodução circunscrita às determinações do mercado mundial. A investigação é de cunho teórico-bibliográfico e documental, uma perspectiva que busca considerar a relação intrínseca entre o exame teórico, documental e a formação sócio histórica. Nas análises da formação socioeconômica brasileira destacamos o período que vai da extinção do tráfico internacional de escravos (1850) à abolição da escravatura (1888).
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Introducción:
O desenvolvimento do mercado de trabalho assalariado no Brasil remonta historicamente aos complexos de determinações que conformam os ordenamentos da sociedade capitalista brasileira e das suas relações de produção. Perquirir as vicissitudes que se manifestam no modo de operacionalização do capital, seja em sua escala nacional ou internacional, são passos necessários para compreender como se fundamentam as relações de produção nessa formação sócio-histórica.
Buscaremos, portanto, analisar os elementos decisivos que contribuíram para a conformação do trabalho assalariado no Brasil, circunscrito na sua própria particularidade histórica, que estruturam características próprias determinantes ao mercado de trabalho e à forma de trabalho. Entre os elementos significativos configuram-se aí a acumulação originária de capital, o mercado mundial, as formas de organização do trabalho, as expressões das lutas travadas entre as classes existentes, o processo imigratório e o tráfico negreiro. São nesses elementos – que não são os únicos que concorreram para o modo de conformação do trabalho na realidade brasileira – que propomos alicerçar nosso esforço expositivo.
Desarrollo:
Nas pesquisas acerca da formação do mercado de trabalho livre no Brasil é inconteste a referência ao processo imigratório como política de Estado que deu o corpo vívido da resolução à transformação de uma sociabilidade escravista a uma sociabilidade burguesa. É notável a influência e peso que a política imigratória teve como rumo a novas formas de relação de produção internas. Neste sentido, observa Maffei (1979, p. 93) que, “desde o descobrimento, entraram imigrantes no Brasil”. É evidente que essa primeira imigração destoa em muito do sentido adotado a partir do século XIX no país, mas essa afirmação de Maffei não deixa de ser significativa. Isso porque o processo de colonização do século XVI é o ponto de referência dos futuros desdobramentos das formas que iriam adquirir o trabalho no Brasil e, sobretudo, é no ano de 1500 que se inicia a luta de classes no país. (REIS, 1981, p. 13)
Marx, ao analisar o desenvolvimento do modo de produção capitalista salientou que “embora os primórdios da produção capitalista já se nos apresentem esporadicamente, nos séculos XIV e XV, [...], a era capitalista só tem início no século XVI” (MARX, 2017, p. 787). O motivo de tal afirmação é que o século XVI constitui o mercado mundial, que lançam as bases de existência para a expansão do capital. São precisamente “as formas antediluvianas do capital” (MARX, 2017a, p. 653) que inferem a existência do complexo colonial e conformam a futura divisão internacional do trabalho. Consequentemente, as formas que são dotadas a ordenação do trabalho nas colônias são explicadas a partir do modo de existência do capital, pois é ele que coloca as determinações que exercem influência sobre as relações de produção que daí são organizadas.
Do que denota tal inferência do capital sobre as maneiras específicas de organização do trabalho, sobretudo o capital comercial que alçava seus passos decisivos para tornar-se a forma dominante do capital, o comprovam os apontamentos de Genovese (1989), que colocou em primeiro plano a interferência do capital comercial para o processo de escravização na África. Para o marxista estadunidense, o desenvolvimento da mineração de ouro e metais na África Ocidental, durante o século XIV, provocou olhares lusitanos para o continente que culminaram numa investida exploratória, ao mesmo tempo em que se apropriava da forma de desenvolvimento do processo de trabalho dos países africanos. Essa primeira dominação territorial foi o impulso necessário para o capital comercial auferir volumosas fontes de matéria-prima e força de trabalho. Ademais, foi o ensejo favorável do papel que, conjuntamente ao capital usurário, iria ganhar o capital comercial no auxílio para as corridas ultramarinas.
É colocado sob essa perspectiva que, com a dominação colonial das Américas no século XVI, o globo terrestre vira o palco de interesses para o capital, formando o mercado mundial e estabelecendo os alicerces da história moderna. A vinda luso-ibérica para as Américas, isto é, os primeiros imigrantes a pisarem na costa, tiveram logo que apropriar-se do trabalho que aqui estava ordenado em seus propósitos. Seguramente, o papel do capital comercial e seu movimento antes do desenvolvimento e ocorrência da Revolução Industrial sobreleva-se em mediar os campos em que ele se insere. Por isso que “depois da conquista de um país, o passo seguinte para os conquistadores foi sempre o de se apropriar também dos homens” (MARX, 2017a, p. 851). Pois, à mesma maneira que se sucedeu na África, os passos de dominação colonial não tiveram grandes alterações. Primava-se por um enquadramento das formas de organização do trabalho já existentes, buscando nelas a inserção do capital comercial enquanto esbulho colonial.
Em suma, é sobre a base do trabalho escravo que o capital se desenvolve a âmbito mundial e, posteriormente, na forma de capital industrial para as futuras potências colonizadoras que não luso-ibérica. É por isso que Sergio Bágu (2021, p. 80), ao analisar o nascimento da escravidão moderna nas Américas, sob a perspectiva do capital em âmbito mundial, lhe cunhe como uma instituição capitalista. Os primeiros imigrantes, como bem notou Maffei, nessa perspectiva, trouxeram para o Novo Mundo não o trabalho assalariado, mas o trabalho escravizado, de que criou as futuras bases para o trabalho assalariado europeu.
Ainda que o café e os produtos agrícolas dos complexos coloniais – tirando o caso da mineração de pedras e metais preciosos – não servissem diretamente ao consumo produtivo europeu que entraria para o desenvolvimento do capital industrial, é singular o apontamento de Blackburn (2003) de que esses produtos agrícolas coloniais correspondiam a um certo autocontrole cotidiano que necessitava a sociabilidade capitalista. O abandono da sesta foi comportamento prático exigido pelo capital industrial que precisava apropriar-se cada vez mais do tempo livre para sua valorização. Foi aí que foram encontrados no tabaco, chá, café e cacau estimulantes que “não confundia nem amortecia os sentidos” (BLACKBURN, 2003, p. 34). O café em especial, “era a bebida por excelência da racionalidade burguesa” (BLACKBURN, 2003, p. 327), pois era a bebida daqueles que “se preocupavam com cálculos” (BLACKBURN, 2003, p. 326), atributo imperioso para a racionalidade formal da contabilidade dos lucros e investimentos.
Conforme desenvolvia-se o capital industrial desenvolvia-se, igualmente e a todo vapor, a produção de mercadorias em grande escala que precisava ser absorvida. Embora o Brasil importasse as mercadorias provenientes do capital industrial, sob a égide do trabalho escravizado tem-se um mercado interno reduzido, ainda mais quando grande parcela dos meios de subsistência eram produzidos e consumidos internamente. O modo de produção capitalista, ao inaugurar o sistema de trabalho assalariado, coloca pela primeira vez a forma de subsistência e reprodução de toda sociedade no mercado, pois este absorve a totalidade da produção social, que precisa ser adquirida por meio de trocas entre indivíduos privados. O aumento da produção colocava a imperiosidade simultânea de expansão do mercado. Foi neste sentido que a Inglaterra exerceu forte pressão mundial para a abolição do tráfico negreiro, considerando-a prática ilegal. Tal pressão tinha intuitos nitidamente comerciais quando se considera o monopólio do tráfico negreiro legado dos lusitanos pelos ingleses a partir do século XVIII, como também a constante prática de contrabando comercial realizada pela Inglaterra durante a época do exclusivismo metropolitano.
A Inglaterra tinha interesse na promoção de um mercado interno que pudesse absorver suas mercadorias. Não é por acaso que da proibição da lei regencial de 1831 o tráfico negreiro só viria a ser abolido de fato em 1850 no Brasil. Dos 19 anos decorridos mais de 500.000 africanos adentraram o Brasil, a preços cada vez mais elevados. Essa corrida em busca de braços para a lavoura certamente estimulou o comércio escravagista que tinha por base certos comerciantes ingleses. O caso só começa a tomar seriedade às vésperas de 1850, próximo mesmo da crise inglesa de 1847, que estourou as casas emissoras de letras de câmbio, e da Primavera dos Povos que impediu um escoamento de mercadorias no continente europeu pela Inglaterra e provocou grande entesouramento. Buscar pressionar o ordenamento interno dos países que praticavam o tráfico negreiro como forma de viabilizar uma maior expansão do capital inglês foi a saída lucrativa que o capital industrial sobrepôs ao capital comercial no mercado mundial. Se as crises acimas descritas remontam anteriores à lei Bill Aberdeen, é somente porque a crise foi o fator prático que impulsionou a pressão política a outro nível para a extinção do tráfico negreiro por parte da Inglaterra.
