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Resumen de la Ponencia:
O objetivo do presente trabalho é demonstrar como se associam algumas recomendações de Nicolau Maquiavel a Lorenzo de Médici em “O Príncipe” em relação às produções sociológicas de Norbert Elias e Erving Goffman, pensando o poder político como um emaranhado de emoções, atravessadas de disputas, intrigas, jogos sociais e aparências. No primeiro momento, relacionaremos as emoções do poder político em “O Príncipe” com a sociologia de Norbert Elias, sabendo-se que essa obra se configura em um manual típico do processo civilizador, no qual a palavra “deveis” ordena as questões que se referem ao controle das emoções, associada à unificação e centralização do Estado, tendo como o principal objetivo a manutenção do poder do príncipe, amado e venerado pelos súditos. O príncipe em Maquiavel controla suas ações e desconfia dos seus súditos, observando e vigiando as condutas, lendo os jogos de poder e calculando as boas e más ações que fará no seu reino para obter as emoções de medo e amor por parte dos súditos em relação à sua pessoa. Na segunda parte do trabalho, dialogaremos com a obra de Erving Goffman no que diz respeito à manutenção das fachadas, a expressividade dos atores, a impressão que eles tentam causar em relação aos outros, as formas de manipulação da impressão através da postura corporal e emocional com a obra “O Príncipe”. Nela, Maquiavel sustenta que não necessariamente há a correspondência entre o que os príncipes (agentes) são com o que aparentam ser (fachada). Sua imagem ou fachada leva em consideração as expectativas que os súditos possuem em relação ao seu personagem, evitando-se que ele seja desprezado e odiado e empenhando-se em ser reconhecido pela ponderação, grandeza e energia. Tal manipulação de impressão é possível através do controle das emoções e ações do príncipe e seus cálculos estabelecidos nos jogos rituais, que permitam que ele seja amado e temido pelos seus súditos. Para a análise das emoções do poder político em O Príncipe, a literatura sociológica utilizada corresponde à obra “O Processo Civilizador”, de Norbert Elias, juntamente com “A Representação do eu na vida cotidiana" e “Ritual de interação: Ensaios sobre o comportamento face a face”, ambos de autoria de Erving Goffman.
Introducción:
Neste trabalho, pretende-se demonstrar como se associam algumas recomendações de Nicolau Maquiavel a Lorenzo de Médici em O Príncipe (1513) em relação às produções sociológicas de Norbert Elias e Erving Goffman, pensando o poder político como um emaranhado de emoções, atravessadas de disputas, intrigas, jogos sociais e aparências.
O poder para Norbert Elias é relacional, envolvido por múltiplas lutas entre agentes e grupos em relações de força, prestígio e legitimidade, nas quais ocorrem regulações de conduta, de pulsões e emoções. Tal concepção de poder é resultado de uma análise do longo processo civilizador nas sociedades ocidentais, realizado nas suas obras sobre sociologia histórica.
Por sua vez, o poder não foi um objeto de atenção exclusiva feita pela sociologia de Erving Goffman, interessado em outras questões que envolvem a interação social, a representação que o indivíduo exerce na vida cotidiana em relação aos demais membros da sociedade, a regulação das ações e afetos feitas pelos indivíduos levando em consideração as expectativas que os outros possuem em relação ao que ele apresenta de imagem (fachadas, máscaras), as técnicas de manipulação da identidade pessoal que os indivíduos desenvolvem tendo em vista a leitura que os outros irão fazer de si mesmo, as suas auto-imagens, intenções e propósitos desenvolvidas nas diversas interações sociais. Assim, entendemos o poder como parte integrante das interações sociais nas quais as mesmas dinâmicas apresentadas por Goffman se aplicam nas relações entre os indivíduos e a sociedade.
Na obra “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel, o poder é apresentado na teia de relações humanas, que envolvem emoções e sentimentos bons e maus, distinguindo-se de obras que tratam o poder em relação a características sagradas ou religiosas. A natureza do homem é perversa segundo Maquiavel, e isto refletirá nas relações políticas. Pretendemos analisar as ideias Maquiavel sob a ótica da Sociologia das Emoções, tendo como base as obras de Norbert Elias e Erving Goffman.