Com o tráfico negreiro extinto cortou-se o principal fornecedor de força de trabalho para o Brasil. Entretanto, a supressão do tráfico internacional de escravos não foi suficiente para inflexionar a economia brasileira a uma economia capitalista de trabalho assalariado, a abolição da escravidão ainda tardaria a ocorrer. Genovese (1989, p. 292, tradução nossa) assinala que, embora a escravidão represente um sistema ineficiente, é inconteste que ela pode apresentar grandes margens de lucro, e existem três condições inegáveis para isso: “terra fresca, um suprimento constante de mão de obra barata, e um alto nível de demanda no mercado mundial”. Ora, com o tráfico negreiro suprimido como pôde, então, a escravidão ter dado continuidade na sociedade brasileira? As terras férteis e frescas, bem como a alta demanda no mercado mundial continuavam a existir. A questão é que após a supressão do tráfico negreiro iniciou-se no Brasil, até o momento da abolição final da escravatura, o tráfico interprovincial. Este deu prosseguimento ao regime escravocrata e, por conseguinte, alimentava as disparidades econômicas regionais. O motivo dessa desigualdade foram os altos preços colocados nos escravos pela sua alta demanda, fazendo com que apenas o setor mais dinâmico da época conseguisse absorver a força de trabalho existente em território nacional, isto é, a cafeicultura. A supressão do tráfico negreiro minou a entrada de novos contingentes escravos para a economia brasileira. O máximo que o seu substituto, o tráfico interprovincial, conseguia fazer era reordenar essa população escrava territorialmente. A consequência, inevitavelmente, seria a alta do preço no mercado de escravizados dando vantagem para a esfera econômica regional que mais auferia lucro com a produção e exportação.
Daí sobrevêm o avanço da cafeicultura na segunda metade do século XIX em diante, em contraste com as outras áreas econômicas que iniciam sua decadência. Se o café irrompia pujantemente no mercado mundial, a mineração tinha esgotado sua fase de auge no século anterior e o açúcar não conseguia concorrer com a produção nas colônias antilhanas. Resultou-se deste cenário uma concentração avultosa do contingente escravo existente dentro das regiões cafeeiras.
O movimento abolicionista atuou na sociedade brasileira a partir da década de 1870 para dar sentido às reestruturações, mesmo que elas ocorreram a despeito dele. Frente ao fato da diminuição da população escravizada, internamente recorreu-se a formas de desenvolvimento que pudessem conciliar-se com este obstáculo. Não é à toa que dentre os anos 1869 a 1884 a malha ferroviária das regiões cafeeiras expande-se em 3.380km. Tinha-se por objetivo viabilizar uma maior rotação de capital para o setor cafeeiro para suprir a constante diminuição da força de trabalho escravizada. Essa saída encontrada não contava com o seu revés: apesar do desenvolvimento das forças produtivas conseguir expulsar a necessidade de um investimento maior em força de trabalho – aqui manifesta no escravizado – ele coloca, também, a necessidade de um aumento absoluto desse corpo trabalhador para materializar um trabalho vivo que impulsione o trabalho morto.
Infere-se uma situação ainda mais particular quando considerado que esse desenvolvimento das forças produtivas focalizou-se quase restritamente na expansão ferroviária, pois a produção agrícola na base escravagista fomentava à nível da produção aquele “trabalho manual mais rudimentar”. Ademais, este desenvolvimento ferroviário tem seu impacto mais diretamente sobre a rotação do que os processos de produção em si. Mesmo considerada a sazonalidade do produto cafeeiro, a diminuição no tempo de rotação influía, sobretudo, no tempo de curso. Como o tempo de produção tem aqui limites naturais determinados, até certo ponto, pelo próprio produto, depreende-se, contudo, a vantagem da agricultura extensiva posta na expressão dos latifúndios. São esses elementos que provocam o adensamento para o Oeste paulista. Além do exaurimento do solo das antigas terras cafeicultoras que incentivaram a busca por novas terras, considerada a produção cafeeira em âmbito geral, a expansão colocada na agricultura extensiva funcionava como maneira de preencher as lacunas do tempo de produção – em vista de uma diminuição do tempo de curso que a introdução ferroviária legou – através do estoque. Mais tarde, esse aumento de produção deflagraria a primeira crise de superprodução cafeeira, em 1882.
São sob essas condições, e o preço de mercado vantajoso que o café contava nos circuitos mundiais de intercâmbio, que a produção cafeeira tornou-se uma produção lucrativa. O aumento de produtividade ainda enfrentava o dilema da crescente escassez do trabalho escravizado, que com a crescente produtividade que demandava cada vez mais braços para a produção extensiva pululava como escassez ainda mais fortemente. O vicissitude que ocasionou este aumento produtivo exigia respostas imediatas para a reprodução ininterrupta do ciclo cafeeiro. Ao tempo, crescia-se o efervescer político internamente em torno da questão abolicionista, que viria a aprofundar-se na década de 1880, e que à medida que crescia só aumentava o preço da força de trabalho escravizada. A solução para tal impasse pode ser visto na resolução final saída do Congresso Agrícola de 1878, que imputou na imigração a panaceia para todos os conflitos.
A saída era a imigração. A resolução do Congresso Agrícola de 1878 apoiou-se no trabalhador chinês, que trabalharia a salários baixos e que facilmente se disciplinaria as relações de produção já postas. Entretanto, a imigração chinesa não conseguiu acalentar os desejos senhoriais: o governo chinês e inglês impuseram fortes restrições ao tráfico de coolies – com exceção da própria Inglaterra para suas colônias – devido ao tratamento dado aos trabalhadores em Cuba e Peru. (LAMOUNIER, 1986, p. 133). As circunstâncias fizeram a faustosa classe senhorial voltar ao interesse do trabalho escravizado da mesma maneira que haviam depositados seus desejos à imigração chinesa. A escolha optada pelos fazendeiros não poderia ignorar a materialidade que os circuncidava expressa no decréscimo de escravizados simultaneamente com o aumento produtivo e o crescente movimento abolicionista.
Entretanto, numa sociedade ordenada sob o trabalho escravizado, a abolição não conseguiria trazer as determinações fundamentais para fundamentar um sistema apoiado no trabalho assalariado. A dificuldade da abolição constituía-se de duas ordens: transformar o futuro liberto em trabalhador assalariado e, se isso ocorresse, a necessidade de um mercado interno que oferecesse condições da reprodução da força de trabalho estruturada na forma-salário. Da primeira está colocada o óbice de transformar um ex-escravizado em trabalhador assalariado numa sociedade que a vilipendiava; da segunda, a impossibilidade de suprir a reprodução de uma potencial futura força de trabalho assalariada através do mercado, tendo em vista que grande parte da reprodução da força de trabalho escravizada estava dada dentro da esfera da fazenda que fugia de qualquer relação comercial, ainda que essa reprodução fosse dada para o sentido comercial que essa força de trabalho adquiria. As dificuldades residem, simplesmente, no fato de que faltam as condições objetivas para se operacionalizar uma transição ao modo de produção capitalista. Além disso, como a produção cafeeira, a despeito destes problemas, ainda conseguia auferir grandiosos lucros, o trabalho escravizado ainda mostrava-se rentável para ela.
Conclusiones:
Durante o Congresso Agrícola de 1878 tornava-se evidente que os interesses sobre o trabalho escravizado estavam minados, ainda que nele os fazendeiros insistiam durante longo período após a realização do evento. Foi neste sentido que, de um ano decorrido o Congresso Agrícola entra em vigor a lei de locação de serviços de 1879, que estipulava os termos de contrato entre trabalhadores que alugassem seus serviços a outrem. A lei, detidamente analisada por Lamounier (1986), condensava os interesses de senhores preocupados com os obstáculos que sobrevinham aos seus intentos. O debate em torno do parlamento que culminou na lei de locação de serviços matiza as problemáticas presentes para os interesses comerciais, que tem seu início na década de 1860.
Com a entrada do Brasil na Guerra do Paraguai, a escassez de braços era uma preocupação para a lavoura. Surgia, então, na Câmara dos Deputados discussões sobre a necessidade de se regular uma legislação contra a vadiagem, com a finalidade de aproveitamento dos nacionais. Fora isso, as duas leis de locação anteriores existentes, não eram adequadas aos intuitos que se prezavam. A lei de locação de serviços de 1830 apesar de ser firmada entre nacionais e estrangeiros por escrito, permitia sua execução apenas em território nacional, e não estipulava o tempo de contrato, apenas prescrevia a necessidade de seu cumprimento. Já a lei de locação de serviços de 1837, ainda que, igualmente, não estipulasse o tempo de contrato, poderia ter sua execução no território nacional ou fora dele. Ambas as leis estipulavam que se não cumprida o contrato por parte do trabalhador que alugou seus serviços, haveria ordem de prisão, e pagamento com juros em 50% do valor, este último não constando nos termos do contrato. As cláusulas penais das duas leis restringiam-se a questões de caráter individual, sendo os casos resolvidos singularmente por cada trabalhador que infringisse o contrato. Ademais, as leis permitiam transferir o contrato a outro fazendeiro a despeito da permissão ou não do contratado. As leis de locação de serviços precedentes a de 1879 representavam o verdadeiro despotismo do contratante, manifesto no fazendeiro.
As cláusulas penais manifestas nas leis anteriores tornava-se mais anacrônica para os interesses produtivos quando a partir de fins da metade do século XIX começam a estourar as greves de trabalhadores parceiros, de que a penalidade individual tinha dificuldades de se materializar. A falta de clareza das leis de locação de serviços pré-1879 levava a preferência por contratos estabelecidos internamente por regulamento das fazendas, de que se deveu a proliferação de 1850 a 1870 do sistema de parceria, mas à medida que favoreciam os interesses senhoriais recorria-se às leis como forma de disciplinamento, quando mais os termos das cláusulas penais.
A lei de locação de serviços de 1879 aparece em cena para corrigir as lacunas proveniente das leis anteriores e consolidar os interesses senhoriais. Frente a desesperadora urgência de mão de obra não se tratava mais de apenas legislar, mas de enquadrar qualquer corpo humano existente à conscrição ao trabalho. Por isso que a lei de locação de serviços de 1879 versa em seus termos sobre o nacional, estrangeiro e liberto. Contava-se, agora, com prazo de contrato bem estipulados: para o nacional o máximo era de seis anos, para o estrangeiro cinco anos, e para o liberto oito anos. Todos esses contratos poderiam ser renovados. Ora, os termos dos prazos estipulados contavam com larga experiência passada, do que o comprova o tempo de amortização do preço de compra do escravo que, em 1884, era para as regiões cafeicultoras fluminenses de 6 a 7 anos, e para os cafezais paulistas de 2 a 4 anos]. As experiências de amortização do preço de compra do escravo certamente serviram de embasamento para estipular os prazos dos contratos. No que se refere aos libertos, os oito anos estipulados eram o mesmo estabelecido na Lei do Ventre Livre. Na lei de 1879 as transferências de contrato não poderiam ocorrer sem o consentimento do contratado, salvo se o imóvel fosse vendido. Impedia, também, cobrança de juros sobre as dívidas contraídas pelo contratado e reduzia as dívidas de transporte para a deslocação em menos de 50%, não podendo ultrapassar essa cifra. As cláusulas penais continuavam, mas acrescidas: a prisão além de constar nos termos da lei poderia ser outorgada de maneira coletiva, livrando os fazendeiros dos embaraços da greve, e abria margens para arrastar até mesmo aqueles que denunciassem práticas abusivas[33].
A lei de locação de 1879 não foge do despotismo de suas antecessoras, ela coloca os termos necessários de enquadramento do contratado para fomentar um disciplinamento ao trabalho. Não foi sem motivo que em suas formulações eram constantes os debates em torno da abolição final vinculada com a vadiagem. A lei conseguiria materializar em forma a superação do problema do ex-escravo pós-abolição. Entretanto, ela estava longe de ser uma lei com caráter imigratório, como bem denota Lamounier (1989, p. 122) e comprovam as denúncias da Sociedade Central de Imigração em seus boletins[34]. Segundo esta última, tratava-se mesmo de uma “nova escravatura; a escravatura branca”[35]. Os contratados eram constantemente assaltados por dívidas, ainda que não se pudesse mais cobrar juros em cima delas[36]. Insatisfeitos com o trabalho comandado por dívidas, em 1884, debatia-se na Câmara dos Deputados o incremento de nova cláusula à lei que fazia com que o contratado pagasse 2/3 do valor da passagem com 6% de juros ao ano, podendo ser aumentada em 12% no caso de não cumprimento de contrato, ao passo que na lei original de 1879 este pagava apenas a metade do valor[37]. Da sagacidade por trás de seus intentos está o fato de que os imigrantes que adentravam o Brasil sob a lei de locação de serviços assinavam seu contrato na Europa sem saber exatamente seus termos, sendo surpreendidos em terras tropicais quando lhes eram decretados ordem de prisão[38].
A imigração ainda não irrompia como solução final até o ano de 1885, quando a província paulista passa a subsidiar a imigração europeia para as lavouras cafeeiras. A medida foi tomada às vésperas da abolição final não por acaso. O movimento abolicionista iniciava sua fase mais radical, expurgando das lavouras o contingente escravo através de fugas e insurreições. Com a cafeicultura ainda estando no posto de setor produtivo mais importante à época, localizado sobretudo no oeste paulista, a subvenção estatal foi medida lucrativa e que entregava os braços necessários para a produção. A subvenção tirava de campo o entrave de investimento em imigração, impondo uma oferta de força de trabalho sem contrapartida por parte dos fazendeiros. As ferrovias instaladas anteriormente foram grandes auxiliares para a entrega dessa força de trabalho exógena. Tratava-se, agora, do que acertadamente cunhou Moura (2019, p. 123) de “segundo tráfico”. O problema colocado com o fim do tráfico negreiro, que jorrava uma constante força de trabalho, fora suprido pelo imigrante subvencionado para a economia cafeeira, o objetivo mesmo era “fazer do immigrante indefezo uma simples mercadoria lucrativa para emprehendedores sem escrupulos”.
Apesar disso, a lei de locação de serviços tornou-se letra morta (LAMOUNIER, 1986, p. 154). Os fazendeiros preferiam celebrar contratos internos, à mesma maneira das leis anteriores e utilizarem a lei de locação de serviços apenas para intuitos disciplinares, que se traduziam na ameaça e execução de aprisionamento. Os contratos internos tinham intuitos tão draconianos quanto a lei de locação de serviços de 1879 (COSTA, 2010, p. 263-267). Já as condições de pagamento não diferiam tanto do colocado para o sistema escravo. Se, em 1875, na fazenda modelo de Nova Lousã, que primeiro implementou o sistema assalariado para a agricultura, e onde o salário dos imigrantes portugueses era considerado “elevado para a maioria dos fazendeiros” (COSTA, 2010, p. 150), a cifra mensal atingia 18$000 a partir do segundo ano, fora alimentação, cuidados, casa e roupas. Em 1883, Laerne avaliava somente a alimentação do escravo – abstraído das roupas, cuidados médicos, manutenção da habitação e etc. – em 18$000 mensais (COSTA, 2010, p. 292). No mesmo ano considerado os dados de Nova Lousã e as avalições de Laerne, isto é, de 1875 a 1883, o preço da saca do café diminuiu em 70% no mercado mundial[40]. Denota-se, entretanto, a afirmação de Saes (1985, p. 160-161) quando aponta que o imigrante alocado no eito tinha intuitos suplementares e não substitutivos do trabalho escravo. Mesmo que a partir de 1885 inicia-se a política imigratória, a produção cafeeira ainda se estabelece sob as diretrizes do trabalho escravizado. Somente dois meses antes da abolição final da escravatura a cafeicultura paulista estava liberta dos escravos, mas não mediante libertação e sim fugas incentivadas pelo movimento abolicionista[41].
O abolicionismo tomado por alguns cafeicultores de última hora representa mais uma consciência prática do que um espírito consciente. O ato formal final da abolição só veio confirmar um fato já dado na sociedade brasileira. Ademais, os figurantes do capital interno conseguiram passar sem problemas à questão da abolição da escravatura, estabelecendo os requisitos formais necessários: a questão da possessão de terras já estivera postulado desde 1850 com a Lei de Terras, que impossibilitava uma apropriação do solo sem pagamento, requisito este primário para criar barragens ao recém-imigrado; os trabalhadores em geral estiveram enquadrados no disciplinamento da lei de locação de serviços de 1879; se até o ano de 1895 a província paulista subsidiou a imigração, daí em diante seria o Estado brasileiro que assumiria tal posto[42]; fora isso, ao mesmo tempo que se elaboravam os termos da abolição da escravatura a princesa Isabel arregimentava os termos que resultariam na Lei da Vadiagem de 1890, solvendo a velha problemática de libertação dos ex-escravos. Criou-se, portanto, o cenário ideal para submissão forçada ao trabalho mesmo após sua extinção.