Desarrollo:
As emoções do poder político em “O Príncipe” relacionadas à obra de Norbert Elias
Publicado em 1513, “O Príncipe” é o “primeiro manual clássico sobre a política na corte absolutista” (ELIAS, 1994, p.290), no qual Maquiavel aconselha Lorenzo de Médici sobre como ele deve proceder politicamente, regulando suas condutas para ser bem-sucedido (ou seja, manter-se no poder e garantir a unidade do território como objetivo a ser alcançado). É uma obra do século XVI que justifica a “razão de Estado” do absolutismo em ascensão, parte de um conjunto de manuais aristocráticos que ditam aos membros da corte “as necessidades práticas da vida social”, nos quais o “deveis” é uma expressão recorrente (ELIAS, 1994, p.291). Os modos de conduta recomendados são associados à regulação e ao controle das emoções. Com a complexificação das sociedades produzida pelo longo processo civilizador, “o aparato sociogênico de autocontrole individual torna-se também mais diferenciado, complexo e estável” (ELIAS, 1994, p.197). Tal autocontrole está relacionado à monopolização da força física, à centralização e à estabilização da sociedade.
Esses pontos são cruciais para Nicolau Maquiavel, para quem a unificação e centralização do Estado são os objetivos principais a serem alcançados pelo príncipe e necessidades sociais, sendo os meios para alcançá-los envolvidos nas relações mundanas, podendo o príncipe praticar más ações e crueldades justificadas pelo fim último de seu reinado (a centralização e unificação do Estado). Elias (1994, p.292) observa que os manuais de corte do período recomendavam condutas consideradas amorais pelos observadores burgueses, tendo a religião um papel diminuído em tal processo. Em diversas passagens de “O Príncipe” a mesma lógica se confirma. Em uma delas, Maquiavel aconselha Lorenzo de Médici a remeter-se ao exemplo bem-sucedido de Agatóceles Siciliano, que tornou-se rei de Siracusa no período da Antiguidade Clássica. Em uma manhã, reuniu o povo e o Senado em praça pública para deliberação de assuntos pertinentes à República romana e deu sinal para os seus soldados assassinarem “todos os senadores e as pessoas mais ricas do povo” (MAQUIAVEL, 2008, p.38). Depois de tal carnificina, manteve seu principado sem controvérsias civis, garantiu seu povo em relativa segurança, defendeu-se de inimigos externos e seus súditos não conspiraram contra ele. Maquiavel denomina suas ações de crueldades bem-empregadas, pois foram úteis aos súditos e à manutenção de seu principado. Quando um príncipe toma um estado, deve examinar as ofensas que precisa fazer e perpetuá-las tendo como objetivo a manutenção de seu poder, mesmo que para isto tenha que praticar crueldades, desumanidades, malvadezas e traições, não havendo lugar para a fé, a piedade e a religião.
Norbert Elias relaciona a formação do Estado moderno como uma etapa do processo civilizador. Na medida em que as sociedades contam com estados que monopolizam e estabilizam a força física, o “comportamento e a constituição afetiva das pessoas mudam” (ELIAS, 1994, p.198), sendo os mesmos protegidos contra os ataques súbitos exteriores e violências físicas contra a sua própria vida, forçando-se também a reprimir em si impulsos emocionais para atacar fisicamente outras pessoas. As cadeias de ações que ligam os indivíduos uns aos outros está interligada com a complexificação da divisão de funções e dependência mútua que os apertam em teias de interdependências mútuas.
A obra “O Príncipe” também remete às emoções que interligam os membros da corte com a estabilização da sociedade proporcionada pelo desenvolvimento do aparelho estatal. Maquiavel refere-se aos sentimentos que os súditos alimentam em relação aos seus príncipes depois que os mesmos garantem para eles a segurança e os livram de perigos internos (aniquilando aqueles poderosos que possuem inveja das qualidades do príncipe) e externos (garantindo a estabilidade do Estado), passando o príncipe a ser venerado pelo povo, possuindo também poder, segurança, honra e felicidade (MAQUIAVEL, 2008, p.26).
Elias defende a ideia de que ocorre uma mudança civilizadora no comportamento dos indivíduos no processo de formação e consolidação do Estado, ocorrendo a “moderação de emoções espontâneas, o controle dos sentimentos, a ampliação do espaço mental” (ELIAS, 1994, p.198) no qual os indivíduos levam em conta além do presente, o passado e o futuro, ligando os fatos em cadeias de causa e efeito. As passagens em que Maquiavel argumenta que o príncipe deve avaliar quais ações deve fazer, mobilizando meios para atingir fins vão ao encontro desta ideia sustentada por Elias.