Sob o regime republicano fluía a autocracia cafeeira, enquadrando toda e qualquer manifestação que pudesse ferir suas ânsias lucrativas. Mas todo esse impulso inflexível só está envolto no caráter histórico-processual que esse capital adquire na divisão internacional do trabalho. As leis de locação de serviços, a Lei de Terras, a imigração subvencionada, a Lei da Vadiagem e a Lei Adolfo Gordo, todas elas escondem por trás de si a necessidade de submeter forçosamente as relações de trabalho sob uma forma particular que é dotado este capital no mercado mundial. Daí advém o disciplinamento ao trabalho como medida compulsória. Este traço está subscrito desde o movimento da abolição à imigração, será ele o catalisador de ordenamento interno às exigências postas pela universalidade do capital em âmbito global. De acordo com Ribeiro (2007, p. 99): “a disciplina do trabalho, em regime escravo ou servil, mais que a aculturação ou a conversão religiosa, é que amalgamaria e integraria esses povos na sociedade nascente, como seu proletariado”.
É evidente que o assalariamento já imputa a obrigatoriedade ao trabalho para os despossuídos de capital, mas na nascente realidade brasileira do trabalho assalariado a compulsão desmedida ao trabalho apresenta a matriz despótica. Esta rearranja o quadro e reestrutura as formas de relação de produção aos ditames e ordenamentos exigidos do circuito comercial mundial, transformando o trabalho numa máquina de “gastar gente” (RIBEIRO, 1995). O disciplinamento e o enquadramento são medidas políticas para configurar as determinações econômicas presentes na lógica capitalista desde sua gênese à contemporaneidade.
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Palabras clave:
Brasil; trabalho escravo. trabalho assalariado.
Resumen de la Ponencia:
A finales de la década de 1960 y principios de 1970 emergieron claros signos de un cambio en la División Internacional del Trabajo. Se implementaron nuevas formas de organización de la producción basadas en la robotización de la línea de montaje que revolucionaron las condiciones de acumulación de capital. El capital re localizó la producción en espacios nacionales de acuerdo con las cualidades de su clase obrera, buscando abaratar la fuerza de trabajo. Se abrió paso la acumulación de capital asentada en la baratura de la fuerza de trabajo y en el crédito (que permitió la realización de las mercancías y la renovación del ciclo). La expansión del capital ficticio se tradujo en créditos baratos para América Latina, y acto siguiente en una suba espectacular de sus deudas externas y su consecuente imposibilidad de pago. Asimismo, el crecimiento de la producción industrial se tradujo en un aumento de la demanda de materias primas impactando en las economías latinoamericanas con la suba de precios primero y luego con su debacle. En este trabajo nos interesa analizar cómo se comportaron los capitalistas industriales en Argentina y México ante esta nueva configuración mundial. Dado que se trata de países con peculiaridades diferentes, nos preguntamos qué acción encararon frente a los cambios en el mercado mundial. Argentina gozó de la bonanza producto de la suba de los precios de las mercancías agropecuarias y a raíz de su descenso fue arrastrada a una profunda crisis económica y política que culminó con la sangrienta dictadura militar iniciada en 1976 y el viraje de la política económica. México, por su parte, pudo sostener el régimen priista y profundizar la sustitución de importaciones debido al descubrimiento de reservas petroleras en medio del alza de precios, además de contraer ingentes sumas de deuda externa. La particularidad de estos dos capitalismos latinoamericanos hace que los cambios y la crisis hayan impactado de forma diferenciada, y por eso nos parece interesante indagar en cómo actuaron los empresarios industriales, especialmente qué demandas realizaron a sus Estados nacionales.Nos acercaremos al problema a través del examen de la crisis internacional, sus síntomas en México y Argentina, las políticas y las reacciones que despertaron en los capitalistas industriales. Utilizaremos bibliografía especializada, y aplicaremos técnicas de análisis documental a la lectura de fuentes institucionales de las entidades (en caso de estar disponibles), periódicos y revistas de circulación masiva. Nuestro objeto de estudio se delinea a partir de los movimientos internos de la UIA para Argentina y las corporaciones mexicanas CMHN, CEE, COPARMEX, CONCAMIN y CONCANACO.Esperamos poder aportar con nuestro abordaje a la historia política de la clase capitalista en América Latina, en una época de profundas y duraderas transformaciones.Resumen de la Ponencia:
El quehacer artístico generalmente es considerado como una actividad no productiva que se inserta en una dimensión estética/emocional y otra ética/social que, en su conjunto, lo dotan de significados, intereses y expectativas en ámbitos que parecen opuestos a los llamados trabajos estándar, lo cual lo involucra también en los debates del trabajo y el no-trabajo, en sus dimensiones productivas y reproductivas; materiales y simbólicas.El mercado de trabajo se nutre de distintas relaciones donde las personas plantean intereses básicos en común, persiguiéndose el encuentro eficaz y exitoso entre la oferta y la demanda. Sin embargo, los intereses y las relaciones existentes no se pueden limitar a lo más elemental. El mercado laboral representa una serie de relaciones sociales complejas en las que intervienen diversas personas, interacciones, estructuras, subjetividades y potencialidades para la acción, que ocurren en tiempos y espacios específicos. En este contexto, algunos trabajos informales y algunas actividades que, para muchos, no son valoradas como trabajo, implican retos en el análisis y admiten variadas posibilidades metodológicas para proponer una visión ampliada de mercado laboral y del propio trabajo.Por eso, se opta por estudiar la realidad laboral como una construcción social dinámica que se origina a través de la interacción con diferentes agentes, en medio de procesos de objetivación y subjetivación. La ocupación es analizada como una construcción social en la que se generan diversos significados de acuerdo con la situación específica que se experimenta; además, constreñida por estructuras que pueden facultar o dificultar el actuar de las personas. De ahí la importancia de atender las experiencias laborales de actividades sui géneris que, muchas veces, no son consideradas trabajos por la sociedad y, en ocasiones, ni siquiera por las propias personas que las realizan.Enrique De la Garza (2007), la incorporación de los servicios y de los trabajos no clásicos al análisis de las ocupaciones, las regulaciones y los procesos productivos introduce especificidades que complejizan el problema de las relaciones sociales y de control dentro del proceso productivo. Desde el Trabajo no Clásico propone un análisis ampliado sobre: la emergencia de otros actores que tienen injerencia en el proceso productivo, como los clientes, y otros que, indirectamente, intervienen según la situación concreta; el análisis de la producción inmaterial, pues existen trabajos eminentemente de producción de símbolos, como la generación de espectáculos públicos, en la que se origina una compactación entre la producción y el consumo; la producción vista también como parte de la reproducción social. Lo cual se complementa con la visión configuracionista que plantea la importancia de las estructuras, la subjetividad y la acción. Por ende, esta ponencia se proponga plantear cómo este marco teórico metodológico es propicio, además de necesario, para los estudios del quehacer artístico.Resumen de la Ponencia:
La ponencia aborda el tema de la apropiación del discurso de emprendedurismo en el ámbito empresarial a partir de entrevistas realizadas a trabajadores de la compañía Barcel, perteneciente al grupo mexicano Bimbo. Por medio del análisis del discurso, específicamente bajo la línea de la estructuración social del lenguaje desarrollada por Mijaíl Bajtin, se analizan cuatro lenguajes específicos en el discurso empresarial: lenguaje religioso, lenguaje económico productivo, lenguaje de liderazgo y lenguaje humano. Igualmente se discuten las implicaciones que el discurso tiene sobre las dinámicas de la empresa en términos de la subjetividad de los trabajadores.
Introducción:
“Hay que relacionarse con el personal, no son un instrumento de trabajo son personas que van a la empresa a ganarse la vida y dejan ahí su vida”. (Servitje, 2021)
La empresa es un problema sobre la vida, un asunto que involucra percepciones del mundo, universos de sentido y formas de ver la vida. Estas últimas se conjugan en un incesante movimiento que juega entre lo universal y lo situado. Es así, que si bien el neoliberalismo como corriente de pensamiento, ideología y gubernamentalidad se ha establecido como un elemento predominante para explicar la forma empresa en la sociedad (Foucault, 2012), la mirada sobre sus adaptaciones y desarrollos locales cobra relevancia para poder pensar la empresa en una forma más tangible y coherente en sus realidades particulares.
Una faceta que ha tomado un peso significativo en la literatura neoliberal ha sido aquella que se basa en la idea de un individuo emprendedor. Sobre ella se han construido discursos que exaltan el individualismo como el camino prometido hacia el éxito, e incluso se han producido manuales que venden los secretos para lograr el sueño emprendedor. Este idea de realización individual se dirige con mayor impetu a aquel publico que desea romper los vínculos organizacionales de la dependencia laboral, para emprender su propio camino en el mercado y ser dueños de sí mismos. De acuerdo con ello, es interesante ver, precisamente, ¿cómo se apropia un discurso emprendedurista en un contexto organizacional donde existen estos lazos de dependencia?, es decir, ¿cómo se adapta el neoliberalismo a un contexto empresarial tradicional como el de la producción de alimentos?
Algunas problematicas asociadas a la emergencia de estos discursos tienen que ver con la forma en que las altas demandas de productividad son legitimadas por los trabajadores bajo discursos, fachadas y disciplinas que exigen del trabajador satisfacción, compromiso, pasión y arraigo por el trabajo, ello lleva a la discusión de las prácticas de autoexplotación y las condiciones de precariedad derivadas de la alta productividad.
Igualmente, el estudio de la apropiación de estos dicursos ocurre en un contexto con una herencia católica derivada del proceso de colonización, como lo es el caso mexicano. De esta manera, pensar la introducción del neoliberalismo como ideología y gubernamentalidad en este territorio implica enfocar la mirada en los sincretismos, entramados, mixturas y distanciamentos que este puede tener con la racionalidad religiosa como forma de entender los fenómenos empresariales y la subjetivación laboral en las organizaciones. Es por esta razón que esta ponencia se inscribe en el estudio de un especifico caso de apropiación de discursos de emprendedurismo en el sector empresarial tradicional de alimentos, el grupo Bimbo, cuyos fundadores profesan un sistema de creencias religiosas católicas. Teniendo como antesala este contexto, la pregunta central que se plantea es ¿qué forma toman y cómo se apropian los discursos de emprendedurismo en un contexto laboral industrial tradicional? Dicho esto, el objetivo que direcciona el presente documento es analizar el discurso empresarial de la organización Bimbo, a partir de un análisis semiótico, con el fin de aproximarse a la comprensión del emprendedurismo en contextos laborales industriales tradicionales. Para cumplir con este objetivo, se consideran cuatro entrevistas de trabajadores en distintas posiciones de la estructura organizacional de una de las marcas pertenecientes al Grupo Bimbo: CEO, gerente de ventas, supervisora de ventas y vendedor.
Desarrollo:
El Caso Bimbo: Análisis Semiótico del Discurso Empresarial1. La estratificación del lenguaje
1.1. Lenguaje religioso
El problema de cómo y desde dónde abordar la temática aquí propuesta tiene una de sus más fuertes influencias en la propuesta teórico metodológica de Mijail Bajtin (1991). Bajo su perspectica semiótica se entiende que el lenguaje responde a dinámicas y prácticas sociales a la vez que informa sobre ellas, este enfoque es conocido como la estratificación social del lenguaje y del discurso (Bajtin, 1991). Desde esta mirada la construcción de los datos de la investigación son pensados desde los lenguajes del discurso empresarial y las voces inscritas en personajes, considerando que el lenguaje se personifica en figuras individuales (Bajtin, 1991). Esta perspectiva permite entender que el estudio de las narrativas, las palabras, los vocabularios, los sentidos, los significados y las de formas de expresión están ancladas a la comprensión de los distintos lenguajes del discurso. Es así que los personajes están en una continua dialectica entre la palabra propia y la ajena, permitiendo observar los límites y mixturas que existen entre ellas.
Uno de los componentes más fuertes del discurso empresarial del grupo Bimbo es el lenguaje religioso, el cual contiene los fundamentos morales del mismo. Este lenguaje se puede rastrear desde los orígenes de la compañía, específicamente en las creencias y valores de su fundador, Lorenzo Servitje quien se caracteriza por ser practicante de la fe cristiana: “Si hacemos que esta empresa haga también el bien al mundo, si no hacemos que esta empresa nazca para ser buena y parte de la “force of good” del mundo, no sirve de nada, no sirve como empresa si no cumple su rol social” (Lorenzo Servitje en CEO, 2020).
A través de este lenguaje se constituye la figura de un trabajdor de servicio, el cual se hace observable en el desplazamiento subjetivo que, por ejemplo, realiza un líder en el grupo Bimbo a lo largo de su trayectoria profesional en la compañía, este se constituye en tres etapas: una fase egoísta, con interés de crecimiento laboral individual; una fase en donde el interés individual se fusiona con el interés por el crecimiento del equipo de trabajo; y una tercera fase, de madurez, en donde ya no hay interés personal sino solamente por el del equipo de trabajo (Gerente de ventas, 2020). Este desplazamiento de la subjetividad parte de una concepción de hombre empresa (Foucault, 2012) en su primera etapa a un sujeto de servicio en la última, distanciándose así del emprendedurismo ideal, en cuanto a que más que buscar un proceso de desarrollo para sí mismo, se encamina a uno de desarrollo colectivo basado en la solidaridad, el servicio y a la ayuda al otro.
Finalmente, es importante señalar cómo la constitución de este lenguaje religioso del discurso es una construcción de sucesos del pasado que son cargados moralmente. Este lenguaje responde a una plantilla discursiva previamente elaborada, que de hecho puede ser encontrada en los medios de comunicación de la empresa. Su función es dotar a esta de una legitimidad de carácter moral, dado que destaca los aspectos positivos de la bondad cristiana para producir un sentimiento de admiración hacia la organización.
1.2. Lenguaje humano.
Muy cercano al lenguaje religioso, y prácticamente derivado de él, se estructura en el discurso de la compañía un lenguaje humanista que “se centra en la persona” (Supervisora de ventas, 2020). Este lenguaje se sostiene en vocabularios derivados del lenguaje religioso del discurso como “servicio”, “humildad” y “ayudar al otro”. Desde este lenguaje se dice que las personas son “el destino de todos los esfuerzos” (CEO, 2020) y “es lo más importante del grupo Bimbo” (Supervisora de ventas, 2020), esto es lo que se conoce como “filosofía Bimbo”. Ser humanista implica que la organización se plantee a sí misma, en su discurso, estar más allá de un interés económico: “como que no es solo negocio (…) no solo por lo económico (…) que no se vea que es solo dinero pues (…) eso es ser humanista” (Vendedor, 2020). En esta misma línea, la filosofía Bimbo señala que “las personas no son ningún recurso” (Gerente de ventas, 2020).
Sobre este lenguaje se puede decir que plantear una articulación entre lo económico y las personas tiene una función persuasiva, su intención es lograr que el locutor pueda convencer al receptor de que la acumulación de capital puede ser amigable con el ser humano. Sin embargo, justamente evocar este discurso implica afirmar que en la práctica si existe una tensión en donde lo económico está por encima del bienestar humano.
1.3. Lenguaje económico-productivo
A través del mito fundacional de la empresa se observa la contradicción inmanente entre el interés económico y la convicción religiosa del servicio. Por ejemplo, las voces de los primos al fundar la compañía con Lorenzo Servitje representan este interés económico, “va adelante mientras hagamos plata vale, va” (CEO, 2020). La productividad se articula al lenguaje religioso al ser entendida como una fuerza del bien por los efectos que se derivan de ella. El lengua humanista frente al productivo, puede ser visto como un manto que cobija y “aliviana” los efectos adversos que puede tener esta visión productiva del bien sobre el bienestar humano.
Pese a que el discurso plantea una humanización en el sistema de acumulación de capital en la organización, este solo se plantea desde los procesos comunicacionales, pese a ello, se podría hablar aquí de una deshumanización del trabajo por la vía de la autoexplotación. Esta última toma un camino distinto al bienestar humano al cortar su tiempo de ocio. Sumado a ello es una afrenta para el bienestar humano en cuanto de allí pueden derivar estados psicológicos y emocionales que afecten las condiciones de vida de los trabajadores. Finalmente, este lenguaje tiene una función legitimadora de un sistema de acumulación que demanda a los trabajadores altas horas de trabajo.
1.4. Lenguaje de liderazgo.
El lenguaje de liderazgo se relaciona con el lenguaje humanista en un primer momento, al ser este último una capacidad que deben tener los líderes en la organización para poder guiar a sus dirigidos de una manera blanda y asertiva, por ejemplo, en sus formas de hablar y preocuparse por los trabajadores, en un contexto donde pueden surgir los efectos de un lenguaje de alta productividad, como el estrés y el agotamiento mental, entre otros. Igualmente, el lenguaje productivo tiene un rol importante en el desarrollo del lenguaje de liderazgo, especialmente en la necesidad de generar desde este último, procesos de motivación y arraigo. Respecto a la motivación, se puede decir que el liderazgo es entendido como la “capacidad”, que tiene el líder de lograr despertar en “la gente ese ánimo para dar lo máximo de él o de ella hacia hacer las cosas bien” (CEO, 2020) y el “poder de hacer que tu equipo te pueda seguir (…) de convencerlos [a los trabajadores] de subirse al barco y ponerse la camiseta” (Supervisotra de ventas, 2020).
La función que cumple este lenguaje dentro del discurso es enfocarse más hacia los trabajadores y al gobierno de ellos. Igualmente, tiene la función de desarrollar las respectivas disciplinas necesarias para que los trabajadores regulen sus emociones ante el lenguaje productivo. En últimas, este lenguaje pretende ser un promotor positivo de la alta productividad demandada por el sistema de acumulación capitalista de la organización.