Há uma mudança no aparato psicogênico e sociogênico dos príncipes e dos súditos com a monopolização da força física proporcionada pelo aparato estatal. Elias defende que antes do Estado, a violência era uma ocorrência recorrente e inescapável, sendo as cadeias de dependência entre os indivíduos de baixa extensão e a moderação das pulsões e afetos desnecessários, visto que a violência extrema, o ódio na destruição dos hostis e a paixão sem limites faziam parte da personalidade dos cavaleiros nobres. Com a monopolização da força física e a concentração de armamentos e exércitos sob o mando de uma única autoridade, “a ameaça física ao indivíduo lentamente se despersonaliza” (ELIAS, 1994, p.199). Maquiavel, observando a política do seu tempo (correspondente a uma fase do processo civilizador de formação e consolidação do Estado moderno), também defende a utilização de exércitos fortes e coesos sob a autoridade do príncipe, vital para a manutenção da unidade estatal pois, sem armas próprias, nenhum principado estará seguro. Tal exército não deverá ser composto por capitães mercenários, sendo os mesmos não-confiáveis, ambiciosos, opressores e desobedientes ante ao príncipe. O exército, nesse sentido, deve ser domado pelo príncipe, tendo como consequência o abrandamento das emoções.
Conforme o já mencionado, “O Príncipe” faz parte de uma série de manuais produzidos ao longo do processo civilizador, no qual a palavra deveis é recorrente, demonstrando a modelação das pulsões, sentimentos e formas de conduta. O príncipe Lorenzo de Médici deveria conhecer os segredos da boa conduta e boa direção do Estado, e Maquiavel propõe-se a ensiná-lo ao longo de 26 capítulos. No capítulo 3, “Dos principados mistos”, Maquiavel argumenta que cada vez em que acontece uma mudança de poder, o príncipe deve desconfiar dos poderosos que se beneficiavam do principado antigo, tomando os poderosos como inimigos. O novo príncipe só vencerá as dificuldades iniciais com virtù, fortuna e força próprias, sem depender dos demais, aniquilando todos aqueles que possuem inveja de suas qualidades. Percebemos que o príncipe deve regular sua conduta para ser bem-sucedido, observando a conduta de quem o cerca, lendo os jogos de poder explícitos e implícitos, admitindo que os homens agem por emoções e sentimentos como a ambição, a inveja, a desconfiança, a manipulação, entre outras. Para se manter no poder, o príncipe deve se situar no jogo da corte e agir como uma raposa ante às armadilhas e um leão para amedrontar os lobos (MAQUIAVEL, 2008, p.84). Neste momento em que ocorre uma intensificação das teias de interdependência que ligam o rei em relação à nobreza, no qual a espada foi substituída pela intriga e pelos conflitos, através da pressão, do controle e da força que as pessoas passaram a exercer umas sobre as outras (ELIAS, 1994, p.225).
O sucesso social do indivíduo de corte na etapa do processo civilizador que corresponde à formação do Estado depende da reflexão contínua, da capacidade de previsão e cálculo, do autocontrole, da regulação das próprias emoções e do conhecimento do terreno onde as ações se desenrolam (ELIAS, 1994, p.226). Em Maquiavel, o príncipe calcula as suas ações boas e más, conhecendo as redes de ações e a natureza dos homens, estabelecendo uma expectativa dos sentimentos que os súditos possuem em relação à sua pessoa. É recomendável que o príncipe realize ações que o façam temível ante aos homens, que terão medo de sua autoridade e dificilmente o ofenderão, ao contrário de realizar práticas que o faça ser amado pelos súditos, que possivelmente irão ofender ao príncipe ante à natureza perversa dos homens e mais facilmente romperão o vínculo de amor e reconhecimento entre ambas partes (MAQUIAVEL, 2008, p.80).