2. La instrumentalización del trabajo
2.1. El trabajo como medio y el trabajo como fin (la metáfora de sisifo)
De acuerdo con Thomson, Gill y Goodson (2020), la metafora del mito de sisifo es interesante si se le observa de una manera distinta a la convencional. Usualmente sobre este personaje mitológico se ha construido una historia en la cual se destaca el objetivo de Sisifo de llegar a la cima, uno que por castigo de los dioses nunca puede cumplir y en cambio es arrastrado infinitamente a arrastrar una piedra con dolor y sufrimiento. Sin embargo, nos señalan los autores que si se le diera un giro a este mito y Sisifo disfrutara el arrastre de la piedras, no se estaría hablando efectivamente de ningún castigo sino más bien de una acción de deleite en esta tarea infinita, la cual incluso agradecería a los dioses. A partir de esta lectura los autores ponen sobre la mesa el problema de la valoración del trabajo como medio y el trabajo como fin.
Partiendo de esta reflexión construida en torno al mito de Sisifo, se puede establecer una crítica a lo que se conoce como la racionalidad instrumental en el mundo del trabajo (Thomson, Gill, & Goodson, 2020), desde la cual se valora en mayor medida los objetivos de las actividades. Desde esta racionalidad, estas últimas son tratadas de manera instrumental, es decir, se les niega el valor que tienen en sí mismas y en cambio se les valora como medios, entendiendo estos como algo que es causalmente necesario para lograr un fin (Thomson, Gill, & Goodson, 2020). De esta manera se dice que las actividades tienen un valor instrumental que niega su valor intrinseco (Thomson, Gill, & Goodson, 2020). En esta forma de valoración, las actividades laborales son evaluadas por medio de concepciones instrumentales como la eficiencia, el ahorrro y la utilidad que estas tienen para lograr los objetivos consignados en el trabajo (Thomson, Gill, & Goodson, 2020). En otras palabras, los fines del trabajo solo son establecidos sobre la rentabilidad de la concepción instrumental del trabajo (Thomson, Gill, & Goodson, 2020). Para el caso aquí estudiado, el grupo empresarial Bimbo, esta concepción del trabajo como medio puede ser identificado a partir de su discurso empresarial que especificamente reza “ser altamente productiva y plenamente humana” (CEO, 2020), sentencia que se establece como el “el motivo y propósito de la empresa” (CEO, 2020).
Esta alta productividad cobra legitimidad dentro del discurso oficial por medio del lenguaje religioso y humanista, de tal forma que una alta productividad es justificada porque por medio de ella se lograría: “pagar impuestos (…) alimentar lo más barato posible (…) pagar buenos sueldos (…) vender más barato (…) sirviendo a los de afuera (…) [tener] salarios completos, justos y oportunos” (CEO, 2020). Por otro lado, los bajos niveles de productividad van en contravía de hacer el bien, la poca productividad “tira recursos del mundo [y] el mundo no tiene por qué pagar” (CEO, 2020). Pese a que para algunos trabajadores el humanismo y la productividad no son cosas compatibles: “Don Lorenzo como que estamos hablando de dos cosas diferentes la productividad y ser humano” (Gerente de ventas, 2020), desde el discurso oficial se insiste en su articulación, siendo este humanismo una forma de llegar a los resultados a traves de un gobierno “blando” del trabajo: “no, uno tiene que ser firme al exigir los indicadores, pero lo tiene que hacer de un modo blando" (Lorenzo Servitje en Gerente de ventas, 2020). Es de esta manera que la alta productividad eufemizada con una cara humana de la actividad laboral se constituye desde el discurso oficial como un valor intrínseco y por lo tanto se da la posibilidad de ver un fenómeno de instrumentalización del trabajo, es decir, uno que se configura en esta meta productiva.
2.2. Autoexplotación o autoinstrumentalización
Hasta el momento se ha observado como desde el discurso empresarial el trabajo en la compañía Bimbo toma formas instrumentales al colocar como objetivo misional la alta productividad, en lo que sigue se analizarán las implicaciones que tiene para las personas esta alta productividad, es decir cómo a través de fenómenos de autoexplotación se puede hablar de la autoinstrumentalización del trabajador de Bimbo.
Partiendo de la idea de que la racionalidad instrumental plantea que debemos solamente ser eficientes (Thomson, Gill, & Goodson, 2020), se puede discutir como la ideología de la alta productividad inscrita en el discurso empresarial configura el valor del trabajador como persona, específicamente en la manera en como ella se valora a sí misma en función de sus resultados productivos (Thomson, Gill, & Goodson, 2020). Es así, que al apropiar esta ideología el trabajador cae en prácticas de autoexplotación, entendiendo esta última como una condición en la que las personas crean exigencias excesivas por sí mismas para poder cumplir con las demandas de los empleadores, mantener y mejorar su desempeño o terminar el trabajo en los tiempo establecidos (Schaurich y Perrone en Góngora, 2018), lo cual puede llevar a efectos nocivos como por ejemplo la adicción al trabajo (Fougère, 2010) (Prichard, 2002) o la compulsiva presencia en el lugar que se labora (Prichard, 2002). Lo cual, claramente lleva a que el trabajador sea un sujeto solo instrumentalmente valioso (Thomson, Gill, & Goodson, 2020). Este tipo de prácticas se hacen evidentes en las narrativas del CEO de la compañía al crear exigencias a sí mismo relacionadas con su jornada laboral, de tal manera que reconoce ciertas actitudes y hábitos en el trabajo, como por ejemplo “que se note que fui yo el que fue a trabajar y no otro (…) y cuando me fui en la noche que yo fui el que la cerré, y que no fue mi compadre y que se note que fui yo el que puso la huella digital ese día” (CEO, 2020).
2.3. Placer y trabajo: un camino a la instrumentalización
Una vez se ha analizado como desde el discurso empresarial del grupo Bimbo se da vía a la instrumentalización del trabajo y la autoinstrumentalización del trabajador, en las siguientes líneas se desarrolla la relación que existe entre el placer y el trabajo. En el pensamiento de los utopistas, especificamente en la figura de Ruth Levitas (2011), se discute la centralidad que tiene el placer en el trabajo, frente a esta relación se ha planteado la idea de ver al trabajo como una fuente de placer que aporta a la autorrealización, en la medida en que permite superar la instrumentalización (alienación) del trabajo (Levitas, 2011). El placer por el trabajo, siguiendo la metafora de Sisifo, lleva a pensar la alegria que puede producir la actividad laboral (Levitas, 2011), por ejemplo, si Sisifo gustará de rodar piedras gosaría de este sentimiento atractivo y positivo hacia el trabajo, y tumbaría aquel desencanto y vacio que la actividad productiva podría generar (Damian, 2007) cuando esta no es un fin en sí mismo. Sin embargo, que el trabajo sea una fuente de placer no necesariamente es una condición suficiente para que el trabajo y el sujeto superen la instrumentalización. Se argumenta aquí que el placer por el trabajo puede llegar a ser una forma de instrumentalización de este último y del trabajador, como se puede observar en el caso del discurso y prácticas del trabajo emprendedurista.
Al estudiar la industria creativa y artística en jovenes profesionales de clase media en el reino unido (McRobbie, 2016), se ha problematizado la relación entre el trabajo y las emociones, por ejemplo, se ha mostrado como su influencia y su gestión son parte de una nueva ciencia del management frente al gobierno del trabajo (Zangaro, 2011). Desde allí se constituye lo que es una demanda dentro del pensamiento neoliberal de carácter emprendedursista, esto es, una apego afectivo al trabajo en la figura de una trabajador apasionado (McRobbie, 2016). La demanda de esta apego afectivo en un contexto de alta productividad como lo es el caso del Grupo Bimbo. En donde como ya se ha mencionado se instrumentaliza el trabajo y el trabajador por la vía de una autoexplotación, la figura de este trabajo apasionado puede operar como una fuerza coactiva que enmascara la desilusión, el agotamiento o la desmotivación que genera la alta productividad, su lado oscuro (McRobbie, 2016). En otras palabras, se estaría hablando de una pasión por la alta productividad.
El trabajo sobre las emociones desarrollado desde el discurso empresarial y sus prácticas formativas en el grupo Bimbo, hace que estas se constituyan en un medio más que en un fin, pues el efecto motivacional generado tiene como objetivo la productividad, ya que una vez “comprado el boleto [apropiada la creencia y la pasión] de lo que vamos a hacer (…) es que van a hacer las cosas que nos toca hacer económicamente, hacer pan, distribuirlo y cobrarlo” (CEO, 2020). Estas expresiones de trabajo apasionado son expresadas por los altos directivos de la compañía, que pese a haber señalado, como se vio anteriormente, la carga pesada que puede ser esta alta productividad, señalan que “hay gente que disfrutamos eso [refiriéndose a la demanda laboral]” (CEO, 2020).
La condición emocional del trabajador al ser un medio para el objetivo productivo, es vigilada y controlada en la organización. Es así que una de las tareas de los directivos en sus interacciones cotidianas con los trabajadores es observar “el estado anímico en el que te encuentras” (Vendedor, 2020) y así, “el líder detecta (…) que algo está pasando” (Supervisora de ventas, 2020), por ejemplo, en casos como “cuando a lo mejor perdió a un ser querido o ve que ya no está rindiendo igual” (Supervisora de ventas, 2020). Para la gestión institucional de las emociones de los trabajadores, la compañía ha dispuesto un Curso de Superación Personal (CUSUPE) el cual opera de manera terapéutica para influenciar la motivación intrínseca por el trabajo y reconstruir esta satisfacción y pasión laboral. En esta operación de vigilancia, a CUSUPE “normalmente mandan a la gente más antigua” (Supervisora de ventas, 2020) ya que esta población “es aquella que ya está como aburrida, ya que nada más viene al trabajo por impulso” (Supervisora de ventas, 2020). Para el caso de la supervisora de ventas, su llegada al curso ocurrió porque “a lo mejor mi supervisor en ese momento detecto algo que estaba pasando (…) como que vio que necesitaba un giro, una motivación o encontrarme conmigo misma” (Supervisora de ventas, 2020).
Sobre este último punto, la motivación intrínseca por el trabajo y conocerse a sí mismo como sujeto en el mundo laboral, implica hacerse preguntas ontológicas sobre el trabajo, que están insertas en CUSUPE: “¿por quién trabajas? o ¿por qué trabajas realmente?” (Supervisora de ventas, 2020). Hasta cierto punto, las respuestas que el trabajador realiza frente a estas preguntas se instrumentalizan, primero porque la respuesta a esta pregunta es orientada y predefinida por la institucionalidad y segundo porque el fin es trabajar bien en un contexto de alta productividad “nosotros deberíamos responder que trabajamos por nosotros mismos, para estar bien nosotros mismos, porque si estamos bien, pues vamos a poder trabajar bien” (Supervisora de ventas, 2020).
Este trabajo sobre el autoconocimiento y el apego afectivo con el trabajo, pese a los estados emocionales de la alta productividad, se establece como en un deber ser del cual puede depender su permanencia, sin embargo, es al mismo trabajador a quién se le persuade de tomar esta decisión, pues CUSUPE permite “orientar al colaborador a decir no, Bimbo no es para mí, yo no estoy a gusto aquí, me voy a ir” (Supervisora de ventas, 2020). Se observa entonces que el conocimiento que el sujeto produce necesariamente debe revelar una sincera emoción de satisfacción laboral, condición necesaria para que él pueda continuar con su trabajo.
Se problematiza en ello la forma en cómo el placer se ha establecido como un ideal del trabajo y una forma de control y de gobierno en el orden de un proyecto de acumulación de capital como el dado en el grupo Bimbo. Esto trae como efecto cierto malestar en el trabajo en cuanto se enmascaran las emociones marginales y los estados psicológicos precarios que la ideología de la alta productividad puede generar en los trabajadores. Dado que el trabajador tiene que mostrarse como un trabajador apasionado, pues de ello depende su trabajo, su fachada (Goffman, 2001) debe lograr comunicar emociones y actitudes que hagan visible este placer, debe expresar esa configuración emocional compuesta de lo placentero y lo productivo, de ahí que el trabajador debe domesticar los gestos corporales indeseados que pudieran derivar de la demanda de alta productividad. El performance del trabajador debe ser capaz de controlar la ambigüedad del trabajo en la tensión entre el placer del trabajo y la carga y la presión que este implica, la balanza de la actuación siempre debe estar del lado del placer, allí se ubica el constreñimiento que el discurso opera sobre el cuerpo, una disciplina “humana” que demanda hacer invisibles los efectos negativos del lenguaje productivo y las condiciones laborales que este implica.
Conclusiones:
Lo expuesto hasta aquí permite concluir que no solo el placer por el trabajo es suficiente para superar su instrumentalización, la alegría y la sensación de satisfacción laboral en una empresa de acumulación de capital con una ideología de alta productividad termina siendo parte de la instrumentalización emocional del ser humano por el capital. Sísifo puede gustar de rodar piedras, pero cuando este gustó no es genuinamente voluntario sino exteriormente imputado, este placer es un agobio, Sisifo, no solo no puede decir que no gusta de rodar piedras, sino que ahora debe rodar piedras insatisfecho, con una sonrisa en su rostro, mientras el producto de su trabajo es apropiado por los Dioses que lo han condenado a trabajar de manera intensa. El placer por el trabajo debe darse en condiciones ajenas a la autoexplotación que el capitalismo actual de tipo emprendedor propone, debe garantizar condiciones de bienestar frente a este placer y no debe ser un placer que instrumentalice al ser humano únicamente por la alta productividad.
Bibliografía:
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Damian, A. (2007). El tiempo necesario para el florecimiento humano. La gran utopía. Desacatos, 125-146.
Foucault, M. (2012). Nacimiento de la biopolítica. Curso en el collége de france (1978-1979). Buenos Aires: Fondo de Cultura Ecnonómica.
Fougère, M. y. (2010). La gubernamentalidad y la clase creativa: aprovechando la bohemia, la diversidad y la libertad para la competitividad. int. J. Conceptos de gestión y filosofía, 41–59.
Goffman, E. (2001). Actuaciones. En E. Goffman, La presentación de la persona en la vida cotidiana. Buenos Aires: Amorrortu.
Góngora, I. (2018). El estado del arte de los estudios sobre la precariedad laboral en México y América Latina. Proyecto de investigación sobre los impactos de la precariedad laboral en las trayectorias de jóvenes profesionistas en Mérida, Yucatán. Ciudad de México: El Colegio de México.
Levitas, R. (2011). The concept of Utopia. Peter Lang.
McRobbie, Á. (2016). Be creative. Making a Living in the New Culture Industries. USA: Polity press.
Prichard, C. (2002). Creative Selves? Critically Reading "Creativity" in Management Discourse. Creativity and innovation Management, 265 276.
Servitje, L. (23 de 04 de 2021). InformaBTL. Obtenido de https://www.informabtl.com/10-frases-inspiradoras-lorenzo-servitje/
Thomson, Gill, & Goodson. (2020). Beyond instrumentalization. En G. &. Thomson, Happiness, Flourishing and the Good Life: A Transformative Vision for Human Well-Being (págs. 21-44). London: Routledge.
Zangaro, M. (2011). Subjetividad y trabajo: el management como dispositivo de gobierno. Trabajo y Sociedad.
Palabras clave:
Emprendedurismo, Trabajo, Discurso.