As emoções do poder político em “O Príncipe” relacionadas à obra de Erving Goffman
A conduta do príncipe é definida em relação ao que as outras pessoas enxergarão a respeito dele e às expectativas que as mesmas possuem em relação ao príncipe. Nesse sentido, a obra de Erving Goffman nos convida a uma reflexão sobre a imagem e as ações que as pessoas exercem na vida cotidiana. Na vida de corte, as relações sociais se dão a partir da vigilância, do atendimento de expectativas e da manutenção das fachadas que as pessoas atribuem a si em relação aos demais membros da sociedade. O indivíduo age expressando a si mesmo, e os outros terão de ser impressionados por ele (GOFFMAN, 2004, p.12), ou seja, terão de acreditar no personagem que o mesmo representa, reconhecendo nele os atributos que o mesmo aparenta possuir, percebendo que “as coisas são o que parecem ser” (GOFFMAN, 2004, p.25). Para Maquiavel, o príncipe deve manter as aparências ante aos súditos, mas o mesmo deve saber separar o mundo real (como se vive) do mundo ideal (como se deveria viver), tendo em vista que o idealismo e a bondade podem levá-lo à ruína, dado que as pessoas que cercam o príncipe não serem boas. É necessário não ser bom em várias ocasiões, desde que erga seu principado dando-lhe estabilidade e segurança. Tendo como fim este objetivo, o príncipe pode e deve ser cruel. No entanto, não é desejável que o príncipe transmita a imagem de impiedoso e mal para os seus súditos, e precisa manter uma fachada, o “equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou inconscientemente empregado pelo indivíduo durante sua representação” (GOFFMAN, 2004, p.29). O príncipe precisa representar com sucesso um personagem, utilizando-se de técnicas de manipulação da impressão ante aos expectadores, que também controlam sua representação. A fachada construída pelo príncipe refere-se ao fato de que mesmo que ele seja cruel, deve passar a imagem de piedoso aos seus súditos. A aparência e a arte de manipulação da impressão em relação são aos súditos são mais importantes do que as características, qualidades e defeitos que o príncipe possui de fato. Ele deve parecer clemente, fiel, humano, íntegro e religioso, mas suas ações reais exigirão que muitas vezes aja contra a fé, a caridade, a humanidade e a religião, sabendo entrar no mal, se necessário.
Segundo Goffman, as instituições ficam comprometidas toda vez que o indivíduo representa o seu papel, pois as formas de legitimidade das mesmas são postas à prova, bem como sua reputação, cabendo ao indivíduo não desapontar as unidades sociais envolvidas na interação (GOFFMAN, 2004, p.223). O príncipe, enquanto encarnação do próprio Estado, deve representar aos súditos um papel de possuidor de qualidades relacionadas ao bem e principalmente à religião, porque geralmente os homens julgam as coisas pelos olhos (aparência), pois “todos vêem aquilo que pareces, mas poucos sentem o que és, e estes poucos não ousam opor-se à opinião da maioria, que tem, para defendê-la, a majestade do estado (...) porque o vulgo está sempre voltado para as aparências (...)” (MAQUIAVEL, 2008, p.85-86). Maquiavel cita um príncipe que prega idealmente a paz e a lealdade sendo inimigo de ambas na prática real, pois se agisse conforme ambas, não teria a reputação e o Estado sob o seu comando. Goffman reflete sobre a representação do indivíduo como ator “um atormentado fabricante de impressões envolvido na tarefa demasiado humana de encenar uma representação (GOFFMAN, 2004, p.230-231) e a representação do indivíduo como personagem “tipicamente uma figura admirável, cujo espírito, força e outras excelentes qualidades a representação tinha por finalidade evocar” (GOFFMAN, 2004, p.231). Nesse sentido, o príncipe representaria principalmente um personagem, pois necessita transmitir boas impressões aos súditos, evocando suas qualidades aparentes, não permitindo que sua fachada fosse quebrada pelos poucos que conseguem sentir e saber que as aparências das coisas não correspondem à essência e à realidade das coisas, e por práticas suas que sejam incompatíveis com a sua fachada. Como a manutenção da fachada em Goffman é relacional, os súditos terão a expectativa de que o príncipe atue de acordo com a fachada que ele os apresenta. Para manter a fachada, é necessária a demonstração de respeito próprio, postura corporal e emocional, dignidade, etc (GOFFMAN, 2012, p.18). Para Maquiavel, o príncipe deve evitar as coisas que o tornam odioso e desprezível, como ser usurpador das coisas e das mulheres dos súditos e apresentar-se como “inconstante, leviano, efeminado, pusilânime e irresoluto” (MAQUIAVEL, 2008, p,87). A fachada social é um empréstimo da sociedade à pessoa, se ela não se comportar de uma forma digna dela, a mesma será retirada desta pessoa. Para Goffman (2012, p.18) “esperamos que um membro de qualquer grupo tenha respeito próprio, (...) que ele mantenha um padrão de consideração, (...) que ele realize certos esforços para resguardar os sentimentos e a fachada dos outros presentes”. O príncipe deve empenhar-se para que suas ações sejam reconhecidas com grandeza, ânimo, ponderação e energia, firmando suas decisões como irrevogáveis e mantendo suas decisões (MAQUIAVEL, 2008, p.87). Um príncipe é um representante de uma instituição (o Estado) que deve zelar pela manutenção de sua fachada e controlar suas emoções e ações, mantendo respeito próprio e correspondendo às expectativas dos demais envolvidos na representação em relação à sua pessoa. Caso o príncipe demonstre um comportamento incompatível com as expectativas que a sociedade espera dele, sua fachada desmoronará, bem como as dos seus súditos, que só o amarão se o mesmo agir de forma adequada.
Erving Goffman também enfatiza que as nossas emoções funcionam como jogadas e se encaixam em um jogo ritual, “que lida honrada ou desonradamente, diplomaticamente ou não, com as contingências dos juízos na situação” (GOFFMAN, 2012, p.37). Paralelamente à discussão sobre O Príncipe e suas emoções, percebemos que ele está emaranhado em um jogo ritual, no qual o nobre age de acordo com as expectativas que os súditos possuem dele, ponderando sempre os seus pensamentos e ações na relação com outros poderosos em um jogo social em que não cometa excessos de confiança ou desconfiança. Para Maquiavel, o ideal a ser alcançado pela imagem do príncipe é ser amado e temido pelos seus súditos. No entanto, se o mesmo não conseguir combinar tais características, é melhor ser temido do que amado. Em muitas situações, o príncipe necessita agir sem honra, amor e diplomacia, visto que os homens são “ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar (...)” (MAQUIAVEL, 2008, p.80). O príncipe necessita, portanto, de calcular as jogadas e ações que precisa fazer, tendo em vista às expectativas dos demais, vistos ora com confiança, ora com desconfiança, principalmente esta última, dada à natureza perversa dos seres humanos para Nicolau Maquiavel.
Conclusiones:
Neste trabalho, relacionamos as emoções do poder político em “O Príncipe” com a sociologia de Norbert Elias, sabendo-se que essa obra se configura em um manual típico do processo civilizador, no qual a palavra “deveis” ordena as questões que se referem ao controle das emoções, associada à unificação e centralização do Estado, tendo como o principal objetivo a manutenção do poder do príncipe, amado e venerado pelos súditos. O príncipe em Maquiavel controla suas ações e desconfia dos seus súditos, observando e vigiando as condutas, lendo os jogos de poder e calculando as boas e más ações que fará no seu reino para obter as emoções de medo e amor por parte dos súditos em relação à sua pessoa.
Também analisamos a obra de Erving Goffman no que diz respeito à manutenção das fachadas, a expressividade dos atores, a impressão que eles tentam causar em relação aos outros, as formas de manipulação da impressão através da postura corporal e emocional. Esses pontos da teoria sociológica das fachadas relacionam-se diretamente com a obra “O Príncipe”. Nela, Maquiavel sustenta que não necessariamente há a correspondência entre o que os príncipes (agentes) são com o que aparentam ser (fachada). Sua imagem ou fachada leva em consideração as expectativas que os súditos possuem em relação ao seu personagem, evitando-se que ele seja desprezado e odiado e empenhando-se em ser reconhecido pela ponderação, grandeza e energia. Tal manipulação de impressão é possível através do controle das emoções e ações do príncipe e seus cálculos estabelecidos nos jogos rituais, que permitam que ele seja amado e temido pelos seus súditos.
Bibliografía:
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Volume 2: Formação do Estado e Civilização. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
GOFFMAN, Erving. A Representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 2004.
GOFFMAN, Erving. Ritual de interação: Ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis: Vozes, 2012.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
Palabras clave:
Emoções; Poder Político; Nicolau Maquiavel; Erving Goffman; O Príncipe.