Resumen de la Ponencia:
Hemos podido observar en México, en estos años de una nueva alternancia en el gobierno, negociaciones en materia laboral con las cámaras empresariales. No sabemos realmente si el empresariado esté prefiriendo negociaciones a traves de los organismos de representación, o bien, estas se hayan dado por ser la única vía que el Ejecutivo les haya permitido. A pesar de esa incognita, nos encontramos a un actor empresarial que se moviliza no solo con la disposición de oponer resistencia ante las propuestas gubernamentales, sino que también busca influir en la configuración de las grandes políticas laborales y económicas del país. Ante ello, nos encontramos con un sujeto social, no solo con intereses económicos sino también con interéses politicos e ideológicos los cuales vemos acentuados en presencia de un gobierno con el que han tenido constantes fricciones.Ante los numerosos cambios que se han presentado en el contexto mundial como la pandemia, recesión económica, sumados al panorama nacional de nueva alternancia partidista en el poder y la llegada de un presidente presuntamente de izquierda, en el sector empresarial esto se ha traducido en una mayor incertidumbre y tensión. Por una parte observamos el enfrentamiento de un sector del empresariado con el presidente en torno a la política laboral y sus reformas lo que se ha manifestado en una lucha sobre quién es el que detenta el poder no solo económico, sino político y social, es decir, existe una pugna por ser Estado y por legitimar quién lo es y quién logra esa hegemonía.El actual presidente ha tomado una política de enfrentamiento con un sector de los empresarios y con otros de negociación, pero al mismo tiempo ha tratado de revivir una vieja forma de relación del Estado con los empresarios a través de las cámaras y sindicatos empresariales. Como lo hemos mencionado, se busca revivir una forma de Estado corporativo.Estos elementos nos permiten plantearnos el siguiente problema:Nos interesa explicar la relación del Estado (a través de la figura del presidente) con el sector empresarial, con el que se está dando una lucha por ostentarse como Estado y poder hegemónico. Además ¿es posible hablar de un nuevo corporativismo de Estado en relación con los empresarios y sus cámaras de representación y sindicatos obreros, o han surgido nuevas formas de representación empresarial por medio de ONGs o asociaciones civiles? En particular, nos interesa reconstruir y explicar el proceso de negociación y enfrentamiento en torno a las reformas laborales ¿cuál ha sido el papel de los empresarios representados por sus cámaras, de los sindicatos obreros y el Estado, no solo en la figura de la Secretaría del Trabajo, sino, en relación directa con la presidencia?Resumen de la Ponencia:
A reforma trabalhista em andamento no Brasil, que teve seu segundo grande ato consubstanciado na Lei de Terceirização, n. 13.429, de 31 de março, e Lei n. 13.467, de 13 de julho, como não poderia deixar de ser, é levada a cabo sob o prisma ideológico da defesa da liberdade de ação dos indivíduos na sociedade. Sob o argumento de elevar as relações de emprego e de trabalho à modernidade, flexibilizam-se normas e amplia-se a discricionaridade do capital em relação ao trabalho, refletindo, em parte, o que Dunlop, ancorado no sistema parsoniano, denominou de contexto da divisão de poder entre os atores, influenciados por determinada ideologia; ou espelhando, em grande medida, interesses resultantes do embate próprio do conflito de classes, análise levada a cabo por Hyman. Com base nas abordagens destes autores, a pesquisa discutiu a influência dos fundamentos da teoria social da utilidade na construção recente do conceito de “empreendedorismo” como um dos elementos primordiais na mola propulsora da reforma trabalhista, apresentando seu conteúdo e seu caráter ideológico, quando associados à defesa das vontades individuais como promotoras do bem estar social. Contrariando o argumento ideológico de que o empreendedorismo conduz à autonomia econômica do indivíduo no longo prazo, pesquisas com séries históricas demonstram que em momentos de crises econômicas no Brasil cresce a busca por trabalhos por conta própria, movimento que se reverte pela ampliação relativa da procura por emprego assalariado em períodos de crescimento pós-crise. O artigo termina demonstrando, através de dados referentes ao período estudado (2016-2022), relações entre aspectos ideológicos observados na pesquisa e o quadro de precariedade que assola o mundo do trabalho no Brasil, caracterizado pelas altas taxas de desemprego; pelo crescimento desenfreado da precarização das atividades laborais, mesmo aquelas disfarçadas, denominadas, em grande parte, de trabalho por conta própria, prestador de serviço, “pejota”, ou, empreendedor; queda da participação dos salários na renda nacional; redução da atividade sindical; ampliação das desigualdades sociais e da informalidade. Os resultados dos trabalhos evidenciaram que a pandemia do Covid-19 potencializou os efeitos danosos do movimento forçado, que levou parte dos trabalhadores, sem opção, a buscar o trabalho por saídas associadas ao empreendedorismo, como revelam o crescimento das atividades de entrega, de higiene e limpeza, de cabeleireiros, “uberizados” em geral. Estes foram mais afetados pelos efeitos da pandemia, dadas as dificuldades de isolamento social e de acesso à rede de saúde privada e pública, sua vulnerabilidade e maior exposição, maiores riscos de contágio, de adoecimento e de morte etc. Os dados foram obtidos a partir de fontes secundárias, como a PNAD/IBGE, a RAIS, o DIEESE e de pesquisas associadas a casos e realidades específicos.Resumen de la Ponencia:
El Programa Nacional de Rescate y Acompañamiento a Personas Damnificadas por el Delito de Trata de Personas (PNR) fue radicado en la Secretaría de Justicia del Ministerio de Justicia y Derechos Humanos de la Nación e instrumentado con el objeto de acompañar con profesionales del derecho, psicólogas y trabajadoras sociales a las víctimas, cualquiera sea el tipo de explotación a que fueran sometidas las mismas, desde el momento de la intervención ordenada por la Justicia y la PROTEX en el ámbito del Ministerio Público Fiscal (MPF). Las intervenciones que se ponen en dialogo en este escrito están orientadas a dirimir y analizar críticamente los procesos institucionales de trabajo del PNR orientados a mujeres damnificadas por el delito de trata con fines de explotación sexual.Como ya se señaló el PNR tiene por objeto producir intervenciones sobre el delito de trata de personas y los sujetos hacia los cuales se orientan son las personas damnificadas. Es un interrogante si sus acciones representan un hiato en el continuum del proceso de producción de la víctima o aportan a su reproducción como tales por otros medios. Ello no es fácil de responder y mucho menos en clave asertiva, ni como afirmación ni en su contrario. Con el objetivo de acercarse mínimamente a una primera resolución de este interrogante se intentará en primer lugar comprender y analizar críticamente los procesos de trabajo que operan en el PNR.En una segunda instancia se avanza en el análisis de esta institucionalidad de la política pública que se constituye como un dispositivo de saber-poder en el cual se entraman tanto prácticas discursivas como no-discursivas. Se toman como ejes de análisis de esta lógica, poder, subjetividad y alienación. En este contexto se ha observado una contrariedad entre las acciones orientadas a operar la subjetivación como sujeto de derecho de las personas damnificadas del delito y al mismo tiempo que estas mujeres logren presentarse ante el estrado judicial como una subjetividad pasiva y tomada objetivamente en su totalidad por las circunstancias del delito, que es lo que requiere el procedimiento penal: una “buena víctima”.Finalmente y en tercer lugar las intervenciones de las profesionales del PNR ponen en juego como obstáculo un doble proceso de enajenación en las personas damnificadas. El primero de ellos - macrosocial - es la ausencia de condiciones materiales objetivas (Políticas públicas) que garanticen el acceso a los derechos económicos, sociales y culturales y el segundo - microsocial - es la reducción de la producción de subjetividades a cuerpos - mercancías por parte del mercado prostibulario, lo que se observa en la falta de reconocimiento de la víctimas como tales.Resumen de la Ponencia:
A invisibilidade do trabalho doméstico remunerado, ou emprego doméstico, é historicamente conferida através da dominação de gênero no mundo do trabalho, desvalorizado por sua relação com o caráter reprodutivo, do cuidado. A escravidão e o emprego doméstico remunerado, no Brasil, estão fortemente associados, de modo que o elemento histórico da dominação de raça da época escravista molda as relações de trabalho doméstico remunerado até o presente. As trabalhadoras domésticas representam pouco mais de 6 milhões de pessoas no Brasil. Desse total, 5,7 milhões são mulheres e 3,9 milhões se declararam mulheres negras (IPEA, 2019). A vulnerabilidade que as trabalhadoras dessa categoria vivem se revela na falta de proteção social, mesmo após a regulamentação da profissão no país. Dados do primeiro trimestre da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2020 mostram que somente 28% das trabalhadoras domésticas do país possuíam postos de trabalho com carteira assinada (IPEA, 2020). O trabalho doméstico foi a segunda atividade mais impactada com a pandemia, como mostra a PNAD Contínua divulgada em janeiro de 2021. Ao total, foram 1,5 milhões de postos perdidos no último trimestre móvel analisado do ano passado. Para não perderem seus empregos, muitas trabalhadoras aceitaram cumprir o isolamento social na casa de seus empregadores. É válido ressaltar os abusos, assédios morais e sexuais a que essas trabalhadoras estão sujeitas sob essas condições, além das jornadas exaustivas e mal remuneradas. A pandemia, portanto, tornou visíveis as principais tensões da reprodução social, pondo em questão o trabalho essencial para a reprodução da vida e como este se mantém sistematicamente subvalorizado. Desde 2015, o Brasil tem adotado políticas ortodoxas de corte de gastos, principalmente relacionadas à ajustes fiscais. A partir de 2016, foram aprovadas algumas reformas neoliberais, como a Lei do teto de gastos (Emenda Constitucional nº 95), defendidas como as soluções para a recuperação do crescimento econômico. Este estudo argumenta que não há neutralidade nas decisões de políticas públicas do Estado, pois este participa, através das suas políticas macroeconômicas, na determinação da condição social e na manutenção das desigualdades sociais, inclusive as de raça e gênero. Políticas que estabelecem privilégios para grupos sociais dominantes em detrimento de outros mais vulneráveis refletem o racismo enraizado nas estruturas socioeconômicas ao promovem mais desigualdade. Desta forma, é necessário entender qual parcela da população sai ganhando com as políticas de austeridade e quem ganha com uma política fiscal que garanta a proteção da população mais pobre, como foi o Auxílio Emergencial na crise pandêmica. Isto posto, busca-se entender os impactos da pandemia para as trabalhadoras domésticas e como a tendência neoliberal da austeridade conserva as condições da precarização e invisibilidade, especialmente dessas trabalhadoras, no contexto pós-pandêmico.